
Em Ouro Preto, a 95 quil�metros da capital, onde ocorreu o supl�cio de Filipe dos Santos no local onde hoje fica o distrito de Cachoeira do Campo, a programa��o em 2020 seria festiva: al�m dos 300 anos do epis�dio que daria origem ao estado de Minas Gerais, a primeira cidade brasileira reconhecida como patrim�nio da humanidade comemora quatro d�cadas do t�tulo, concedido pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). A pandemia do novo coronav�rus, por�m, atropelou os festejos.
Mesmo com o cancelamento dos eventos presenciais, uma obra importante est� em andamento em Cachoeira do Campo. De acordo com a secret�ria municipal de Cultura e Patrim�nio, Deise Lustosa, prossegue o restauro, com servi�os agora na cobertura, do Solar dos Pedrosa, casar�o vizinho � Igreja Nossa Senhora de Nazar�, templo do s�culo 18 que foi cen�rio de outros momentos �picos da hist�ria, como a Guerra dos Emboabas (1707-1709).
A obra no �ltimo sobrado do distrito � conduzida com financiamento da Prefeitura de Ouro Preto obtido no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), no valor de R$ 1 milh�o, com contrapartida do munic�pio de R$ 200 mil.
Nascido e criado no distrito, o professor de hist�ria da arte Alex Bohrer, autor de dois livros sobre Ouro Preto, informa que havia no povoado 230 im�veis hist�ricos, entre sobrados e casar�es. Hoje, resta apenas o Solar dos Pedrosa, nome de fam�lia que l� viveu, na Pra�a Filipe dos Santos ou da Matriz.

"A Sedi��o de Vila Rica est� a reclamar maiores estudos por parte dos historiadores, pois ainda � pouco o que se sabe sobre seus principais personagens e suas circunst�ncias, se compararmos com outros movimentos insurgentes ocorridos em Minas Gerais no s�culo 18, notadamente a Inconfid�ncia Mineira"
Marcos Paulo de Souza Miranda, presidente da Comiss�o de Hist�ria de Minas do IHGMG
MAIS PESQUISAS
Passados tr�s s�culos, “a Sedi��o de Vila Rica est� a reclamar maiores estudos por parte dos historiadores, pois ainda � pouco o que se sabe sobre seus principais personagens e suas circunst�ncias, se compararmos com outros movimentos insurgentes ocorridos em Minas Gerais no s�culo 18, notadamente a Inconfid�ncia Mineira (1789)”, explica Marcos Paulo de Souza Miranda.
Segundo o promotor de Justi�a, pesquisador e autor de livros, a historiografia tem dado �nfase �s figuras de Paschoal da Silva Guimar�es, que seria o cabe�a do movimento, e de Filipe dos Santos Freire, que pagou com a pr�pria vida o desafio � autoridade do ent�o governador, o conde de Assumar.
O especialista explica que tamb�m foram considerados articuladores do movimento e remetidos presos, inicialmente ao Rio de Janeiro e posteriormente a Portugal (1722), Manoel Mosqueira da Rosa, Sebasti�o da Veiga Cabral, Ant�nio Nunes Reis, Jos� Peixoto da Silva, Jos� Ribeiro Dias, Jo�o Ferreira Dinis, Ant�nio de Figueiredo Botelho, Manoel Moreira da Silva e frei Francisco do Monte Alverne. E acrescenta: “Documentos indicam que Tom� Afonso Pereira tamb�m foi preso pelo tenente Jos� de Moraes, condenado � morte pelo conde e executado em Vila Rica”.
Na avalia��o do pesquisador, torna-se necess�rio trazer novas informa��es sobre a biografia dos dois principais personagens do movimento, preenchendo lacunas at� ent�o n�o resolvidas pela historiografia. Ocorrida em meados de 1720, a chamada Sedi��o de Vila Rica pode ser definida como um movimento insurgente “que tinha como �nimo a oposi��o � cria��o das casas de fundi��o do ouro em p� em Minas Gerais, tarefa que, determinada em lei do ano anterior, devia ser colocada em pr�tica pelo conde de Assumar. Enviado pouco antes ao territ�rio, o governador se envolveu em desaven�as, gerando forte descontentamento entre a elite de ent�o.
PALESTRA
Fruto da parceria entre o Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais e o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais, est�o sendo apresentadas, sempre �s 19h, palestras virtuais no canal do instituto no YouTube sobre os 300 anos de Minas. Na ter�a-feira (29), o tema ser� “Sedi��o de Vila Rica”, com a participa��o do desembargador do TJMG Bruno Terra Dias e do promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda.
HOMENS DA SEDI��O
Os mais conhecidos
personagens da revolta
» Filipe dos Santos Freire
Por ter sido um dos �nicos a tramar a morte do conde de Assumar, sofreu a pena m�xima ap�s ser sumariamente julgado e condenado pelo conde. Foi enforcado, arrastado pelas ruas de Vila Rica e esquartejado. Segundo a senten�a, sua cabe�a deveria ser pregada no pelourinho de Vila Rica e seus quartos nas localidades de Cachoeira, S�o Bartolomeu, Itabira (atual Itabirito) e na Passagem do Ribeir�o Abaixo (atual Passagem de Mariana). A historiografia muitas vezes se refere a Filipe dos Santos como um simples e pobre tropeiro. Entretanto, an�lise de documento lavrado em Vila Rica em 1722 revela que ele era propriet�rio de quantia expressiva de bens (incluindo dois im�veis, roupas refinadas, escravos e cr�ditos), que somavam 1.501 oitavas de ouro. Foi batizado em 15 de janeiro de 1678 na Par�quia de S�o Vicente de Alcabideche, Conselho de Cascais, Portugal. Residindo em Lisboa, casou-se em 2 de agosto de 1701, na Freguesia de S�o Sebasti�o da Pedreira, com Teresa Maria.
» Paschoal da Silva Guimar�es
Batizado na Par�quia de Nossa Senhora de Oliveira da Vila de Guimar�es, em Portugal, em 4 de abril de 1673. Veio para o Brasil ainda jovem, passando a viver no Rio de Janeiro, onde se casou em 22 de janeiro de 1696. Mais tarde se mudou, tornando-se dos primeiros moradores das terras que se tornariam Minas Gerais. Era comerciante abastado, opulento propriet�rio rural na regi�o de Sabar� e grande minerador em Vila Rica. No Morro do Ouro Podre, tamb�m conhecido como Morro do Paschoal, tamanha a sua influ�ncia e extens�o de propriedades naquela por��o de Ouro Preto, deu in�cio � extra��o aur�fera. Na �rea militar, Paschoal ocupou diversos postos de relev�ncia.