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Estado de Minas

Blocos de BH querem deixar sua marca pr�pria na folia

Ancorados em sucessos de outros autores, eles come�am a se preocupar em desenvolver um repert�rio autoral, como forma de deixar um legado para a festa


postado em 10/02/2020 04:00 / atualizado em 09/02/2020 18:15



Maior a cada temporada, o carnaval de Belo Horizonte se reinventou nos �ltimos 10 anos, desfilando pelas ruas uma trilha sonora bastante ecl�tica. Se houve um tempo em que os blocos eram sin�nimo de antigas marchinhas, Alala� e Mam�e eu quero ficaram no passado, dando lugar a um repert�rio variado e popular, mas criterioso em suas escolhas. E uma preocupa��o � parte dos m�sicos envolvidos, a execu��o de trabalhos autorais come�a a transformar o perfil da folia. Em pequeno, m�dio ou maior grau, as composi��es locais v�o ganhando espa�o.
 
“� chegado um momento em que os protagonistas do carnaval precisam pensar de maneira compromissada qual � o legado que esses blocos v�o deixar”, afirma Cristiano Di Souza, m�sico, compositor e regente do Ent�o, Brilha!, al�m de fundador e participante de outros blocos, como o Pisa na Ful�, inteiramente dedicado ao forr�. Ainda que privilegie hits baianos, o Ent�o, Brilha! lan�ar� neste carnaval a m�sica pr�pria Loucos para brilhar, fruto de parceria com o compositor baiano Fabiano Lie.
 
Em 2020, o bloco completa uma d�cada. � um dos maiores da cidade e, nos �ltimos anos, atraiu mais de 100 mil pessoas em seus desfiles, sempre no s�bado de carnaval, ao amanhecer, no Centro de BH. Boa parte das m�sicas, puxadas por trio el�trico e uma bateria com centenas de batuqueiros, o p�blico conhece literalmente de outros carnavais. No caso do Brilha, o recorte escolhido passa pelos maiores sucessos da m�sica baiana dos anos 1990.
 
“Trabalhamos com um repert�rio antigo, que inclui, por exemplo, O canto da cidade (Daniela Mercury), e Minha pequena Eva, m�sicas que, talvez, nem toquem mais em Salvador, que � de onde v�m. Temos um direcionamento que conversa com um p�blico entre 25 e 45 anos, mas � importante lembrar que, em BH, h� muitos blocos com um repert�rio diferente, com estilos mais contempor�neos, incluindo pagod�o baiano, funk, etc.”, aponta Di Souza. “Enquanto o carnaval do Recife � muito ligado ao frevo, o do Rio ao samba e o de Salvador ao ax�, BH tem essa diversidade r�tmica como caracter�stica”, diz, lembrando ainda das m�sicas Frevo mulher (Z� Ramalho) e Bloco na rua (S�rgio Sampaio) como duas das mais populares na trilha sonora do carnaval belo-horizontino.

F�RMULA Di Souza entende que “os ouvidos das pessoas est�o mais antenados � m�sica comercial”. Por�m, a f�rmula de sucesso que transformou o at� outrora t�mido carnaval local em um dos maiores do pa�s na atualidade oferece preocupa��es do ponto de vista art�stico. “Carnaval � uma porta de entrada para o mercado musical. Uma grande oportunidade para quem n�o tem espa�o durante o ano com seus trabalhos independentes, solo ou com bandas, que n�o quer se submeter ao contexto predador e desumano de tocar em bar. O carnaval d� espa�o para quem est� � frente dos grupos de harmonia, guitarra, dire��es musicais, mas que, infelizmente, nem sempre tem essa empatia e visibilidade no mercado”, afirma.
 
O m�sico diz passar pessoalmente por isso. “Qualquer coisa que eu fa�a no trio el�trico todo mundo acha lindo, mas, no palco, como Di Souza, � uma dificuldade muito maior”, lamenta. Ele prev� para o segundo semestre o lan�amento de seu segundo �lbum autoral solo, ainda sem nome e em fase de grava��o. “Ser� mais festivo que o anterior (N�o devo nada pra ningu�m, 2015)”, afirma o percussionista, ex-aluno e atual professor nas ONGs Corpo Cidad�o e Querubins, na comunidade da Vila Acaba Mundo, Regi�o Centro-Sul de BH.
 
 
DAS RUA PARA O EST�DIO A preocupa��o autoral � compartilhada por outros blocos, que tentam potencializar seus repert�rios mesclando sucessos antigos com novidades. � o caso do Juventude Bronzeada, fundado em 2014. Adepto de velhos hits da m�sica baiana, ele expande a atividade com a banda, que toca ao longo do ano em eventos. Em 2017, lan�ou o �lbum Tropical lacrador, cujas faixas tamb�m integram o repert�rio do desfile, geralmente na ter�a de carnaval.
 
“Ano passado, homenageamos Daniela Mercury. Neste ano, Gilberto Gil. Teremos muitas m�sicas dele no desfile, al�m de v�rios cl�ssicos do ax� anos 1990, e outras mais atuais que se inserem nesse contexto, al�m das nossas”, diz Rodrigo Magalh�es, regente da bateria e baixista. Ele cita tamb�m Talism�, parceria com a banda local Graveola e o Lixo Polif�nico, como parte do repert�rio. “O grande desafio do nosso carnaval � fazer com que a m�sica autoral tenha mais destaque”, avalia.
 
“Temos os hinos dos blocos, mas ainda precisamos lev�-los para o grande p�blico. Engatinhamos nesse sentido. Por enquanto, alcan�amos pessoas pr�ximas, participantes da bateria, amigos, um universo muito li- mitado. Nosso disco n�o tem nada que bombou fora desse recorte, talvez porque n�o conseguimos dialogar com o p�blico da m�sica de massa. Temos uma proposta est�tica que n�o est� t�o em voga e h� uma quest�o financeira tamb�m. Fazer um hit bombar demanda dinheiro para divulga��o. N�s n�o temos essa estrutura”, argumenta Magalh�es.

CRIT�RIOS Ele ressalta que a escolha do repert�rio passa tamb�m por crit�rios pol�ticos. “N�o abrimos m�o. Ano passado, quer�amos falar de homofobia. Tinha ocorrido o caso do M�rcio Victor, do grupo Psirico, v�tima de ataques homof�bicos depois do vazamento de foto beijando um cara. Fizemos quest�o de incluir m�sicas dele no desfile.”
 
No caso do bloco Haja Amor, criado em 2013, a m�sica autoral � a base. “Come�amos com vers�es bregas, mas logo outros blocos surgiram com a mesma proposta. Ent�o, decidimos mudar. Desde 2018, optamos pela m�sica independente, e isso engloba o que � feito em BH, com Maur�cio Tizumba, S�rgio Perer�, Rosa Neon e Lamparina e a Primavera, mas tamb�m o cen�rio nacional, com Liniker e Duda Beat, por exemplo”, conta Oct�vio Cardozzo, m�sico e um dos criadores do bloco.
 
Al�m disso, participam artistas locais, como Ma�ra Baldaia, Cot� Delamarque, Andr� Souza (banda Cayena) e D�bora Coimbra (banda Faca Amolada). No ano passado, o artista lan�ou a m�sica Debaixo d’�gua. A composi��o nasceu nos ensaios, mas tomou outro caminho fora do carnaval e soma mais de 10 mil execu��es em plataformas digitais.
 
“Nosso bloco continua mantendo a ess�ncia do in�cio da retomada do carnaval de BH. Quem vai, realmente gosta da nossa m�sica. � um p�blico muito focado no nosso repert�rio. Percebemos como a m�sica independente � forte nos �ltimos anos. Vemos pessoas interessadas em ouvir e conhecer, tanto que criamos uma playlist no Spotify com as m�sicas do desfile de cada ano”, afirma Cardozzo. O Haja Amor desfila na quinta-feira anterior ao feriado de carnaval, no Bairro Conc�rdia. 


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