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Estado de Minas

'Democracia em vertigem' levanta debate sobre a verdade nos document�rios

Ap�s indica��o do longa de Petra Costa ao Oscar, cr�ticos do filme questionam sua exatid�o hist�rica. Especialistas em cinema falam ao Estado de Minas sobre a parcialidade na produ��o documental


postado em 19/01/2020 04:00 / atualizado em 18/01/2020 19:58

Democracia em vertigem é um dos cinco documentários indicados ao Oscar 2020, cujos vencedores serão anunciados no dia 9 de fevereiro(foto: Netflix/Divulgação)
Democracia em vertigem � um dos cinco document�rios indicados ao Oscar 2020, cujos vencedores ser�o anunciados no dia 9 de fevereiro (foto: Netflix/Divulga��o)

''Se fosse na categoria fic��o, estaria correta a indica��o. Isso s� mostra como a guerra cultural est� sendo travada n�o s� aqui, mas em �mbito internacional''

Roberto Alvim,ex-secret�rio especial de Cultura

Descartado da disputa pelo Oscar de melhor filme internacional desde o an�ncio dos semifinalistas – que n�o incluiu A vida invis�vel, de Karim A�nouz, o representante apresentado pelo pa�s –, o Brasil entrou no p�reo por uma estatueta na manh� de segunda-feira passada (13), quando Democracia em vertigem, da diretora mineira Petra Costa, surgiu entre os cinco indicados a melhor document�rio.

O que se viu nos dias seguintes � indica��o foi uma rea��o dividida entre os que celebraram a not�cia e os que a deploraram. Os partid�rios de Democracia em vertigem atribuem ao filme o m�rito de apresentar a “verdade”, a “hist�ria” e a “mem�ria”; seus detratores classificam-no como uma pe�a de “fic��o”.

A ideia inicial de Petra Costa era fazer um document�rio sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff, ocorrido em 2016. O projeto se alongou e o roteiro se expandiu, remontando � funda��o do PT, � cria��o de Bras�lia, ao per�odo da ditadura militar e � rela��o mantida com o poder pelas grandes empreiteiras, como a Andrade Gutierrez, da fam�lia de Petra Costa.

Dispon�vel na Netflix, o longa tem cenas narradas em primeira pessoa pela diretora, que oferece uma vis�o pessoal e reflexiva dos fatos filmados. Ela n�o esconde, por exemplo, ter votado em Lula na elei��o de 2002, ser filha de militantes de esquerda e neta de membros da elite econ�mica. A proximidade com figuras pol�ticas ligadas � esquerda, como Dilma Rousseff, � maior nos depoimentos dados do que com aquelas da direita, como A�cio Neves (PSDB), que lhe nega um pedido de entrevista.

VIS�O DE MUNDO 

''Parab�ns � diretora Petra Costa pela indica��o de melhor fic��o e fantasia por Democracia em vertigem''

PSDB, em sua conta oficial no Twitter

O professor e cr�tico carioca Pedro Butcher considera a imparcialidade na produ��o de document�rios “um mito”. Ele afirma que “h� sempre uma vis�o de mundo, e � poss�vel buscar estrat�gias para diminuir essa parcialidade, mas funciona melhor quando se assume, dentro de um objetivo racional”. Na opini�o de Butcher, Democracia em vertigem aborda “um assunto pol�mico no Brasil, mas que deu ao filme boa comunica��o com o p�blico de fora, que p�de entender melhor o que se passa aqui como uma situa��o comum internacionalmente. Bem ou mal, ela mostra paralelos existentes com a elei��o de Trump nos Estados Unidos e a ascens�o de uma nova direita, pr�xima de uma extrema direita, em v�rios pontos do mundo. Podem criticar o filme, mas essa conex�o � preciso reconhecer.”.

A ensa�sta, pesquisadora e professora de cinema da UNA Carla Maia tamb�m diz que “um document�rio nunca � neutro, nenhuma narrativa �. Sempre haver� um ponto de vista. Ao mesmo tempo, document�rio, o nome j� diz, tem documento, tem uma verdade e documenta��o dos fatos, que opera de dentro da narrativa. Apesar do tom ensa�stico, esse filme faz o trabalho de pesquisar e apresentar imagens, depoimentos e dados concretos, que foram checados e n�o podem ser considerados falsos, a n�o ser por algu�m que n�o queira lidar com os fatos”.

No aspecto da verdade factual, Democracia em vertigem tamb�m levantou pol�mica, em raz�o da decis�o de Petra Costa de adulterar uma fotografia em que aparecem os cad�veres de Pedro Pomar e �ngelo Arroyo, militantes do PCB (Partido Comunista do Brasil) assassinados pela ditadura militar. A imagem original tem armas ao lado das v�timas. A diretora as retirou da cena.

“H� uma raz�o para isso. Como afirmei no document�rio, Pedro era o mentor pol�tico da minha m�e, e foi amplamente reconhecido que a pol�cia plantou armas ao redor dos corpos dos ativistas assassinados, como uma desculpa para seus assassinatos brutais. H� um debate significativo sobre a veracidade das armas nesta cena, com muitos coment�rios. E at� a pr�pria Comiss�o da Verdade trouxe evid�ncias para as alega��es de que a pol�cia plantou as armas ap�s a morte de Pedro, e por isso optei por remover esse elemento e homenagear a Pedro com uma imagem mais pr�xima � prov�vel ‘verdade”, afirmou a diretora � revista Piau�.

''Fic��o%u2026 Para quem gosta do que urubu come, � um bom filme''

Jair Bolsonaro, presidente da Rep�blica

PRESEN�A 

Carla Maia pondera que h� um estilo pr�prio da cineasta, que deve ser levado em conta. “A presen�a dela no filme � forte. Isso � um tra�o recorrente no seu trabalho, inclusive. Existem cenas, como a dela comemorando a elei��o da Dilma, que deixam claro o seu posicionamento na hist�ria. N�o h� problema em marcar posi��o, mas isso pode dificultar a recep��o por quem n�o est� do mesmo lado. O campo da pol�tica deve ser aberto a dissensos, deve estimular a discuss�o de ideias, e o risco envolvido na escolha de contar a hist�ria dessa maneira, centrada em quem emite a mensagem, � diminuir a possibilidade de engajamento daqueles que n�o concordam, a princ�pio, com o posicionamento exposto.”

Amir Labaki, cr�tico de cinema e fundador do Festival � Tudo Verdade, dedicado � produ��o documental, observa que “document�rio � arte, logo express�o pessoal e subjetiva. Imparcialidade e neutralidade devem ser perseguidas pelo jornalismo”. Para ele, “excel�ncia e originalidade influenciam muito mais na relev�ncia de um document�rio do que um pretenso term�metro de parcialidade”. Labaki aponta o bom momento da produ��o documental brasileira, ressaltado pela indica��o ao Oscar. “O document�rio brasileiro despertou para o calor da hora, come�ando a romper a tradi��o de olhar apenas para o passado. A grande import�ncia �, de um lado, enriquecer por meio do cinema a discuss�o sobre o momento presente e, de outro, captar material bruto menos imediatista que auxiliar� cria��es e debates futuros”, afirma.

O processo, de Maria Augusta Ramos, enfoca o impeachment de Dilma e recebeu prêmios em festivais internacionais(foto: Vitrine Filmes/Divulgação)
O processo, de Maria Augusta Ramos, enfoca o impeachment de Dilma e recebeu pr�mios em festivais internacionais (foto: Vitrine Filmes/Divulga��o)
Tema inspirou outros filmes

Al�m de Democracia em vertigem, outros document�rios exploram o contexto recente da pol�tica nacional. Um deles � O processo, de Maria Augusta Ramos, focado nos procedimentos do impeachment de Dilma Rousseff.  O processo foi premiado como o melhor longa-metragem no Festival Visions du R�el (Vis�es do Real), na Su��a, e tamb�m no IndieLisboa, em Portugal, al�m de ter sido um dos preferidos do p�blico no Festival de Berlim (Alemanha). Excelent�ssimos, de Douglas Duarte, aborda a atividade parlamentar no Brasil nesses tempos. Em comum, eles t�m um olhar mais � esquerda no espectro pol�tico.

Sobre a aus�ncia de produ��es documentais relevantes sobre o tema que ofere�am um contraponto, Amir Labaki, diretor do Festival � Tudo Verdade, afirma: “A virtual inexist�ncia de uma produ��o documental de vi�s mais conservador n�o se restringe ao Brasil. Para ficarmos num exemplo, nos Estados Unidos h� apenas um nome mais conhecido, Dinesh d’Souza, diretor de filmes como 2016: Obama’s America e Hillary’s America, de algum sucesso de p�blico. � salutar para a nossa democracia constatar uma mobiliza��o ainda incipiente para o desenvolvimento no pa�s de uma produ��o documental � direita”.


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