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Estado de Minas CINEMA

Longa mineiro 'O lodo' estreia hoje na Mostra de SP

Filme de Helv�cio Ratton adapta obra hom�nima de Murilo Rubi�o e tem Eduardo Moreira como protagonista


22/10/2020 04:00 - atualizado 22/10/2020 07:23

A atriz Maria Clara Strambi em cena do longa sobre homem comum que entra em depressão e passa a se ver perseguido pelo psicanalista
A atriz Maria Clara Strambi em cena do longa sobre homem comum que entra em depress�o e passa a se ver perseguido pelo psicanalista (foto: Lauro Escorel/Divulga��o)
N�o � fora da curva somente em sua pr�pria carreira, mas tamb�m no percurso do cinema brasileiro. � dessa maneira que Helv�cio Ratton, de 71 anos, define seu novo longa-metragem, O lodo. Rodado em 2019, em Belo Horizonte, com elenco mineiro, pronto desde janeiro passado, quando teve uma �nica exibi��o na Mostra de Cinema de Tiradentes, o filme, atropelado pela pandemia do novo coronav�rus, teve seu lan�amento adiado de setembro para – quem sabe? – maio de 2021.

Mas na gaveta ele n�o est�. Convidado para participar da Mostra Brasil, se��o dedicada a t�tulos nacionais in�ditos na 44ª Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo, que tem in�cio nesta quinta (22), o filme est� dispon�vel via streaming. Com limite de at� 2 mil visualiza��es, O lodo poder� ser assistido pelo site mostra.org at� 4 de novembro.

“No conjunto do cinema brasileiro, � raro um filme assim. Trabalho numa dimens�o do fant�stico ï¿½ qual n�o estamos muito acostumados. A pr�pria obra do Murilo Rubi�o (o filme � uma adapta��o do conto hom�nimo que o escritor publicou em 1979) n�o tem paralelo. O realismo fant�stico latino-americano de Garc�a M�rquez � diferente. Murilo � mais ir�nico, sutil. Eu diria que ele faz um realismo fant�stico mineiro, no sentido de que seus personagens t�m suas esquisitices, estranhezas, com as quais me identifico muito. Vejo n�s, mineiros, ruminando as coisas sozinhos, cada um carregando seu lodo pr�prio”, comenta o cineasta.  

O lodo acompanha a jornada rumo ao abismo de um homem absolutamente comum. Funcion�rio de uma companhia de seguros, Manfredo (Eduardo Moreira), sozinho, sem filhos, que leva uma vida sem maiores atrativos, come�a a sofrer de depress�o. Procura um psiquiatra, Dr. Pink (Renato Parara). Logo na primeira sess�o, decide n�o dar continuidade ao tratamento. Quando o m�dico tenta voltar ao passado do personagem, ele se incomoda e se esquiva.

Mesmo decidido a dar um basta, Manfredo n�o consegue. � perseguido pelo Dr. Pink e sua secret�ria (Samira �vila), que liga insistentemente para avis�-lo do hor�rio marcado. Tamb�m em pesadelos o psiquiatra n�o o deixa em paz. O inc�modo acaba se tornando f�sico, quando Manfredo come�a a apresentar feridas no peito, de onde escorre um l�quido negro, o loda�al que ele carregava dentro de si, na opini�o do m�dico. O cerco vai se fechando at� que a chegada de Epsila (In�s Peixoto), mulher do passado de Manfredo, fecha o ciclo.

(foto: Bianca Aun/Divulga��o)

"O realismo fant�stico latino-americano de Garc�a M�rquez � diferente. Murilo � mais ir�nico, sutil. Eu diria que ele faz um realismo fant�stico mineiro, no sentido de que seus personagens t�m suas esquisitices, estranhezas, com as quais me identifico muito. Vejo n�s, mineiros, ruminando as coisas sozinhos, cada um carregando seu lodo pr�prio"

Helv�cio Ratton, diretor


ADAPTA��O 

O projeto de adaptar Rubi�o era inicialmente para uma s�rie. Foram trabalhados 13 roteiros e, quando veio a chance de filmar, Ratton escolheu O lodo “porque � pouco conhecido, uma pequena joia. E como sou formado em psicologia, trata-se de uma �rea em que transito.”

No cinema, O lodo se tornou um thriller psicol�gico, algo que Ratton nunca havia feito. Como realiza��o, n�o tem pontas soltas – dire��o, elenco, fotografia, montagem, m�sica e dire��o de arte dialogam o tempo inteiro. 

O filme � exibido na “janela cl�ssica” (o formato quadrado da tela, usado na televis�o at� o in�cio deste s�culo) e hoje muito pouco adotado pelo cinema. Ainda que seja ambientada no mundo contempor�neo, a narrativa ganha um ar atemporal. Boa parte da hist�ria foi rodada na regi�o central de Belo Horizonte, com destaque para o Edif�cio Itatiaia e a Pra�a da Esta��o. 

“Sempre que lia o conto, imaginava que era uma hist�ria para ser vista atrav�s de uma fresta. Ent�o optamos por uma janela mais quadrada (4:33) para confinar ainda mais o personagem”, diz Ratton, que filmou pontos de vista distintos sobre Belo Horizonte. H� desde uma antiga mans�o na Cidade Jardim, cen�rio do escrit�rio do Dr. Pink, at� uma passarela pr�xima ao Viaduto da Floresta que aparece em mais de uma cena.

(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

"O cinema exige uma imers�o muito bonita. O que aconteceu ali fica para a frente, voc� tem que estar muito sintonizado a tudo. J� o teatro � o contr�rio, pois voc� pode reensaiar, refazer. Gosto de experi�ncias intensas e acho �timo n�o ter tido um preparador de elenco, que vira uma esp�cie de intermedi�rio. Foi tudo feito pelo pr�prio Helv�cio"

Eduardo Moreira, ator


GALP�O 

Ratton sempre pensou em Eduardo Moreira como Manfredo. Aqui vivendo seu primeiro protagonista no cinema, o ator, um dos fundadores do Galp�o, acabou trabalhando com boa parte de seus colegas no grupo. Cinco outros atores do Galp�o est�o em O lodo: In�s Peixoto, Teuda Bara, Paulo Andr�, Ant�nio Edson e Fernanda Vianna. Rodolfo Vaz, ex-Galp�o, tamb�m tem um papel. 

“� um filme que tem um tom de interpreta��o muito dif�cil. Estamos lidando com o absurdo, mas esse tipo de fant�stico, na minha vis�o, s� funciona num contexto realista. N�o d� para fazer tudo absurdo, ou voc� perde o impacto. E a gente teria que filmar com muita rapidez, pois os recursos est�o dif�ceis, a Ancine (Ag�ncia Nacional do Cinema) paralisada. Isso nos exigiu filmar r�pido e bem. Ent�o, eu tinha que ter um elenco que j� soubesse o que fazer”, afirma Ratton, que rodou o longa durante quatro semanas e meia.

Eduardo Moreira, em grande momento, est� quase o tempo todo em cena. “O cinema exige uma imers�o muito bonita. O que aconteceu ali fica para a frente, voc� tem que estar muito sintonizado a tudo. J� o teatro � o contr�rio, pois voc� pode reensaiar, refazer. Gosto de experi�ncias intensas e acho �timo n�o ter tido um preparador de elenco, que vira uma esp�cie de intermedi�rio. Foi tudo feito pelo pr�prio Helv�cio, que foi reescrevendo o roteiro a partir das nossas leituras.”

Moreira destaca ainda o fato de O lodo ser um filme de Belo Horizonte. “Mais do que mineiro, o Murilo Rubi�o � um autor belo-horizontino. � ainda um dos poucos que n�o foram embora, essa sina dos escritores mineiros. Fora de Minas, pouqu�ssima gente conhece o Murilo.” Ex-integrante do Uakit, o percussionista Paulo Santos assina sozinho a trilha sonora. Quase uma personagem da narrativa, ela vai pontuando o clima de claustrofobia que toma conta da vida de Manfredo.

Longa-metragem de n�mero nove da carreira de Ratton, O lodo j� vem sendo analisado como um filme da maturidade do cineasta. “Isso os outros percebem mais do que a gente. Talvez seja o filme em que eu domine todos os territ�rios. Belo Horizonte � a minha cidade, tive o elenco e as loca��es que quis e pudemos refinar a arte do filme, a luz. � um trabalho muito pensado, em todos os aspectos, e no qual eu estive mais no controle da narrativa.”

E O lodo, diante do (des) mundo em que estamos, ainda permite v�rias leituras. “Acho que o lodo n�o � exclusivamente do Manfredo. Estamos todos nele, seja no mar de lama de Minas Gerais, do abuso sexual, da viol�ncia contra mulheres, da destrui��o do meio ambiente, do cinismo do nosso governo frente � pandemia. O lodo que est� escorrendo no Brasil est� se acumulando dentro de n�s”, afirma o cineasta. 


44ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE S�O PAULO
Desta quinta (22) a 4 de novembro, no site www.mostra.org. Para assistir aos filmes, o espectador encontrar� no site as plataformas Mostra Play, Sesc Digital e Spcine Play, onde poder� realizar o seu cadastro. Cada filme custar� R$ 6. Os ingressos s� podem ser adquiridos a partir desta quinta e as visualiza��es t�m in�cio �s 20h. Ap�s adquirido o ingresso, o espectador ter� tr�s dias para assistir ao t�tulo. Os filmes das plataformas Sesc Digital e Spcine Play s�o gratuitos.


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