Livro conta hist�ria do garoto que largou os estudos e virou DJ famoso

Aos sete anos, o DJ Anderson Noise pediu ao pai, �lvaro, um disco. Sem pensar duas vezes, ele disse ao garoto que n�o daria dinheiro, mas que o levaria para trabalhar. Desta maneira, o menino teria sua pr�pria grana – at� os 12, Anderson ajudou o pai a pintar paredes. Um pouco mais tarde, quando estava na s�tima s�rie do ensino fundamental (ent�o 1º grau), disse para a m�e, Nirce, que abandonaria os estudos. Ela fez de tudo, at� jogar �gua no rosto dele, para que se levantasse cedo – mas seu primog�nito n�o tinha o menor interesse na escola.

“� uma pessoa de origem humilde que tomou a decis�o de n�o ir para a escola. A m�e e o pai respeitaram a escolha dele, o que foi muito corajoso. Felizmente, deu muito certo, mas a probabilidade maior era de dar errado. Anderson conseguiu tudo que conseguiu por ser perseverante, um cara acelerado, que faz as coisas a que se prop�e. Ele � seu pr�prio incentivador”, define a jornalista Cl�udia Assef.

Refer�ncia em m�sica eletr�nica no Brasil – � dela Todo DJ j� sambou (2003, quatro edi��es, mais de 20 mil exemplares vendidos), o primeiro e at� hoje �nico livro que acompanha a trajet�ria da profiss�o disc-j�quei no pa�s –, Cl�udia assina O barulho da lua – A hist�ria do DJ Anderson Noise. Com lan�amento nesta sexta-feira (20), no Caf� com Letras Liberdade, em Belo Horizonte, o volume, bil�ngue (portugu�s e ingl�s) e recheado de fotos, � um projeto da Natura Musical por meio da Lei Estadual de Incentivo � Cultura.

O pr�prio biografado admite que o livro nunca havia sido uma inten��o sua. “H� algum tempo, alguns amigos sugeriram que eu fizesse um livro. Ent�o resolvi fazer esse neg�cio. Mas nunca fui um cara de leitura, sou um cara da escuta. Ainda estou digerindo (o livro), pois � bem diferente do DVD, que era uma coisa que eu queria muito. Na realidade, a ideia inicial era um livro s� de fotos, mas, na hora de fazer o projeto, vimos que n�o podia ser s� aquilo. Hoje estou vendo o valor que tem uma biografia. Tive um final de 2018 e um in�cio de 2019 terr�veis com a morte do meu pai (de c�ncer, ap�s um longo tratamento). Ent�o, parece que estou ganhando um presente agora”, comenta Noise.

Anderson nasceu em 21 de julho de 1969 – pouco mais de nove horas depois de Neil Armstrong pisar na Lua. Da� veio a inspira��o para o t�tulo do livro, que recupera, em tom de uma longa reportagem, a trajet�ria do DJ e produtor musical de techno. Um dos principais DJs brasileiros que despontaram na d�cada de 1990 (com mai�scula, daqueles que aprenderam na m�o a mixar e carregaram cases pesadas de vinis mundo afora), � dos poucos grandes que continuam na ativa.

Com 31 anos de carreira (32 em fevereiro), fez tudo antes de redes sociais, tutoriais e ferramentas que simplificam a vida de qualquer um que queira empreender ao toque de um clique. Duas d�cadas atr�s ele criou seu pr�prio selo (Noise Music). Tamb�m fez suas pr�prias r�dio e canal (R�dio e TV Noise). “O que mais me impressionou (para a pesquisa do livro) foi a baixa escolaridade dele e o quanto foi pioneiro em muitos sentidos na m�sica eletr�nica no Brasil. Ele se transformou em youtuber quando ningu�m era, quando n�o havia uma cria��o de conte�do intenso na internet. Ele � ponta de lan�a em muitas coisas, n�o tinha um modelo para seguir”, afirma Cl�udia.

A jornalista entrevistou 30 pessoas para o livro. Cl�udia Assef passou um tempo em Belo Horizonte, que acabou se tornando o cen�rio de boa parte da narrativa. O barulho da lua, por exemplo, recupera a cena underground dos anos 1980 e 1990 na capital mineira – h� destaque para casas noturnas que se tornaram hist�ricas para a ent�o nascente cena de eletr�nica – The Great Brazilian Disaster, Guilden e Drosophyla. Noise, que antes do apelido que se tornou sobrenome chegou a assinar Anderson Supla, trabalhou como vendedor de roupas para pagar as contas.

A m�sica, desde sempre presente em sua vida, foi ganhando for�a aos poucos. DJ, ele passou a produzir suas pr�prias festas – o cen�rio alternativo de BH da d�cada de 1990 � marcado pelas festas Hyper e Noise, que eram promovidas em locais pra l� de incomuns, como frigor�fico desativado, galp�es fora do eixo da Savassi e at� no Instituto Raul Soares (o evento ficou conhecido como festa do manic�mio).

Cl�udia, amiga de Noise – os dois se conheceram num voo S�o Paulo/Londres, em 2002; ela viajava para cobrir um festival em que ele tocaria; na �poca, o DJ mal sabia o beab� da l�ngua inglesa –, tinha uma limita��o de espa�o para o livro. Tanto que o relato vai somente at� 2009, quando,  j� consagrado dentro e fora do pa�s, Noise se apresentou ao lado da Orquestra Bachiana Filarm�nica, na Sala S�o Paulo, sob a reg�ncia do maestro Jo�o Carlos Martins. “Tive que fazer uma sele��o das hist�rias mais interessantes para cativar a audi�ncia que n�o � ligada na m�sica eletr�nica”, diz a autora.

Ela encerra o livro com o cap�tulo Sess�o de terapia, que re�ne trechos de v�rias entrevistas que ela fez com Noise durante a feitura do volume. “Quis entrar na alma dele para entender que nem tudo s�o flores. Ele, por exemplo, teve problemas com alcoolismo, toma rem�dio para depress�o. Minha inten��o � que uma pessoa leiga chegue ao final saboreando as hist�rias.”

At� hoje Noise j� tocou em 32 pa�ses – a Inglaterra, onde esteve mais de 50 vezes, � o pa�s estrangeiro em que mais tocou. Ele alcan�ou os 50 em 2019 e n�o pensa em pendurar os fones de ouvido t�o cedo. Noise est� pronto para novas hist�rias. Quem sabe numa pr�xima edi��o do livro? “As que faltam daqui a pouco v�o ter que entrar”, ele afirma.

• Cl�udia Assef

• Natura Musical (168 p�gs.)

• R$ 40.

• Lan�amento nesta sexta (20), a partir das 18h, no Caf� com Letras Liberdade – CCBB, na Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios. O livro tamb�m est� � venda nas lojas Leitura, Caf� com Letras Savassi, Livraria da Rua, Usina das Letras (Cine Belas Artes) e Quixote.