Vencedores do concurso Mestre Jonas fazem pol�tica rimar com riso

N�o basta ter s� inspira��o. Tem que suar a camisa. Foi com uma letra pra l� de jocosa que Alexandre Rezende, de 36 anos, venceu o Concurso de Marchinhas Mestre Jonas 2020. Mas, n�o fosse sua performance em cena, sabe-se l� se E quem n�o deu, Damares? sairia com o primeiro pr�mio. A marchinha satiriza a campanha de preven��o � gravidez na adolesc�ncia que estimula a abstin�ncia sexual, conduzida pelo Minist�rio da Mulher, da Fam�lia e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.

Durante o concurso, realizado em fases eliminat�rias, a marchinha foi apresentada quatro vezes. Ciente de que o voto popular � que define o resultado, numa delas Alexandre Rezende se vestiu de camisinha. Em outra, colocou todos os int�rpretes – entre eles Bob� da Cu�ca, coautor da marchinha – vestidos com um cinto de castidade. Na verdade, uma 'sunga de castidade', que foi revelada quando os m�sicos tiraram, em cena, uma cal�a de velcro, tal como strippers. O pr�prio Rezende aprendeu a costurar para fazer as cal�as.

O Concurso Mestre Jonas teve, neste ano, sua nona edi��o. Nascido juntamente com o renascimento do carnaval de rua na capital mineira, o evento j� lan�ou v�rias marchinhas, boa parte delas pautada pelos acontecimentos pol�tico-sociais do pa�s.

Uma marchinha sobrevive a mais de um carnaval? Para o compositor V�tor Velloso, a resposta � sim, sem d�vida. Terceiro colocado no concurso deste ano – por Parente bolsominion, que comp�s com Luisa Burian e Frederico Heliodoro –, ele � tamb�m coautor de Baile do P� Royal (2014), uma das mais populares marchinhas nascidas em BH na �ltima d�cada. Vencedora do Mestre Jonas daquele ano, acabou motivando a cria��o da Orquestra Royal.

Hoje um deceto, o grupo lan�ou um disco em 2017 e procura fazer pelo menos um show por carnaval. O desta edi��o ser� nesta quarta-feira (19), no Jacinta. “� uma banda de m�sicos e compositores de outros grupos. Ou seja, todo mundo tem outros projetos”, diz Velloso, autor de ao menos duas dezenas de marchinhas.

“Muita coisa que a gente escreve continua valendo para o ano seguinte. No ano passado, por exemplo, lan�amos Overdose de goiaba, sobre a Damares. Tr�s anos atr�s, fizemos Bolsomico. Elas continuam fazendo todo o sentido hoje”, avalia. Como os integrantes fazem parte de blocos de carnaval, volta e meia tais can��es s�o entoadas nas ruas de BH.

Que o diga a cantora e professora Celinha Braga, autora do segundo lugar do concurso deste ano. Mimosas borboletas n�o � pautada em uma personagem ou acontecimento pol�tico. “A mulher � sempre um tema, mas esta � uma marchinha mais leve, n�o pega tanto na parte do humor. Acho que pegou pela leveza, por ter um refr�o que todo mundo canta.”

Mimosas borboletas foi apresentada na sexta (14), no Baile de Marchinhas Mestre Jonas, no Distrital do Cruzeiro. Pois no domingo (16), foi entoada pelo p�blico que acompanhou o desfile do Bloco Mimosas Borboletas, no Bairro Funcion�rios.

 

“Foi na ra�a”, diz Celinha. Isso porque o trio el�trico que acompanharia o desfile n�o estava regular e foi impedido de sair. Sem o sistema de som que o trio transporta, o bloco saiu somente com a percuss�o (formada por 60 mulheres) e as sete cantoras que o comandam. “Foi muito bonito, mas fizemos tudo na garganta mesmo”, afirma Celinha.

Quando tinha uma escola de canto na Pampulha, ela criou na regi�o o bloco Atr�s do Jacar�. Com a mudan�a da escola para o Bairro Carmo, Celinha montou, com sete alunas, o show O bloco das mimosas borboletas (baseado na can��o hom�nima de F�tima Guedes). A marchinha foi uma consequ�ncia desse projeto. “Nem achava que ela podia participar de um concurso. Minha irm� achou legal e s� a inscrevi no �ltimo dia”, comenta a autora.

Com E quem n�o deu, Damares?, Alexandre Rezende, que costuma compor sambas, venceu uma resist�ncia �s marchinhas. “A marchinha lembra um pouco jongo, que � um dos subg�neros mais primitivos do samba. S�o palavras de duplo sentido, jogo de palavras, voc� tem quase que reinventar a l�ngua portuguesa. Como ela pretende ser uma cr�nica da realidade, muito pontual, uma marchinha traz sempre a mem�ria do carnaval em que foi lan�ada.”

 

Rezende estreou como compositor de marchinhas no ano passado, com Solta a jararaca, que fazia refer�ncia � pris�o de Lula. Virou a marchinha do Lula Livre.“Para mim, o samba � mais atemporal, pois trata de quest�es mais universais”, diz. Mas como quem est� na chuva � para se molhar, Rezende j� marcou algumas participa��es da marchinha da Damares neste carnaval.

Na sexta (21), ela ser� apresentada com os int�rpretes que a defenderam no concurso Mestre Jonas (Rayana Toledo, M�rcio Mexerica, Bob� da Cu�ca e o pr�prio autor) no desfile do bloco Fita Amarela, dedicado � obra de Noel Rosa (concentra��o a partir das 18h, na Rua Petrolina, 175, Horto).

J� no domingo (23), a marchinha volta � cena no Bloco da Esquina, com can��es do Clube da Esquina (concentra��o a partir das 9h, na Rua Jussara, 303, Bairro da Gra�a). Essas s�o as participa��es confirmadas. Outras poder�o vir ao longo do carnaval, pois n�o h� como negar que Damares � uma das grandes personagens desta folia.

(Alexandre Rezende e Bob� da Cu�ca) – 1º LUGAR

(Celinha Braga) – 2º LUGAR

(V�tor Velloso, Luisa Burian e Frederico Heliodoro) – 3º LUGAR