
Por que parou? Parou por qu�? Essa � a pergunta que belo-horizontinos, visitantes e defensores da cultura se fazem quando passam diante do Museu de Arte da Pampulha (MAP), um dos �cones do Conjunto Moderno reconhecido como Patrim�nio da Humanidade pela Unesco. Fechado � visita��o desde setembro, o equipamento da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) j� deveria estar com as obras iniciadas, mas est� longe disso. Com previs�o de recursos de R$ 7 milh�es, a interven��o no chamado Pal�cio de Cristal teve projeto de restauro aprovado em 2014. A �ltima grande interven��o data da d�cada de 1990.
“O MAP corre o s�rio risco de ficar na mesma situa��o do Iate T�nis Clube, sem solu��o, quando, na verdade, houve compromisso da PBH com a Unesco para a restaura��o. Soltaram muitos fogos de artif�cio, mas sem efeito”, afirma especialista em patrim�nio cultural ouvido pelo Estado de Minas, a respeito do clube particular tamb�m integrante do Conjunto Moderno. S� para lembrar, o Iate foi alvo de a��o ajuizada pelo Minist�rio P�blico para demoli��o de um anexo considerado “corpo estranho” ao projeto do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), da d�cada de 1940. No caso espec�fico do MAP n�o houve compromisso firmado, mas divulgada a proposta para restaurar.
Na �poca do fechamento foram alegados “problemas hidr�ulicos e el�tricos”. Para o setor cultural, o MAP fechado, com a previs�o de dois anos de obras, � estarrecedor. A artista pl�stica e galerista Beatriz Abi-Acl v� perda generalizada, j� que � o �nico museu de arte moderna de BH. “O acervo � riqu�ssimo, pois muitos sal�es foram realizados l�. Eu mesma participei de v�rios”, afirma Beatriz, cobrando esclarecimento do poder p�blico.
A artista pl�stica Yara Tupynamb� diz que o fechamento amplia a discuss�o sobre a �rea cultural na cidade: “Precisamos lembrar quantos espa�os perdemos nos �ltimos anos. E o MAP � reflexo da falta de pol�ticas governamentais nas esferas federal, estadual e municipal”. Preparando-se para inaugurar exposi��o na Funarte – em 2 de abril, com 54 quadros sobre meio ambiente –, Yara acrescenta que h� preju�zos para todos os p�blicos. “� fundamental haver um processo educativo incluindo o museu, dono de acervo �timo, para que alunos e professores possam ter acesso �s obras de arte.”
Em nota, a PBH, via Secretaria Municipal de Cultura e da FMC, informa que o MAP se encontra em fase de desmobiliza��o para obras de restauro. O prazo de execu��o estimado � de dois anos, com previs�o de abertura de licita��o neste primeiro semestre. “O projeto e a planilha da obra est�o sendo revistos, para licita��o, pela Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap)”.
A nota diz ainda que, durante a obra, o museu continuar� em atividade “ocupando outros equipamentos culturais e espa�os da cidade”, sendo realizada exposi��o com o acervo art�stico (do museu) e atividades educativas ao longo do ano.
Imposs�vel n�o admirar o pr�dio do Museu de Arte da Pampulha, constru�do na d�cada de 1940, e de onde se tem bela vista da lagoa e das constru��es reconhecidas, em 17 de julho de 2016, como Patrim�nio da Humanidade pela Unesco. Tem jardins projetados por Burle Marx (1909-1994), com conjunto arquitet�nico projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012).
CASA DE JOGOS
Palco de hist�ria com um legado precioso dos anos dourados, o pr�dio do MAP funcionou como cassino de 1944 a 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974) proibiu a pr�tica do jogo no pa�s. Onze anos depois, foi reaberto como Museu de Arte, na administra��o do prefeito Celso Mello Azevedo (1915-2004). Apelidado de Pal�cio de Cristal, o museu teve projeto de restauro aprovado em 2014 pelo Iphan, Iepha-MG e Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural de BH.
O antigo cassino, hoje Museu de Arte, ancorava todo o Conjunto Moderno da Pampulha, por ser o equipamento respons�vel pela atra��o do grande n�mero de visitantes desejado pelo ent�o prefeito de BH, Juscelino Kubitschek (1902-1976), na �poca do lan�amento do projeto, em 1940. O edif�cio apresentava os princ�pios da arquitetura moderna formulados pelo franco-su��o Le Corbusier (1887-1965).
Segundo especialistas, a estrutura em concreto e a op��o pelos planos envidra�ados proporcionam a alta integra��o visual entre interior e exterior, um dos mais importantes pilares da arquitetura moderna, presente em todas as edifica��es do conjunto.
O pr�dio tem paredes revestidas de �nix e colunas cobertas de a�o inoxid�vel, inova��o para a �poca, al�m de espelhos de cristal belga. A esse volume se associa o corpo curvil�neo que abriga a pista de jogos e a boate. A solu��o invoca um efeito c�nico comum � arquitetura barroca mineira.
Com acervo de 1,4 mil obras em reserva t�cnica, o MAP tem audit�rio com capacidade para 170 pessoas. Fazendo a caminhada matinal pela orla da Pampulha, uma mulher mostrou que est� cansada de esperar, mudando um verso de O tempo n�o para, do compositor Cazuza (1958-1990). “Parece um 'museu sem grandes novidades, pois a 'grande novidade' nunca chega, que � o come�o da obra. A� a gente pergunta: “Por que parou? Parou por qu�?”