Com seis epis�dios, a s�rie come�a mostrando a fama do m�dium (amigo dos poderosos, bon vivant entre os famosos e com tr�nsito entre personalidades internacionais). Depois, explica as descobertas da produtora e roteirista Camila Appel, do programa Conversa com Bial, sobre ind�cios de abuso sexual por parte do m�dium.
F�
A apura��o come�ou quando Bial se recusou a ir a Abadi�nia, em Goi�s, onde o m�dium mantinha um centro de atendimentos espirituais, como condi��o para a entrevista de Jo�o de Deus a seu programa. “Ele falava que tudo o que pedia para quem ia at� l� era f�, e isso eu n�o podia dar”, diz o apresentador, no document�rio.
Camila Appel conversou com uma conhecida que havia trabalhado no centro, que lhe revelou informa��es sobre abusos sexuais cometidos pelo m�dium. A produtora localizou v�timas brasileiras, que n�o se mostraram � vontade para aparecer em frente �s c�meras. V�rias se sentiam amea�adas pela estrutura de poder (criminosa, como ficou comprovado mais tarde) e at� pela espiritualidade de Jo�o de Deus.
A produtora e roteirista entrou em contato com a bailarina holandesa Zahira Lieneke Mous, que deu um depoimento corajoso sobre abusos que sofrera nas m�os do m�dium, exibido no programa Conversa com o Bial, em 7 de dezembro de 2018. Essa revela��o fez com que Jo�o Teixeira de Faria, o Jo�o de Deus, fosse investigado, condenado e preso. Em mar�o deste ano, ele foi autorizado a mudar para o regime domiciliar devido � pandemia do novo coronav�rus.
Posteriormente, o document�rio reuniu outras v�timas em uma roda de conversa, certamente um dos momentos mais emocionantes da s�rie. “Fazer o convite para essas mulheres falarem era fazer um convite para relembrar a dor”, explica Camila Appel. “� um convite dif�cil. O m�nimo � ter empatia, tentar entender. N�o oferecemos cura, n�o temos esse objetivo, mas acreditamos que mostramos que esse compartilhar da dor pode ser algo bonito.”
Camila se sente orgulhosa de seu trabalho. “As mulheres questionavam que a gente n�o ia conseguir colocar, que n�o seria feito da maneira adequada. Mas foi – e foi um orgulho imenso.”
Bial ainda tenta entrevistar o m�dium. Segundo o jornalista, Jo�o de Deus se comprometeu a conversar com ele em seu programa. De acordo com o apresentador, � improv�vel que uma hist�ria assim ocorresse em outro lugar que n�o o Brasil.
“Temos a tradi��o hist�rica sebastianista de buscar um salvador da p�tria. O fato de as pessoas que iam at� l� buscar ajuda se encontrarem em uma situa��o de desespero acrescenta mais uma camada de horror, ou seja, ele se aproveitou das pessoas no momento mais vulner�vel delas”, observa.
MEDO
Camila Appel diz que as brasileiras v�timas da viol�ncia sexual do m�dium tinham muito medo da rede de prote��o ao redor de Jo�o de Deus, de sua influ�ncia pol�tica e da poss�vel viol�ncia contra suas fam�lias. “At� hoje existe o medo de retalia��o espiritual. � muito dif�cil lidar com esse tipo de medo. Exige delicadeza lidar com a f� das pessoas. Foi um processo paciente, de muito tempo conversando sobre como a quebra do sil�ncio pode ser importante e sobre consequ�ncias positivas (dos depoimentos). No Brasil, existe uma cultura muito forte de descredibilizar as v�timas”, lamenta.
Camila ficou impressionada ao descobrir que as mulheres j� haviam tentado, sem sucesso, denunciar os fatos no passado. “Elas n�o foram ouvidas. Temos o caso de uma menina que h� mais de 10 anos o processou e ele foi inocentado. Uma mulher, em 2016, confrontou Jo�o de Deus e seu c�rculo mais pr�ximo, fez boletim de ocorr�ncia, fez den�ncia on-line ao Minist�rio P�blico e n�o houve consequ�ncias”, relata a produtora.
Em nome de Deus tem dire��o de conte�do de Fellipe Awi e dire��o de Monica Almeida, Gian Carlo Bellotti e Ricardo Calil.
EM NOME DE DEUS
S�rie documental
Seis epis�dios
Nesta ter�a-feira (23), �s 23h15, na TV Globo e no Globoplay
A partir de quarta-feira (24), no Canal Brasil