Nem bem foi interrompida, f�s j� sonham com volta de Amor de m�e

O avan�o da pandemia do novo coronav�rus fez com que a Rede Globo suspendesse por tempo indeterminado as grava��es da novela das 21h, Amor de m�e. A trama de Manuela Dias, que vinha fazendo sucesso no hor�rio nobre, teve seu �ltimo cap�tulo in�dito exibido no s�bado (21). A partir desta segunda-feira (23), o p�blico acompanha uma vers�o compacta de Fina estampa, folhetim de Aguinaldo Silva exibido em 2011. A decis�o � um reflexo do esfor�o da sociedade para se manter em distanciamento social, seguindo as recomenda��es da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS).

“Evitar o contato f�sico � fundamental na estrat�gia para conter a expans�o do v�rus. E n�o h� novelas sem abra�os, apertos de m�os, beijos, festas, cenas de briga, cenas de amor, cenas de carinho, tudo aquilo que reflete a vida real, mas que, hoje, n�o pode ser encenado em seguran�a. Interrompendo as grava��es, protegemos nossos talentos e, ao mesmo tempo, a sociedade: evitando o cont�gio aqui, evitamos que ele se espalhe l� fora. O nosso primeiro compromisso � com a sa�de de nossos colaboradores e do p�blico”, anunciou em nota a emissora.

Para os f�s fi�is da busca de dona Lurdes (Regina Cas�) pelo filho perdido Dom�nico (Chay Suede), a mudan�a repentina se justifica, mas tamb�m decepciona. “H� muito tempo n�o acompanhava com tanto afinco uma novela. Entendo a decis�o de parar as grava��es, ainda mais no momento que estamos vivendo, de completa incerteza, mas sentirei muita falta de acompanhar as hist�rias que essa novela conta”, lamenta a dona de casa Carmen Maria dos Santos, de 58 anos.

Para ela, a trama � uma das mais sofisticadas entre as que j� foram transmitidas no hor�rio nobre. “O maior diferencial dessa novela � mostrar a realidade do jeito que ela �. A hist�ria se passa no Rio de Janeiro, mas a gente n�o v� aqueles pontos tur�sticos famosos ou as praias. � um cen�rio diferente, que mostra a parte feia da cidade. Falando assim, at� parece desagrad�vel de ver, mas n�o �, porque a gente acaba se identificando, principalmente com os personagens”, comenta.

 Ingrid Fernandes faz coro ao elogiar o folhetim e revela que sua maior ansiedade � n�o saber quanto tempo durar� a paralisa��o. “Como em todos os setores da nossa vida, a gente n�o sabe quando tudo ir� voltar ao normal. Claro que existem previs�es, mas acompanhar a novela todo dia � um h�bito cultivado pelos brasileiros. Vamos sentir falta, � claro, ainda mais porque a hist�ria est� cada vez mais complexa”, comenta a estudante, de 21 anos.

Ela integra um grupo no Facebook dedicado exclusivamente a discutir a novela. Com cerca de 520 mil membros, a p�gina recebe, em m�dia, 200 posts por dia que promovem discuss�es sobre Amor de m�e. A �nica norma � clara: “Proibido conte�do que n�o seja sobre a novela”. “Por l�, a gente discute os acontecimentos da novela. Tamb�m � um canal muito usado para sabermos o que vai acontecer nos pr�ximos cap�tulos, j� que a Globo sempre divulga os resumos semanais.”

O primeiro cap�tulo de Amor de m�e foi ao ar em 25 de novembro e registrou 35 pontos na audi�ncia. A hist�ria gira em torno de tr�s protagonistas, Lurdes (Regina Cas�), Vit�ria (Ta�s Ara�jo) e Thelma (Adriana Esteves), mulheres de classes sociais diferentes que enfrentam uma s�rie de dilemas relacionados ao papel da maternidade.

Lurdes, de longe a mais querida do p�blico, � uma empregada dom�stica nordestina que se muda para o Rio de Janeiro com os filhos Magno (Juliano Cazarr�), Ryan (Thiago Martins), �rica (Nanda Costa) e Camila (J�ssica Ellen), em busca de Dom�nico (Chay Suede), vendido na inf�ncia pelo pr�prio pai, comprado e criado por Thelma, batizado como Danilo. Vit�ria, por sua vez, � uma advogada bem-sucedida que chega aos 45 anos sem filhos e, de repente, se v� m�e de Sandro (Humberto Carr�o), Tiago (Pedro Guilherme Rodrigues) e da beb� Sofia.

Apesar de todo o melodrama t�pico dos folhetins globais, desde o in�cio Amor de m�e surpreende por renovar a linguagem da novela, com planos de c�mera que remetem ao cinema e a seriados de TV. Ainda que mais recentemente tenha ganhado um tom jocoso por conta das cenas de Regina Cas�, a trama aborda uma s�rie de quest�es dram�ticas do cotidiano, como os problemas ambientais da Ba�a de Guanabara, no Rio de Janeiro, a luta de estudantes secundaristas e as delicadas quest�es que envolvem os egressos do sistema penitenci�rio.

Escrita por Manuela Dias e com dire��o-geral e art�stica de Jos� Luiz Villamarim, Amor de m�e sai do ar em seu auge, no 102º cap�tulo, com Thelma, uma das protagonistas, se tornando a grande vil� da trama para esconder o segredo de que Danilo, na verdade, � Dom�nico, o filho perdido de Lurdes, sua melhor amiga. Uma segunda parte – ou a season finale, como s�o chamados os finais de temporada das s�ries – pode se tornar o grande trunfo da novela para segurar a audi�ncia e se aproximar, ainda mais, de uma linguagem televisiva renovada.

 Na contram�o de Amor de m�e, Fina estampa � o tipo de novela que reitera uma s�rie de v�cios j� superados pela dramaturgia da Globo. Um deles, por exemplo, � o manique�smo das personagens principais, Griselda (Lilia Cabral) e Tereza Cristina (Christiane Torloni). 

A primeira delas representa a m�e batalhadora que enriquece ap�s um golpe de sorte e muda completamente de vida. J� a segunda � uma vil� que se desdobra em artimanhas para atrapalhar a vida da mocinha. Apesar disso, a novela de Aguinaldo Silva, dirigida por Wolf Maya, pode ser o al�vio c�mico de que a programa��o da TV aberta precisa para superar as 11 horas ao vivo de telejornais prometidas.