
Como levar o riso para dentro dos hospitais sem ir at� l�? Essa pergunta inquietou os membros do Instituto Hahaha, desde que a pandemia do novo coronav�rus come�ou e as medidas de distanciamento social foram consideradas imprescind�veis para deter a dissemina��o do v�rus. Depois de muito “quebrar a cabe�a”, o grupo de palha�os que atuam em institui��es hospitalares viu nas redes sociais uma solu��o poss�vel. E decidiu tentar.
“O espa�o hospitalar � muito s�rio e adulto, e os palha�os ajudam as crian�as a se lembrarem de que s�o crian�as. A arte � regeneradora e complementar no tratamento, ajudando-as a passar por ele com mais facilidade”, afirma Eliseu Cust�dio, gestor do Instituto Hahaha e respons�vel por dar vida ao palha�o Dr. Cust�dio.
Assim que surgiu a pandemia, o grupo percebeu que n�o poderia continuar com as atividades presenciais. “N�s ser�amos vetores, porque circulamos muito pelo hospital. Ent�o percebemos que n�o haveria como, precis�vamos sair de cena. Aceitamos o contexto e n�o paramos de trabalhar”, diz Eliseu.
Para continuar levando as palha�adas para dentro dos quartos hospitalares, o grupo criou o Plant�o Hahaha, por meio do qual s�o feitas “teleconsultas da alegria” com as crian�as. “Antigamente, t�nhamos hor�rios fixos. Agora estamos atendendo de acordo com a demanda, respeitando o dia a dia de cada hospital”, diz ele.
Al�m das teleconsultas, o grupo lan�ou o Canal Hahaha no YouTube. Nele s�o postados, duas vezes por semana, v�deos com dura��o de dois a tr�s minutos, nos quais os palha�os da equipe fazem brincadeiras e contam piadas. Os v�deos s�o tamb�m compartilhados em grupos de WhatApp das m�es de crian�as hospitalizadas e nas redes sociais do instituto.

REALIDADE
“A gente vai lidando com a realidade que tem. O que n�o podemos, de maneira nenhuma, � sobrecarregar os profissionais de sa�de”, ressalta Eliseu. Mas ele diz que os pr�prios profissionais da sa�de cobram os v�deos, j� que, devido ao surto de COVID-19, as sa�das das crian�as dos quartos foram reduzidas, e elas precisam de conte�dos para se distrair.O grupo atua no Hospital das Cl�nicas da UFMG, Santa Casa, Hospital da Baleia, Hospital Infantil Jo�o Paulo II, Hospital Jo�o XXIII, Hospital Paulo de Tarso e Instituto Geri�trico Afonso Pena (Igap). Em cada um deles, os profissionais se esfor�am para que os pacientes tenham acesso aos conte�dos, seja por tablets, televisores ou celulares particulares emprestados pela equipe da unidade.
“� um jeito de estar perto, mesmo estando longe. A gente fingindo que � m�dico e tentando consultar. O palha�o entra nesse jogo de tentar acertar e sempre errar. E o erro � o sucesso”, comenta Eliseu.
O gestor do projeto admite que n�o est� sendo f�cil para a equipe se adequar � produ��o dos v�deos. “Cada palha�o na sua casa, com seu cachorro, gato, na cozinha, mostrando os objetos. Mas estamos assumindo com alegria, inova��o e aprendendo. Uns s�o mais �geis, outros t�m mais dificuldades. Vamos ajudando um ao outro.”
O mais importante � que o resultado do esfor�o, ainda que tenha precariedades, seja visto. “Se tem p�blico, o palha�o se mostra. Ele quer ser amado, est� buscando o olhar por tr�s da c�mera, escutando, amando. O palha�o � doido para encontrar”, diz Eliseu. Segundo ele, a equipe tem recebido muitos elogios das crian�as, dos profissionais da sa�de e das institui��es que patrocinam o projeto.
Criado em 2012, o Instituto Hahaha � composto por 23 pessoas, entre artistas, m�dicos, profissionais da administra��o e da comunica��o. “� um trabalho profissional, n�o amador”, afirma Eliseu, ao ressaltar os treinamentos feitos pela equipe.
“N�o tem uma receita: a crian�a � quem manda. A gente vai conquistando e criando v�nculos. N�o podemos sair e deixar o quarto na mesma energia, a nossa fun��o � transformar o ambiente.”

Com saudades, crian�as gravam
mensagens para os palha�os
Para algumas das crian�as atendidas pelo Instituto Hahaha, as visitas dos palha�os n�o s�o apenas um modo de aliviar a tens�o do ambiente, mas tamb�m o �nico contato que t�m com o mundo fora do hospital.
“Desde que ela foi internada, n�o pode ir para casa. � muito dif�cil os familiares virem, e o pai s� pode vir de vez em quando. Nesse contato com o Instituto, ela vem evoluindo muito rapidamente. Com eles, ela conversa e brinca”, afirma Adriana dos Santos, sobre a filha Emanuelly, de 5 anos.
Emanuelly tem miopatia intestinal visceral e est� h� dois anos internada no Hospital das Cl�nicas. Adriana explica que as visitas n�o apenas divertem a filha, mas ajudam no tratamento e no crescimento da crian�a. “Ela � muito inteligente, mas n�o pode ir para a escolinha. Com eles (os palha�os) ela evolui muito. Ela conhece e sabe o nome de cada um deles”, diz a m�e.
“Essa pandemia atrapalhou bastante, porque eles n�o podem vir. Mas ela se comunica com eles (os palha�os) pela internet e pelo WhatsApp. Eles mandam v�deos para ela, e ela manda v�deos para eles e grava �udios. � muito bom eles manterem esse contando com ela. Eu fico muito feliz com isso.” A fam�lia de Adriana mora em Ponte Nova, o que dificulta as visitas de parentes. Para as duas, o hospital � como uma segunda casa.
DOR
Segundo o pediatra S�rgio Diniz Guerra, do Hospital da Baleia, o trabalho do Instituto nos hospitais faz com que a rela��o entre as crian�as e a equipe de sa�de melhore. Al�m de fazer com que os pequenos se alimentem melhor, em alguns casos, ajudam para que precisem de menos rem�dios para dor.No Hospital da Baleia, S�rgio, que tamb�m � aprendiz de palha�o, foi o respons�vel por ajudar os pacientes a entender como funciona o "Plant�o Hahaha" e as consultas on-line que o Instituto vem promovendo nesse per�odo da pandemia. “Fiz alguns v�deos com as crian�as falando que est�vamos com saudades do Hahaha. E as fam�lias n�o s� permitiram, mas pediram que eu os publicasse, conta o pediatra.
Os v�deos gravados por ele foram publicados no Instagram (@sergiodinizguerra) e enviados ao Instituto. A partir da�, os pais das crian�as tomaram a frente e passaram e se comunicar diretamente com os palha�os. “Como o Instituto vinha duas vezes por semana, as crian�as e adolescentes criaram v�nculos e sentem falta. O atendimento on-line ameniza muito isso”, avalia.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora Silvana Arantes