
Num curta que faz parte da produ��o, Barack d� uma de cr�tico e diz que o que o atrai no filme s�o as nuances, sutilezas e complexidades da rela��o laboral entre duas culturas. A integra��o, de fato, � delicada e implica no encontro – sobretudo, desencontro – de culturas. Os chineses sabem disso. Tanto assim que o CEO chin�s Cao Dewang – personagem e tanto, por sua franqueza – chega com ares de grande senhor, por�m pisa de mansinho no novo terreno. Quando um auxiliar recomenda que ele decore o hall de entrada da f�brica com duas est�tuas – uma americana, outra chinesa – para simbolizar a uni�o dos dois pa�ses, o esperto chairman recomenda: “Ponha s� a americana, sen�o d� ciumeira”.
Mesmo com esses cuidados, a integra��o � problem�tica. Os americanos n�o entendem muito bem o que os novos patr�es desejam. Para remediar a situa��o, alguns trabalhadores s�o convidados a visitar a matriz, na China. As confraterniza��es s�o bonitas, com belos discursos e brindes, mas pouco pr�ticas.
A quest�o � o choque cultural. Um novo executivo, nomeado por Dewang, re�ne sua diretoria e tenta uma explica��o de fundo comportamental. As crian�as americanas s�o muito mimadas, ele argumenta. Fazem o que querem e os pais s�o muito permissivos. Por isso, quando se tornam adultos, n�o podem ser contrariados. � preciso tato para conversar com eles, pois n�o admitem cr�ticas. “Tem de fazer como para escovar um burro: sempre a favor do pelo; se for no sentido contr�rio, h� o perigo de levar um coice”, aconselha. Essas crian�as crescidas, animais manhosos, t�m de ser levadas com jeito. Mas com firmeza. Mesmo assim, muitos n�o se adaptam.
Um americano diz que perdeu o emprego por ter levado tempo demais (tr�s ou quatro segundos) para encontrar um arquivo no computador. O superior chin�s o demitiu. As metas chinesas s�o altas, exige-se produtividade s� alcan��vel em jornadas de trabalho extensas e exaustivas, com um s� dia de repouso semanal, f�rias curtas, etc. Como ocorre na China. E, claro, h� uma palavra a separ�-los: “Union”, ou seja, sindicato. E este se torna o centro do filme: a batalha pela sindicaliza��o, que passa por um plebiscito no interior da empresa.
A sindicaliza��o � fortemente combatida pela dire��o, pois prejudicaria a produtividade. Terminaria, no entender dos novos patr�es, por gerar novamente desemprego. O argumento lembra um pouco a nova pol�tica econ�mica brasileira, baseada no lema “voc�s querem empregos ou direitos?”. No fundo, Ind�stria americana � um filme sobre o conflito entre capital e trabalho. N�o h� como “aparar” essa contradi��o, pois os compradores da f�brica exigem produtividade m�xima, o que n�o combina com direitos trabalhistas adquiridos.
PACI�NCIA
Premiado no Cinema Eye Honors, o document�rio observacional � talhado com enorme paci�ncia e emprego do tempo necess�rio. Ouvimos as vozes dos oper�rios e tamb�m as dos patr�es e chefes. Instalamo-nos no centro do conflito de culturas e interesses, passamos a compreender melhor a din�mica do capitalismo em que todo arranjo parece prec�rio, desequilibrado e parcial, pois se trata do embate de for�as assim�tricas. A �nica forma de os oper�rios equilibrarem um pouco a partida � por meio da representa��o coletiva de um sindicato. Os patr�es sabem disso. Ind�stria americana �, no fundo, o relato de uma trag�dia laboral contempor�nea.Obama, quando presidente, disse n�o ter varinha m�gica para resolver o problema do desemprego no chamado Cintur�o da Ferrugem (Rust Belt), do qual Ohio faz parte. Agora, como produtor de cinema, ajuda a refletir sobre a quest�o. Para se reeleger, Trump mira nessa regi�o, com seus eleitores sem sal�rio e ressentidos.
IND�STRIA AMERICANA
Document�rio
Dire��o: Steven Bognar e Julia Reichert
110 min
Netflix