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Fernando Meirelles: 'N�o se constr�i um pa�s sem educa��o e cultura'

Diretor lamenta a atua��o do governo nas �reas ambiental, cultural e educacional. De acordo com ele, o setor de cinema, saud�vel em 2018, est� travado.


postado em 12/01/2020 04:00 / atualizado em 11/01/2020 21:17

O ator Jonathan Pryce, que vive Francisco em Dois papas, é comparado por Fernando Meirelles a um músico de jazz, por seu método de trabalho aberto ao improviso(foto: Netflix/Divulgação )
O ator Jonathan Pryce, que vive Francisco em Dois papas, � comparado por Fernando Meirelles a um m�sico de jazz, por seu m�todo de trabalho aberto ao improviso (foto: Netflix/Divulga��o )

Na continua��o da entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o cineasta Fernando Meirelles comenta as diferen�as entre os atores Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, critica a paralisa��o da Ancine e revela que seu pr�ximo longa ser� sobre a crise clim�tica.

O te�logo Leonardo Boff, que conviveu com Jorge Bergoglio e Joseph Ratzinger, teceu elogios em artigo sobre o filme, dizendo que Dois papas “� uma bela met�fora da condi��o humana”. Mas fez uma ressalva sobre a forma que Bento XVI � apresentado: “O filme n�o retrata a figura fina e elegante que o caracteriza: em certa cena, levanta a voz e quase grita, o que me parece totalmente inveross�mil e contra seu car�ter”. Como voc� responde a esse tipo de cr�tica que destaca as diferen�as entre as pessoas e os personagens?
Li o artigo. Foi o que mais gostei entre tudo que li a respeito do filme. Boff est� absolutamente certo em rela��o ao que diz sobre Ratzinger. Tamb�m acho que o verdadeiro papa jamais gritaria daquela maneira. Aquele foi o �nico take no qual Hopkins levantou a voz. Depois de rodar a cena, ele me pediu para n�o usar o grito: ele sentia que estava errado. Mas, ao montar a cena, o grito criava um sil�ncio posterior que pontuava bem toda a sequ�ncia. Entre ser fiel ao papa ou criar drama, n�o resistimos e optamos pela segunda via. � um filme, afinal, n�o um document�rio. Um filme com o verdadeiro Ratzinger seria muito chato, ali�s; o carisma dele � inversamente proporcional ao seu intelecto. N�o gostava de Ratzinger quando comecei (o projeto), mas aprendi a admir�-lo.

Anthony Hopkins e Jonathan Pryce s�o dois atores experientes. Quais as diferen�as de m�todo de trabalho entre os int�rpretes de Ratzinger e Bergoglio? 

Eu andei usando uma analogia com a m�sica e acho que o Jonathan concordou, pois ouvi ele usando meu argumento em um debate de que participamos. O que disse � que Hopkins parece mais um m�sico cl�ssico de orquestra: o spalla, digamos. Ele estuda muito a partitura/roteiro e usa as palavras para se apoiar. No dia da filmagem, ele sente e interpreta aquelas palavras que j� est�o incorporadas. Jonathan � mais jazz. Tentou entender a linguagem corporal do papa Francisco, seu estado mental e, no dia, como um m�sico de jazz, estava pronto para fazer o que lhe pedisse. Trocar falas, improvisar. Mas, apesar de trabalharem de modo diferente, se entenderam muito bem. 


''Dois papas � um filme sobre toler�ncia, � justamente sobre a supera��o de uma vis�o polarizada do mundo''

Fernando Meirelles, cineasta


O deputado Daniel Silveira, do PSL do Rio, fez o seguinte coment�rio em uma rede social: “O cineasta esquerdista Fernando Meirelles, e exibido na plataforma progressista Netflix, fez uma obra 100% ficcional. Retrataram Bento XVI como um inimigo e Francisco como um santo”. Concorda com a an�lise do deputado? 
N�o conhe�o o deputado, mas, pelo coment�rio e pelos adjetivos usados, creio que j� sei o que ele pensa e o que defende. Ideologia de novo. Oh, Lord! Dois papas � um filme sobre toler�ncia, � justamente sobre a supera��o desta vis�o polarizada do mundo que o deputado exp�e. Este esp�rito sect�rio � o que pode nos destruir. O nacionalismo que imagino que ele defende � a praga que coloca em risco a humanidade ou muitas vidas. Talvez o deputado n�o tenha assistido ao filme at� o final e n�o tenha entendido que � um filme cr�tico justamente � sua postura. Vamos dar o benef�cio da d�vida. Mostrei Dois papas em Roma para o cardeal (Peter) Turkson, de Gana, um dos cardeais mais pr�ximos de Bento XVI, e ele n�o s� gostou como nos pediu um DVD para mostrar para o papa. Gostou justamente pelo filme ter superado a polariza��o que o deputado enxergou. Mandamos o DVD, mas n�o sei o que aconteceu.

Com as mudan�as nas diretorias e a paralisa��o dos projetos na Ancine, para onde vai a produ��o audiovisual brasileira? 
Muitos colegas est�o parados esperando a burocracia ser destravada. Um ano j� teria dado tempo para ter organizado o setor, que, ali�s, estava saud�vel em 2018. N�o sou paranoico, mas � dif�cil n�o achar que o desmonte n�o seja intencional. Curioso que as �reas que s�o mais caras para mim, e que julgo important�ssimas para qualquer pa�s desenvolver, s�o justamente as que est�o em piores condi��es no Brasil: educa��o, meio ambiente e cultura. Sem estas coisas n�o se constr�i um pa�s, n�o conhe�o nenhum exemplo. Sem ni�bio � poss�vel, conhe�o dezenas de exemplos.

Como avalia a experi�ncia e a repercuss�o da s�rie Pico da neblina (HBO)? O que aprendeu ao trabalhar com o seu filho? 
A s�rie foi bem, recebeu uma nomea��o ao Grammy Internacional e alguns pr�mios no Brasil. O Quico, meu filho, criou a s�rie e era o diretor-geral, eu era um funcion�rio dele e seguia ordens. A fila anda. Foi bonita a experi�ncia.

Quando voc� volta a filmar um longa-metragem no Brasil?
O pr�ximo � sobre a crise do clima – este papo de esquerdistas, como diria o deputado – e ter� partes rodadas no Brasil. Por mim, filmaria s� em portugu�s, mas isso limita a penetra��o de um filme. Estou tentando fazer um document�rio sobre solo, mas n�o estou conseguindo financiamento. A �gua aqui n�o est� para peixe.

Com quais papas do cinema gostaria de conversar por uma tarde inteira?
Cruzei com Todd Phillips, diretor de Coringa, numa mesa redonda de que participamos e nos demos bem. Bateu o santo. Combinamos de almo�ar durante a semana do Globo de Ouro, mas acabei n�o tendo tempo. Espero que ainda possa encontr�-lo, tenho muitas perguntas sobre o seu filme, que adorei. Tamb�m sou um f� de Sam Mendes h� anos e poderia passar tr�s horas perguntando como ele filmou as diversas sequ�ncias de 1917. Uma por uma. Eles n�o s�o papas, ningu�m �, mas s�o artistas que admiro. Os melhores deste ano no cinema.

Cena de Pico da neblina, série da HBO dirigida por Quico Meirelles. %u201CMeu filho era o diretor-geral, eu era um funcionário dele e seguia ordens. A fila anda%u201D, afirma Fernando Meirelles (foto: HBO/Divulgação )
Cena de Pico da neblina, s�rie da HBO dirigida por Quico Meirelles. %u201CMeu filho era o diretor-geral, eu era um funcion�rio dele e seguia ordens. A fila anda%u201D, afirma Fernando Meirelles (foto: HBO/Divulga��o )
 
 

''O pr�ximo projeto ser� sobre a crise clim�tica. Por mim, filmaria s� em portugu�s, mas isso limita a penetra��o de um filme''

Fernando Meirelles, cineasta




Montagem � um dos
pontos altos do filme

Um dos destaques de Dois papas � a montagem, que dribla a monotonia ao evitar o mero registro das longas conversas entre os dois personagens. “Compreendemos que o ritmo estava um pouco na fala de dois atores gigantes, e tentamos explorar isso nos diferentes ritmos que o filme tem”, conta o montador, o paulistano Fernando Stutz, de 34 anos. “Nossa inten��o foi sempre explorar a imagem e o som para que servissem de rampa para as palavras, �s vezes de forma aleg�rica, �s vezes de forma sutil, �s vezes na forma do contraponto, �s vezes �bvia mesmo.”

O trabalho do montador ainda � especialmente cuidadoso na inser��o dos flashbacks da vida do papa Francisco, filmados em diferentes cores e texturas. “Existem blocos confessionais do cardeal Bergoglio que n�o s�o externos nem adicionais � narrativa, s�o o miolo da conversa. S�o esteticamente diferentes das conversas, preto e branco nos anos 50, saturados e granulados nos anos 70 e depois amarelados nos anos 80/90”, lembra.

“O que tivemos que fazer foi reduzi-los ao essencial e, em algum momento, isso foi dif�cil”, reconhece Stutz. “Mas a mistura de materiais sempre nos interessou, sem receio de que fossem tomados como ‘corpo estranho’. S�o mem�rias e, como tais, s�o fragmentadas, desiguais.” Ele resume a din�mica do trabalho com Meirelles: “A orienta��o do Fernando sempre foi a de experimentar: de forma honesta, testemunhando o conte�do e o esp�rito das palavras da hist�ria.” (CM)


Chances de Oscar

Dois papas tem boas chances de conseguir n�o uma, mas v�rias indica��es ao Oscar amanh�, segundo a previs�o de diversas publica��es americanas especializadas em cinema. At� agora, o longa de Fernando Meirelles recebeu 45 indica��es a pr�mios. No Globo de Ouro, realizado no domingo passado (5), concorreu a melhor filme dram�tico, melhor roteiro (Anthony McCarten), melhor ator em filme dram�tico (Jonathan Pryce) e melhor ator coadjuvante em filme dram�tico (Anthony Hopkins), mas n�o venceu nenhuma das disputas.

Meirelles foi � cerim�nia em Los Angeles e aprovou a decis�o da Associa��o dos Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, que promove o jantar do Globo de Ouro, de servir um menu inteiramente vegano aos convidados. Foi a primeira vez na hist�ria das 77 edi��es do pr�mio que isso ocorreu.

“Gostei do fato de eles terem desistido de servir peixe e optado por um jantar vegano. Sopa de beterraba de entrada e um cogumelo com arroz que chamaram pomposamente de vieiras veganas. O bolo de chocolate de sobremesa tamb�m n�o tinha leite. Estamos consumindo e esgotando nosso planeta. Ao dar o exemplo num evento t�o luxuoso, de certa forma, est�o dizendo que servir carne num evento de gala � cafona, o que concordo inteiramente. Em seu discurso, o Joaquin Phoenix (vencedor pelo trabalho em Coringa) disse isso com outras palavras”, afirma o cineasta.

Se a participa��o de Dois papas no Oscar s� ser� conhecida amanh�, � certo que o filme ter� lugar de destaque no Bafta, o pr�mio de cinema brit�nico, no qual obteve cinco indica��es, bastante semelhantes �s do Globo de Ouro – como melhor filme do ano, para os dois atores principais, o roteiro e tamb�m a sele��o de elenco.


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