
“H� muitos anos eu n�o ia ao cinema. Mas meus filhos fizeram tanta 'press�o' que acabaram me convencendo. E valeu a pena, porque nunca ri tanto. Eu me vi retratada em v�rias situa��es desse filme.” O depoimento � da professora aposentada Maria Efig�nia Soares, de 68 anos, ap�s uma sess�o de Minha m�e � uma pe�a 3, na tarde da �ltima segunda-feira (13), em Belo Horizonte. Ela � um dos 7.202.167 de espectadores que j� assistiram ao t�tulo de encerramento da trilogia estrelada por Paulo Gustavo.
Desde que estreou, em 26 de dezembro passado, o longa brasileiro se mant�m � frente dos resultados de bilheteria dos blockbusters norte-americanos Frozen 2 e Star wars – A ascens�o Skywalker, com arrecada��o que j� soma R$ 115 milh�es em ingressos vendidos. Mais do que isso: o longa tamb�m j� foi visto por mais gente do que o primeiro t�tulo da trilogia, que levou 4,5 milh�es de pessoas ao cinema em 2013. � quase certo que seu p�blico tamb�m ser� maior do que Minha m�e � uma pe�a 2 (2016), at� ent�o o recordista da franquia, com pouco mais de 9,3 milh�es de espectadores. “Franquia � sempre uma inc�gnita. Acontece muito de o primeiro ir bem e os demais n�o. Mas, neste caso, ele s� vem evoluindo. A quest�o da empatia, da identifica��o, ainda mais numa com�dia, podem levar isso longe. E isso � um dos fatores que podem explicar esse fen�meno”, afirma o diretor e produtor de cinema Paulo S�rgio Almeida, fundador do portal Filme B, especializado no mercado cinematogr�fico.
Para Almeida, outro aspecto essencial para o sucesso do filme � seu idealizador e protagonista: Paulo Gustavo. Al�m de interpretar, o humorista atua em outras frentes, como produ��o, roteiro, divulga��o e at� nas estrat�gias de lan�amento. “Paulo Gustavo � hoje o maior astro do cinema brasileiro e est� se aproximando dos grandes campe�es de bilheteria no Brasil, que s�o Os Trapalh�es e Xuxa. N�o se sabe at� onde ele vai, mas ele � muito competente em tudo o que faz. Tem carisma, talento, sabe fazer com�dia no timing certo e �, sem d�vida, um astro e um executivo de primeira do cinema”, avalia o especialista.
Quando o filme foi lan�ado, em 1.456 salas do pa�s, ocupando, portanto, quase a metade das telas brasileiras, Paulo Gustavo declarou ao Estado de Minas que n�o faz um projeto pensando em bilheteria, apesar de consider�-la muito importante, e que quis que o terceiro longa fosse, sim, o melhor dos tr�s.
“Quis fazer um filme do meu cora��o para o p�blico curtir, se emocionar. Quis que o terceiro fosse o melhor da trilogia, mas n�o h� esse compromisso com o sucesso de bilheteria. � claro que a gente torce, mas realmente n�o passa por esse lugar. O segundo foi uma explos�o, e a gente n�o espera que fa�a a mesma bilheteria agora, apesar de torcer muito. Se ele fizer menos p�blico que o segundo, a gente n�o vai ficar triste. A gente n�o est� pensando nisso. Estamos, sim, fazendo um projeto lindo”, afirmou.
Susana Garcia, que dirigiu o filme e assina o roteiro junto com Paulo Gustavo e Fil Braz, tamb�m afirmou que o desafio da equipe � que a qualidade do terceiro filme superasse a de seus antecessores. “A gente trabalhou profundamente no roteiro e ficamos um ano nisso para contar uma hist�ria que fosse engra�ada, que emocionasse, que causasse identifica��o e que fosse � altura do que a Herm�nia (personagem principal) merece”, declarou, tamb�m na �poca da estreia.
''Paulo Gustavo e eu nos conhecemos desde a adolesc�ncia. Somos de uma fam�lia de classe m�dia de Niter�i, como tantas outras fam�lias do Brasil. N�s colocamos no roteiro o que n�s vivemos. Mas a� descobrimos que � uma coisa que todo mundo vive. Minha m�e... traz um humor muito regional, brasileiro, aquela coisa do nosso jeitinho, da amorosidade, e isso cativa as pessoas''
Fil Braz, roteirista de Minha m�e � uma pe�a 3
AMADURECIMENTO
A franquia Minha m�e � uma pe�a � baseada no espet�culo teatral de mesmo nome, criado e estrelado por Paulo Gustavo. A primeira adapta��o para o cinema mostrava Dona Herm�nia divorciada do marido (Herson Capri), que a trocou por uma mulher mais jovem (Ingrid Guimar�es). Hiperativa, ela n�o larga do p� de seus filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo), sem se dar conta de que eles j� est�o bem grandinhos. No segundo longa, a protagonista teve que lidar com a “s�ndrome do ninho vazio”, j� que “as crian�as” resolveram sair de casa. Neste terceiro, a protagonista tem que se redescobrir e se reinventar, porque os filhos est�o formando novas fam�lias. Marcelina est� gr�vida e Juliano (Rodrigo Pandolfo) vai se casar.“Acho que toda m�e j� enfrentou algumas das situa��es pelas quais a Herm�nia passa. � quase universal. Por isso a gente acaba gostando, se identificando. O mais legal � que ainda � pelo olhar da com�dia, � engra�ado. Achei esse terceiro filme a cereja do bolo”, comentou a dentista Fl�via Ferraz, de 43, que j� assistiu duas vezes a Minha m�e � uma pe�a 3.
A comerciante Mariana Martins, de 55, n�o conseguiu segurar as gargalhadas nas cenas da personagem nos Estados Unidos, em que ela tem dificuldades de se comunicar na alf�ndega e nos restaurantes pelo fato de n�o dominar o ingl�s. “J� passei por aquilo demais. N�o sei falar nada de ingl�s e, toda vez que vou para Miami, tenho que embromar (risos). Nunca tinha visto nenhum filme dessa franquia, mas adorei. Ele � muito direto, objetivo, e a gente est� precisando de se divertir neste mundo que anda t�o complicado”, comentou.
O roteirista Fil Braz est� no projeto desde o come�o. Minha m�e � uma pe�a 1 foi seu primeiro texto para o cinema. Ele avalia que um dos motivos do �xito da empreitada � falar diretamente com o p�blico, de uma maneira simples e, ao mesmo tempo, interessante. “Paulo Gustavo e eu nos conhecemos desde a adolesc�ncia. Somos de uma fam�lia de classe m�dia de Niter�i, como tantas outras fam�lias do Brasil. N�s colocamos no roteiro o que n�s vivemos. Mas a� descobrimos que � uma coisa que todo mundo vive. Minha m�e... traz um humor muito regional, brasileiro, aquela coisa do nosso jeitinho, da amorosidade, e isso cativa as pessoas”, diz.
Braz afirma que n�o se surpreendeu com o �xito do terceiro longa. Ele acredita que o fato de j� ter uma certa bagagem – � autor de outras com�dias cinematogr�ficas, como T� ryca e Vai que cola, o filme – contribuiu. “Quando escrevi o primeiro Minha m�e � uma pe�a, eu tinha 31 anos. Vou fazer 40. Paulo Gustavo e eu envelhecemos e amadurecemos, e a gente acaba ficando mais especialista, vai aprendendo. Esse �, sem d�vida, o filme mais maduro dos tr�s.”
Na opini�o do roteirista, a contribui��o de Susana Garcia – a �nica diretora mulher presente na trilogia – foi essencial, com seu olhar feminino e sens�vel. “E Paulo � um craque, est� com um dom�nio da com�dia, da personagem. Ele � fant�stico. Al�m de divertir, o filme est� fazendo com que as pessoas se emocionem. Elas veem ali uma verdade, aquela coisa do �lbum de fam�lia, se enxergam. � bonito, porque est� tocando o espectador.”
INCERTEZAS
Apesar de o cinema nacional come�ar 2020 com boas not�cias – o desempenho extraordin�rio de Minha m�e � uma pe�a 3, inclusive desbancando rivais estrangeiros, e a indica��o de Democracia em vertigem, da diretora mineira Petra Costa, ao Oscar de melhor document�rio – tanto Paulo S�rgio Almeida quando Fil Braz se dizem apreensivos em rela��o ao futuro.“Est� tudo muito confuso, inst�vel. A rela��o com o governo federal � a pior poss�vel. Os mecanismos de financiamento est�o parados. A gente est� muito preocupada. � at� contradit�rio, porque voc� v� filmes nacionais superando os norte-americanos, outros projetos ganhando pr�mios em festivais importantes, como Cannes (Bacurau, de Kleber Mendon�a Filho e Juliano Dornelles, e A vida invis�vel, de Karim Ainouz, foram premiados na mostra francesa em 2019), indica��o ao Oscar e temos essa grande interroga��o. O que esse governo vai fazer com rela��o ao cinema e � cultura do pa�s?”, questiona Almeida.
Braz se diz muito atento a tudo o que est� acontecendo e lastima o fato de o Pal�cio do Planalto n�o apoiar a cultura. “� lament�vel tudo isso. � um momento de muita incerteza. Tenho alguns filmes que escrevi, como as com�dias T� ryca 2 e Os salafr�rios, que est�o prontos para ser lan�ados, mas os demais projetos a gente n�o sabe como vai ser. Vamos torcer, porque o cinema brasileiro merece.”