(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas M�SICA

Luiz Caldas defende 'dar a cara a tapa' e evitar releituras

Pioneiro do ax�, cantor, compositor e instrumentista baiano lan�a o disco instrumental 'M�nima'. Em entrevista, ele analisa o cen�rio musical brasileiro


09/11/2020 04:00 - atualizado 09/11/2020 11:44


Muito se engana quem pensa que, por ser considerado o pai da ax� music, Luiz Caldas se atenha somente a esse g�nero musical. Com 57 anos e d�cadas de carreira, ele � um dos maiores instrumentistas baianos, ao lado de Armandinho e Pepeu Gomes. Quem quiser ter a certeza disso pode consultar a sua obra ou ent�o conferir o rec�m-lan�ado �lbum instrumental M�nima.

No �lbum, lan�ado nas plataformas digitais, Caldas conta com a participa��o de outros 25 m�sicos consagrados, entre eles o amigo, parceiro e saxofonista Leo Gandelman, que fez parte da grava��o de Reencontro, faixa que abre o disco.

“Leo � um amigo querido de muitos anos, um m�sico mundialmente conhecido, um cara que todo mundo sabe da preciosidade musical dele. E ele j� havia gravado comigo, no come�o da minha carreira. N�s nos reencontramos agora, por isso a faixa que ele toca comigo se chama Reencontro”, diz Caldas.

M�nina, ele explica, � uma refer�ncia � nota musical que representa uma pausa. “Essa � a 105ª produ��o do meu projeto de lan�amento mensal de discos, que come�ou h� oito anos. Por ele j� passaram Seu Jorge, Sandra de S�, Zeca Baleiro, Gilberto Gil, Fernanda Takai, Jos� Renato, Saulo e Jorge Vercillo, entre tantos outros.”

Al�m de Gandelman, est�o no novo trabalho Andr� Abujamra, Luciano Calazans, Gigi Cerqueira, Yacoce Sim�es, Kuki Stolarski, Tito Oliveira e o filho Caio (bateria), M�rcio e Vitor Brasil, Levi Pereira, Diego Freitas, Kain� do J�je e C�tnes Dias, Lu� Almeida, Luciano PP, Andr� Magalh�es, Daniel Novaes, L�o Brasileiro, Cleriston Cavalcanti, Lucas, Beto Martins. “Um time de primeira, pra ningu�m botar defeito”, diz Caldas. Uma das can��es, Mister Brown, a sexta faixa do disco, � dedicada ao amigo e parceiro Carlinhos Brown.

O fato de n�o se ater a um s� ritmo � o que torna o disco interessante, na opini�o de seu autor. “Com isso pode-se abrir o leque e trazer as pessoas. Quando se pega uma m�sica instrumental e coloca algo mais popular, como um ritmo dan�ante, voc� traz as pessoas que n�o compreendem muito de m�sica para ouvir. O instrumental � um g�nero que n�o � muito valorizado no Brasil, infelizmente.”

''N�o perco mais tempo, pelo menos essa � a minha vis�o e a minha forma de trabalhar com a m�sica. H� tempos que n�o trabalho com inspira��o. J� sou inspirado de natureza, j� nasci e me considero assim. Se preciso de rock, fa�o na hora, sento e gravo. Se preciso de reggae, pego o viol�o e fa�o um''

Luiz Caldas, cantor, compositor e instrumentista



INSPIRA��O

Todas as m�sicas foram compostas para esse disco. “N�o perco mais tempo, pelo menos essa � a minha vis�o e a minha forma de trabalhar com a m�sica. H� tempos que n�o trabalho com inspira��o. J� sou inspirado de natureza, j� nasci e me considero assim. Se preciso de rock, fa�o na hora, sento e gravo. Se preciso de reggae, pego o viol�o e fa�o um.”

Ele conta que tem v�rias ferramentas e que faz quest�o de us�-las. “Por exemplo, o samba. Tem samba-enredo, samba de breque, samba-can��o, samba rock. Ent�o, eu me pergunto: ‘Qual o samba que vou compor?’. Tenho que decidir primeiro isso, antes de pegar o instrumento e escrever. A�, pronto, j� sei que � um samba-can��o. Mas samba-can��o pode ser no estilo que Nelson Gon�alves gravava ou mais cl�ssico, como Paulinho da Viola. Vou por qual estilo? A� defino: Paulinho da Viola. Pronto, j� tenho o caminho definido, ou seja, vou afunilando tudo que preciso para a obra nascer.”

Uma vez afunilado o caminho, ele ent�o comp�e. “� como se fosse compor para o fulano de tal cantar, como um compositor trabalhando para a carreira de algu�m. Depois, � s� tirar esse fulano de tal e cantar no lugar dele e a� fica tudo em casa. Essa � a minha receita de compor.”

Para ele, a emo��o de reunir os amigos foi algo importante. “Isso porque s�o �timos m�sicos. Muitos s�o diretores musicais e amigos meus h� muito tempo. Estou muito feliz, porque esse projeto me mant�m mental e musicalmente alegre e saud�vel. Cada dia ga-    nho novos parceiros para fazer o que mais gosto: m�sica.”

Ainda sobre o disco de in�ditas, ele diz: “E como � meu, da minha carreira, n�o se trata do int�rprete Luiz Caldas. Este entra para cantar as can��es de Luiz e seus parceiros, vamos assim dizer. Todas as obras que esse projeto tem, desde o seu in�cio, s�o autorais. At� brinco que uma palavra proibida no est�dio � regrava��o. Isso porque acho que quando voc� regrava algo � porque gosta bastante daquela m�sica ou porque ela significa algo pra voc�, ou seja, o original � intoc�vel.”

REGRAVA��ES

Mas o cantor, compositor e instrumentista n�o � necessariamente contra as regrava��es. “Na minha carreira, n�o sou muito a favor de releituras. Acho que � voc� ficar regurgitando. � t�o interessante dar a cara a tapa. Acho que o artista tem essa obriga��o de se despir quando se trata de arte. Ele tem que se arriscar, pois � assim que se acerta. E quando voc� acerta, ficar rodeando aquilo que voc� acertou, acho que estagna a sua carreira de certa forma.”

Embora j� tocasse, quando sua carreira come�ou a ganhar proje��o, Caldas n�o se mostrou na televis�o como instrumentista. “Tocava igual toco hoje, porque s� fazia isso, eram 24 horas com instrumentos na m�o. Mas, naquela �poca, precisava passar uma mensagem para onde eu estava indo naquele momento”.

Por isso ele evitou aparecer em programas, com o do Chacrinha, somente como um guitarrista baiano. “J� tinha Pepeu Gomes e Armandinho e tantos outros mestres com uma hist�ria j� contada, como Os Novos Baianos e A Cor do Som. Eu poderia aparecer pelo fato da minha qualidade musical, mas iria ficar em um momento secund�rio, n�o poderia passar a mensagem que queria, que era a alegria do carnaval, que era a transforma��o que eu estava fazendo naquele momento e que depois vieram a chamar de ax� music.”

Ele v� assim o surgimento do g�nero:  “Antes de mim, n�o existia a ax� music, era somente o carnaval com o frevo, que � uma cultura de Pernambuco. Havia tamb�m o galope, que a Bahia usava e que tamb�m � da cultura paraibana, ou seja, de baiano s� t�nhamos mesmo as duas inven��es, que eram o pau el�trico (guitarra baiana) e o trio el�trico.”

Ainda sobre sua influ�ncia no cen�rio da m�sica baiana, Caldas afirma: “Pode-se dizer que, certamente, dei uma m�sica genuinamente baiana para o carnaval da Bahia. E que esse movimento tamb�m saiu do carnaval baiano para outros estados e at� mesmo o exterior. Para se ter uma ideia, em 1989, toquei com Bob Dylan no Festival de Jazz de Montreux.”

Ele se sente respons�vel tamb�m por ter feito a ponte no carnaval do frevo � pista de dan�a. “Depois que entrei para o carnaval da Bahia, as pessoas come�aram a dan�ar o carnaval e a pular menos. Ent�o, isso � muito importante. E fiz isso para proteger, de certa forma, a minha caminhada. E foi bom porque guardei essa surpresa. As pessoas se surpreendem �s vezes, dizendo: ‘Luiz tocando? Pensei que fosse s� aquela coisa de ax�-music’.”

No in�cio de carreira, Caldas chegou a fazer muito baile, segundo diz. “De certa forma, isso serviu de ferramenta para me colocar na ax� music. Isso porque a ax� music � um movimento musical h�brido, n�o � uma coisa est�tica, como � o samba. O samba � samba, o rock � rock, nas suas variantes. Mas a ax� music pode ser qualquer coisa, porque � uma forma de se fazer m�sica para dan�ar.”

Caldas discorda da classifica��o da  ax� music como um g�nero musical. “A meu ver, � um movimento, como foi a Tropic�lia, e teve a sua import�ncia muito grande junto � pol�tica, na �poca. Cabia isso, voc� querer cobrar da ax� music uma posi��o pol�tica, num momento em que est�vamos saindo da ditadura.”

Na opini�o do m�sico, falta hoje na cultura brasileira uma passagem de bast�o. “Por exemplo, um cantor magn�fico, como Em�lio Santiago, que Deus o tenha, � claro, passar o bast�o para um cantor mais novo, que vai levar a m�sica sem aquela agonia de querer ficar famoso e rico. Isso atrapalha a carreira de muita gente. Acho que as gera��es est�o se perdendo musicalmente, porque a pessoa ouvir uma m�sica e dizer que � coisa de velho � a maior ignor�ncia que pode existir. Cultura n�o envelhece. Devemos mirar-nos no que � bom e ver tamb�m no que � ruim para nos afastar.”

M�NIMA
• Luiz Caldas
• Independente
• 10 faixas
• Dispon�vel nas plataformas digitais


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)