Quando o cinema se confunde com a realidade

O longa espanhol O po�o, produ��o original da Netflix, estreou mundialmente na plataforma de streaming em 20 de mar�o, quando a quarentena se impunha sobre o Ocidente, diante do avan�o global do novo coronav�rus. Coincid�ncia ou n�o, o thriller de horror sobre uma pris�o que confina pessoas em celas � beira de um grande e misterioso abismo n�o saiu da lista dos dez mais vistos no servi�o. A empresa n�o costumava divulgar dados relacionados � sua audi�ncia, mas recentemente inaugurou a ferramenta ‘Top 10’, que mostra o que est� sendo mais acompanhado em cada pa�s. No Brasil, os dias de isolamento residencial tamb�m promoveram o j� conhecido Epidemia, de 1995, ao grupo dos mais acessados. Se os filmes se tornam um importante recurso nos dias em casa, a pr�pria situa��o de distanciamento social parece ser um tema de grande interesse, que j� apareceu muitas vezes no cinema.

N�o demorou muitos dias para O po�o virar tend�ncia tamb�m nas redes sociais. Sob dire��o de Galder Gaztelu-Urrutia, a hist�ria ficcional escrita por David Desola e Pedro Rivero mostra um experimento antropol�gico que encarcera pessoas, aos pares, em uma pris�o vertical em que todas as celas s�o conectadas por um enorme fosso. Por ele, diariamente desce uma plataforma, pavimento por pavimento, com um farto banquete. Os detentos t�m alguns poucos minutos para comer o que quiserem, sem poder retirar nada dali. Se essa regra � desrespeitada, a temperatura do confinamento � aumentada ou diminu�da de forma mortal. O que sobra de uma cela desce para a outra, sucessivamente. Os personagens n�o sabem ao certo quantos andares existem, mas a cada m�s s�o deslocados – para cima ou para baixo. E � �bvio – palavra mais repetida no longa – que, quanto mais abaixo, menos se come.

Todas as cenas se passam nesse confinamento e o protagonista Goreng (Iv�n Massagu�) tenta mudar as coisas, depois de viver experi�ncias aterrorizantes l� dentro. Muito exaltado por sua forte cr�tica social, mas tamb�m depreciado por falhas no roteiro (no Metacritic, que calcula a m�dia das avalia��es da cr�tica internacional, a nota � 7,3), o lan�amento ainda assim entra para a lista de filmes que abordam a condi��o humana no extremo do isolamento.

Com premissa parecida com a de O po�o, No topo do poder (2016) tamb�m traz pessoas isoladas em uma grande constru��o vertical. No entanto, uma torre luxuosa e confort�vel – pelo menos para os mais privilegiados moradores dos andares de cima. Nem por isso os conflitos deixam de aparecer, quando falhas de manuten��o ocorrem e as necessidades impostas geram o caos entre os moradores, revelando tamb�m um forte contraste entre as classes. Dirigido por Ben Wheatley e estrelado por Tom Hiddleston, o filme � baseado em livro de mesmo nome, escrito por J. G. Ballard.

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Uma doen�a devastadora tamb�m pode implicar em solid�o absoluta. Ou melhor, antes fosse absoluta. � o caso da fic��o estrelada por Will Smith, lan�ada em 2007. Depois de uma epidemia dizimar o planeta, seu personagem vive em uma Nova York deserta e sua rotina consiste em passar o dia procurando outros sobreviventes pelas ruas vazias da ex-metr�pole. Por�m, ele n�o est� totalmente sozinho e as noites s�o angustiantes e aterrorizantes.

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Neste longa de 2008, dirigido por M. Night Shyamalan, diante de uma misteriosa onda do que parecem ser suic�dios coletivos nas grandes cidades, um professor de ci�ncias vivido por Mark Wahlberg re�ne sua fam�lia para escapar de Nova York. A amea�a se mostra ainda mais complexa e a sobreviv�ncia depender� do isolamento em grupos.

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O filme de Steven Soderbergh, lan�ado em 2011, � apontado como uma das tramas mais pr�ximas � realidade do novo coronav�rus. A fic��o de elenco estrelado, que inclui Jude Law, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet e Matt Damon, conta sobre uma epidemia que come�a na �sia e logo se espalha pelo planeta, matando milh�es em poucos dias. O clima de apreens�o, suspense e at� horror criado na hist�ria se deve em especial �s ruas desertas e abandonadas, aeroportos fechados, entre outros desdobramentos da quarentena geral.

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Em outros casos, a fic��o se mistura com o horror, sob outras perspectivas, para explorar os dramas da solid�o ou do conv�vio em um grupo restrito diante do perigo. Um exemplo � Ao cair da noite (2017), de Trey Edward Shults. Quando uma amea�a letal � sa�de global est� l� fora, um pai se encontra seguro e protegido com mulher e filhos em sua confort�vel casa, at� que outra fam�lia aparece desesperada pedindo abrigo. Como lidar com a situa��o?

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Outro caso � o cl�ssico suspense de Stanley Kubrick, estrelado por Jack Nicholson. No filme lan�ado em 1980, seu personagem aceita o desafiador emprego de cuidar de um hotel distante e desativado, durante o inverno. Ele leva mulher e filho, mas os dias de isolamento reservam surpresas assustadoras para a fam�lia, em uma trama que explora as tens�es psicol�gicas causadas pela solid�o e pelo distanciamento social.

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O isolamento no cinema nem sempre est� atrelado a uma epidemia ou a um mal misterioso que destruir� o planeta. Em O quarto de Jack (2016), Brie Larson e Jacob Tremblay s�o uma m�e e um filho de 5 anos que vivem confinados em um c�modo desde o nascimento do garoto. Sem contato com o mundo exterior, a n�o por uma claraboia e pela estranha presen�a do homem que os mant�m em cativeiro, ela bola um plano para tentar fugir. O papel rendeu o Oscar de melhor atriz para Larson.

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Para quem prefere uma abordagem mais leve sobre estar s�, sem contextos que envolvam grandes amea�as apocal�pticas ou doen�as contagiosas, t�o presentes nos notici�rios atuais, o drama com Tom Hanks � uma op��o. Lan�ado em 2001, o filme mostra a rotina de sobreviv�ncia de um homem em uma ilha deserta, depois de sobreviver a um acidente a�reo.

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Cen�rios apocal�pticosh� muito fazem parte do imagin�rio cinematogr�fico. O filme dirigido e estrelado por Casey Affleck � um exemplo. Lan�ado em 2019, o longa se passa em um mundo devastado por um v�rus que matou quase todas as mulheres. A filha do personagem de Affleck � uma das raras sobreviventes e o pai tenta esconder a garota. O conflito de informa��es entre os dois � o que guia o suspense.

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