
"Este momento � cheio de ansiedade, mas tem sido bastante produtivo, principalmente por eu poder manter a conex�o virtual com o p�blico"
Sebasti�n Pirac�s-Ugarte, m�sico
Nascido no M�xico e radicado no Brasil, o m�sico Sebasti�n Pirac�s-Ugarte, integrante da banda Francisco, el Hombre, foi criado por pai chileno e m�e mexicana. O casal sempre tinha � m�o um exemplar do livro Sidarta, de Hermann Hesse (1877-1962), que exalta a busca pela sabedoria. Os dois, no entanto, divergiam sobre os meios de alcan��-la. Ele, um “velho comunista” – nas palavras do filho –, acreditava na transforma��o coletiva como forma de mudar o mundo. Ela, “riponga”, julgava que a mudan�a era interior, deveria partir de dentro, do indiv�duo.
� a partir dessa hist�ria que Sebasti�n explica o contexto que o levou a se desligar um pouco da produ��o coletiva de sua banda e iniciar o projeto solo Sebastianismos, cujo �lbum, lan�ado pelo selo Antikontra, est� dispon�vel nas plataformas digitais.
“O disco � algo que eu queria fazer por mim mesmo”, explica ele. “Minha vida art�stica sempre foi em coletivo, nunca tive a oportunidade de me entender enquanto indiv�duo e acho que isso � uma quest�o importante para conseguir aproveitar a vida. Por isso, me dei a miss�o de escrever m�sicas sem defini-las previamente, simplesmente colocando as coisas no mundo. Esse trabalho � isso, � muito de quem eu sou: uma mistura de sexo, amor e revolu��o.”
Ao longo das 12 faixas, a sonoridade vai do reggaeton ao punk rock. As letras falam de amor, sexo e pol�tica, al�m de misturar versos em portugu�s e espanhol, como j� ocorre em trabalhos da Francisco, el Hombre.
“Desde 2013 a gente vive colado um no outro, ent�o nosso desenvolvimento pessoal � interdependente. No ano passado, a gente come�ou a perceber que se cada um pudesse explorar sua pot�ncia individual, poder�amos melhorar enquanto coletivo”, conta Sebast�an, negando qualquer boato de que o grupo estaria em processo de dissolu��o.
banda “Ao mesmo tempo em que cada um lan�a projetos solo, a Francisco est� sempre se reunindo. Para viver em coletividade, � preciso entender qual � o seu papel individual”, completa o m�sico, referindo-se aos colegas de banda Mateo Pirac�s-Ugarte, Juliana Strassacapa e Andrei Martinez.
Apesar de ser voo solo, Sebastianismos conta com a participa��o de Russo Passapusso em Kontrasistema, Malfeitona na can��o Ai meu cora��o e Jaloo em Calma, faixa produzida por Lucas Silveira, da banda Fresno, que tamb�m trabalhou em Sexo de manh� e Fudeu.
Com participa��o da cantora paraense Lu�, Ouvidinho teve como ponto de partida as can��es do in�cio de carreira do Skank. A faixa conta com a presen�a de Lelo Zaneti, baixista da banda mineira, al�m de ter sido produzida por Dudu Marote, nome por tr�s dos discos Calango (1994) e O samba pacon� (1996).
“Quando cheguei no Brasil, com uns 12 anos, lembro-me de conhecer duas bandas que amei logo de cara: Paralamas do Sucesso e Skank”, relembra Sebasti�n. “No ano passado, quando a Francisco foi gravar Matilha com o Dudu, mostrei Ouvidinho para ele e disse que meu sonho era ter a roupagem do Skank ali. Ele pirou na ideia, acionou o Lelo e o Haroldo (Ferretti) numa videochamada. Depois disso, o Lelo topou gravar o baixo. Fiquei muito emocionado com essa generosidade dele.”
Lan�ado em 29 de julho, Sebastianismos estava programado inicialmente para o dia 11, mas foi adiado por conta das manifesta��es do Black Lives Matter. Aconselhado a esperar o fim da quarentena para colocar o disco na pra�a, Sebasti�n confessa que � estranho n�o poder comemorar o lan�amento, ao mesmo tempo em que n�o poderia adiar a chegada dele.
“Estamos vivendo uma esp�cie de purgat�rio, com vari�veis contrastantes. O mundo n�o para de rodar, mas roda diferente. N�o sei se talvez fosse melhor lan�ar quando tudo isso passar, porque a gente n�o sabe quando vai acontecer e nem se de fato existir� uma nova normalidade, como muito se fala”, pondera.
BAHIA Sebasti�n tem aproveitado para trabalhar em casa. Rec�m-chegado a Salvador, onde passa a quarentena, ele produziu com objetos do cotidiano o clipe de Sexo de manh�. Antes disso, lan�ou o v�deo de Culto al culo, inspirada no brega funk recifense, com letra em homenagem ao bumbum, gravada antes da pandemia.
J� Fudeu, o clipe mais recente, lan�ado no in�cio de junho, foi feito de forma colaborativa com v�deos enviados por f�s ap�s um pedido nas redes sociais.
“Desde 2013, n�o fico tanto tempo parado geograficamente. � claro que este momento � cheio de ansiedade, mas tem sido bastante produtivo, principalmente por eu poder manter a conex�o virtual com o p�blico. Tenho me movimentado bastante, criativamente falando, e a banda j� come�ou a pensar no pr�ximo disco. Come�amos a escrever as m�sicas a dist�ncia e temos mais material in�dito programado at� o fim de 2020.”
O �ltimo lan�amento da Francisco, el Hombre, Rasgacabeza, saiu em mar�o de 2019. Antes disso, a banda lan�ou o disco de estreia, Soltasbruxa (2016), e o EP La pachanga! (2014).
Motivado pelos dias em casa, Sebasti�n acredita que ainda pode produzir muito durante a quarentena. “A gente s� tem uma vida e acho que o melhor jeito de aproveitar � aprendendo, se desenvolvendo, estudando muito e compondo.”
