(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

S�rie revela lado sem glamour da trajet�ria de Rock Hudson

Produ��o da Netflix, Hollywood � um retrato real dos bastidores do mundo cinematogr�fico diante dos grandes tabus como op��o sexual e cor da pele


postado em 08/06/2020 04:00

Atração da Netflix, com Jake Picking, tenta revelar como seria a trajetória de astros do mundo do cinema sem tabus sobre gays, negros e mulheres(foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO)
Atra��o da Netflix, com Jake Picking, tenta revelar como seria a trajet�ria de astros do mundo do cinema sem tabus sobre gays, negros e mulheres (foto: NETFLIX/DIVULGA��O)

Este 2020 bem sinistro marca os 95 anos de nascimento de um astro e os 35 anos de seu ocaso. Ator de 70 filmes, pe�as de teatro e programas de televis�o, Roy Harold Scherer Jr. entrou para a hist�ria da s�tima arte na pele do poderoso Rock Hudson, nome forte como uma rocha, um gal� imbat�vel nas d�cadas de 1940 e 1950, quando Hollywood representava, mais do que nunca, o sin�nimo de sonho e trazia para o mundo dos simples mortais hist�rias e mais hist�rias na tela. Os bastidores, claro, precisavam ser mantidos � margem do p�blico para n�o macular a alma do neg�cio.

Rock Hudson parece nunca ter sa�do de cena, mas voltou aos holofotes com a s�rie Hollywood, cria��o do talentoso Ryan Murphy e em cartaz na Netflix, que conta como poderia ter sido a trajet�ria de muitos artistas, diretores, roteiristas e executivos na meca do cinema se n�o existisse tanta resist�ncia a gays, negros, pessoas com ascend�ncia asi�tica e mulheres no comando. Personagens, incluindo o jovem Roy, depois Rock (Jake Picking), de um universo muitas vezes perverso e iluminado pelo glamour da f�brica de expectativas. Vale tudo, ou quase tudo, para fazer parte do chamado star system, mesmo que � custa de l�grimas. Mas quem est� na chuva � para se molhar, chegou a dizer o ator longe dos est�dios.

Confesso que n�o sou muito f� de s�ries, mas acabei me rendendo a Hollywood por insist�ncia de um grande amigo. Sabendo que adoro cinema, e especificamente essa �poca dos anos dourados, falou direto no meu ouvido: "N�o pode perder". Como n�o sou assinante do servi�o de streaming (acho pedante demais essa palavra, me desculpe, leitor), reservei algumas noites, devidamente mascarado e com distanciamento social, para ir � casa de um vizinho e assistir aos sete epis�dios da s�rie nessa quarentena. Acabei me tornando, como se dizia em priscas eras, um "televizinho". Fiquei impressionado com a hist�ria, a trama, a apresenta��o, e, principalmente, com os primeiros passos na carreira de Rock Hudson, ainda um garot�o meio caipira, vindo dos cafund�s dos Estados Unidos, e se tornando presa f�cil de agentes inescrupulosos e prontos para dar o bote na carne fresca em troca de um teste e do t�o almejado contrato para um filme.

Quando acabei de assistir a Hollywood, senti que, pela primeira vez nessa �poca de pandemia, tinha me libertado um pouco do massacre do coronav�rus, das trapalhadas da pol�tica e de outros fatos que andam deixando o pa�s de cabelo em p�. Ent�o, minha provid�ncia imediata foi saber mais sobre a vida de Rock Hudson. Recordo-me bem de quando ele morreu (2/10/1985), mas, sinceramente, n�o cheguei a dar muito valor ao seu trabalho. Acho at� que nunca vi em retrospectivas no cinema ou canais cult na tev� muitos filmes estrelados por ele – uma pena, pois fez cl�ssicos como Assim caminha a humanidade (Giant), com Elizabeth Taylor e James Dean, e O segundo rosto, dirigido por John Frankenheimer.
Para recuperar parte desse tempo perdido e esse vazio no meu curr�culo, pois adoro o escurinho do cinema, mergulhei no livro Rock Hudson – Hist�ria de sua vida, com depoimentos dele a Sarah Davidson e relatos de amigos �ntimos. Antes, conversei com outro amigo, estudante de cinema, e falamos longamente sobre a produ��o. E aproveitei, enquanto lia, para ver v�deos, entrevistas, a face das pessoas citadas e muitas fotos.

Ao lado de Doris Day, Rock Hudson viveu alguns de seus grandes papéis (foto: AFP)
Ao lado de Doris Day, Rock Hudson viveu alguns de seus grandes pap�is (foto: AFP)

AIDS

Rock, que morreu antes de completar 60 anos (nasceu em 17/11/1925), saiu de cena v�tima da Aids – na verdade, o primeiro grande nome, no distante ano de 1985, a revelar que tinha a doen�a. Foi um abalo. Embora sua movimentada vida homoafetiva fosse de conhecimento de muita gente no meio art�stico, para a legi�o de f�s mundo afora se tornava algo impens�vel. A tela exibia um homem viril, o gal� rom�ntico, sedutor at� o �ltimo fio de cabelo, aquele por quem (quase) toda mulher suspirava e gostaria de ter entre os len��is, como se estivesse no lugar de Doris Day, e bem na fita em Confid�ncias � meia-noite (Pillow talk). Com o calv�rio da do- en�a, ent�o alvo de muitos preconceitos, e sem as terapias antirretrovirais, Rock ficou pele e osso no seu fim, mas atraiu as aten��es para a necessidade de pesquisas e de respeito aos pacientes.

Vida turbinada, mas tamb�m de pequenos prazeres


A hist�ria de Rock Hudson � cheia de afetos e desafetos, encontros e desencontros, acertos e trombadas (literalmente, acidentes) e bebedeira. Ele mesmo dizia que tinha duas prefer�ncias na vida: a carreira e o sexo. Uma inc�gnita na sua trajet�ria est� no casamento, que durou dois anos, com a secret�ria do seu agente. Uns diziam que tudo tinha sido arranjado pelos chef�es do est�dio. Afinal, era imperdo�vel um homem na casa dos 30 anos, admirado no mundo inteiro, ainda continuar solteir�o. Por�m, uns creditavam a uma paix�o verdadeira.

Mas mexericos n�o fazem uma hist�ria, e o melhor das p�ginas � conhecer um pouco da engrenagem da ind�stria cinematogr�fica, a constru��o de um ator, as longas viagens, relacionamentos, amizades que se formam, escolha dos roteiros, vaidades e o susto de ver a luz da popularidade ser ofuscada.

Um dos maiores prazeres de RH, que tinha casa "cinematogr�fica" em Beverly Hills, era viajar. E realizou um dos desejos: conhecer o carnaval do Rio de Janeiro, o que fez no in�cio da d�cada de 1970. Participou de festas na Cidade Maravilhosa, ensaio de escola de samba, desfile de fantasias e "dan�ou o samba", com seu 1,96m de altura. J� perto de morrer, o ator se lembrou afetivamente dessa viagem.

Quem j� viu na tela de cinema o homem grand�o, de cabelos pretos e olhar provocante, nem imagina que, na intimidade do lar, ele poderia gostar de bordar. E tamb�m de encher a cara de u�sque, de cuidar das plantas e bater papo com os amigos do peito. O livro da d�cada de 1980, entre tantos j� escritos sobre o astro, n�o � uma grande obra liter�ria, mas tem sinceridade. E permite que o leitor entenda o senso de humor, a dedica��o do ator ao seu of�cio e a alegria de viver. Tomara que, assim que passar essa pandemia louca, algum exibidor se anime a fazer um festival Rock Hudson. Ser� �tima oportunidade para que os mais jovens conhe�am o borogod� do �dolo de um tempo em que astros de Hollywood eram feitos de corpo, alma e, acima de tudo, de uma grande ilus�o.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)