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Estado de Minas

Um Rio mais que revolucion�rio

Se S�o Paulo fervia com a Semana de Arte Moderna, novo livro de Ruy Castro mostra a ent�o capital federal rica em personagens futuristas nos anos 1920


postado em 09/12/2019 04:00 / atualizado em 07/12/2019 18:41

O Rio futurista recebeu a Exposição do Centenário da Independência(foto: Fotos: Companhia das Letras/reprodução)
O Rio futurista recebeu a Exposi��o do Centen�rio da Independ�ncia (foto: Fotos: Companhia das Letras/reprodu��o)
Autor de O Anjo Pornogr�fico: a vida de Nelson Rodrigues (1992), Estrela solit�ria – Um brasileiro chamado Garrincha (1995) e Carmen – Uma biografia (2005), Ruy Castro � autoridade quando se trata de biografar grandes personalidades. Ele compara o of�cio � anatomia humana. “Uma pessoa tem uma trajet�ria. � como a coluna vertebral. A�, voc� vai encaixando as costelas e, no final, voc� ressuscitou a pessoa”, compara. Para o escritor e jornalista, esse trabalho, embora �rduo, � mais f�cil quando centrado em apenas um indiv�duo, diferentemente do que ocorre em Metr�pole � beira-mar: o Rio moderno dos anos 20, seu mais recente lan�amento pela Companhia das Letras, que ele n�o teme em colocar exatamente na prateleira de cima: “O melhor livro que eu fiz”.

Assim como em Chega de saudade: a hist�ria e as hist�rias da Bossa Nova (1992), outro t�tulo de sua respeit�vel bibliografia, o recorte � mais amplo e personagens importantes aparecem �s dezenas. “Nesse caso agora � diferente. Reconstru� uma cidade, uma cidade que n�o existe mais. Bairro a bairro, rua a rua, lugar por lugar, foi povoada e protagonizada por 40 ou 50 personagens principais. Sendo que, quando voc� come�a um trabalho, voc� n�o sabe como ainda vai ser, do que voc� vai tratar”, explica Ruy Castro.

Para concluir essa “reconstru��o” do Rio de Janeiro da d�cada de 1920, ainda capital federal, foram quatro anos de intensa pesquisa. “Pela dimens�o do universo retratado, n�o sei se terei g�s para outro trabalho como esse. Tempo eu sei que eu vou ter, mas n�o vou ter g�s”, confessou ele ao participar do projeto Sempre um Papo, em BH, ma semana passada.
Nos anos 1920, o ilustrador J. Carlos já saudava o protagonismo feminino
Nos anos 1920, o ilustrador J. Carlos j� saudava o protagonismo feminino

Tamanho esfor�o produtivo se justifica pela pujan�a hist�rica do tema, anunciada na pr�pria contracapa: “O que aconteceu no Rio entre o carnaval de 1919 e a Revolu��o de 30? Tudo”. O cen�rio de m�ltiplas e marcantes transforma��es sociais e culturais rendeu ainda mais descobertas e possibilidades nas m�os de um pesquisador obsessivo pela informa��o, como � Ruy Castro, descrito assim por sua pr�pria mulher, Helo�sa Seixas, que tamb�m veio a BH divulgar o livro de contos A noite dos olhos (Companhia das Letras).
Capa vanguardista de livro de Alvaro Moreyra
Capa vanguardista de livro de Alvaro Moreyra

Partindo do Rio de Janeiro assolado pela Gripe Espanhola em 1918, logo ap�s o fim da Primeira Guerra Mundial, mas que mesmo assim teria um efervescente carnaval no ano seguinte, ele conta sobre a vida na capital da jovem rep�blica brasileira, que em 1920 tinha 1,147 milh�o de habitantes. Sede de v�rias embaixadas e, consequentemente, de seus corpos diplom�ticos, a sociedade local entrava em contato com ideias progressistas vindas da Europa. Isso estabeleceu o caminho para intensas mudan�as daquela metr�pole � beira-mar.

Da moderniza��o das estruturas urbanas �s novidades no poder ali centralizado, a narrativa aborda fortemente temas e acontecimentos ligados � literatura, m�sica, arquitetura, arte e movimentos pol�ticos e sociais, incluindo a luta das mulheres por direitos e a prolifera��o de ideias anarquistas. Sobretudo, Ruy Castro destaca o cen�rio vanguardista que predominava na cidade, muitas vezes negligenciado em fun��o da exalta��o � Semana de Arte Moderna paulista. Para ele, a capital fluminense sempre esteve � frente nesse sentido. “N�o quero estabelecer um campeonato de modernismo entre Rio e S�o Paulo, at� porque seria covardia. O que fiz foi apresentar a realidade que estava sepultada, ou que n�o se imaginava, de que no Rio tinha essa quantidade de gente fazendo coisas inaugurais”, ressalta.

No texto, “essa gente” tem nome e sobrenome. A extensa lista de personagens principais do livro de Castro, em sua reconstru��o do Rio dos anos 1920, inclui Agrippino Grieco, Alvaro Moreyra, Carmen Miranda, Cecilia Meireles, Di Cavalcanti, Eugenia Alvaro Moreyra, Jo�o do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Pixinguinha, Roquette Pinto e Villa-Lobos.

“Fico espantado quando vejo isso, mas acho bom que as pessoas t�o preocupadas com M�rio de Andrade e Oswald de Andrade deixaram essa coisa para mim. Quanto mais mergulhava na hist�ria, mais me encantava com Villa-Lobos, Sinh�, Pixinguinha”, comenta o autor.
Com sua reconhecida dedica��o e capacidade como bi�grafo, ele reconstitui a trajet�ria dos personagens que protagonizaram as moderniza��es descritas no livro. Ele destaca “os ataques que Jo�o do Rio sofria por ser gordo, homossexual e mulato. Era atacado da maneira mais absurda e cruel, por escrito ou na rua, e nunca escreveu uma palavra contra algu�m que o atacou”. Ou, ainda, “o drama de Lima Barreto, que as pessoas tratam de maneira rom�ntica, como bo�mio, mas era um homem doente, um alco�latra em �ltimo est�gio. Vivia imundo pelas ruas e, por ter um temperamento terr�vel, tinha um problema brutal com o mundo e consigo pr�prio. Ele n�o consegue ter aceita��o pessoal, embora seja reconhecido com grande escritor”.

Ruy descreve como a obra consegue ser intimista ao falar de uma cidade inteira. “Voc� entra em detalhes do que um personagem estava fazendo e logo depois h� uma multid�o em volta”, aponta. Esse mineiro de Caratinga � especialista em Rio de Janeiro, onde passou a maior parte da vida. Para ele, a Cidade Maravilhosa ainda guarda pontos em comum com aquela de 100 anos atr�s.

“O tipo de composi��o social continua igual. Mistura do culto com a baixa cultura, da elite cultural que se alimenta da cultura popular e vice-versa, uma coisa de contr�rios e um cosmopolitismo que faz parte do Rio e sempre far�. As pessoas s�o absorvidas e se tornam cariocas, e a cidade se retroalimenta de diferentes culturas que v�o morar l�. Isso n�o mudou”, garante Ruy Castro.
(foto: Companhia das Letras/reprodução)
(foto: Companhia das Letras/reprodu��o)

METR�POLE � BEIRA-MAR: 
O RIO MODERNO DOS ANOS 20
De Ruy Castro
Companhia das Letras
528 p�ginas
R$ 79,90




















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