
Em 2019, a paix�o do ator Antonio Fagundes pela literatura se tornou p�blica, gra�as ao personagem Alberto, da novela Bom sucesso. No folhetim, o editor de livros falava naturalmente na tev� aberta sobre o ambiente liter�rio. Um presente para o artista, que iniciou o h�bito da leitura aos 6 anos, quando teve uma anemia profunda, que o obrigou a ficar em repouso absoluto. Na �poca, sua companhia foram os gibis. Com o tempo, outras hist�rias passaram a fazer parte da rotina do carioca de 71 anos, que est� sempre acompanhado de um livro.
O sucesso do personagem fez com que a emissora convidasse o ator a fazer um podcast, o Clube do Livro. Em 21 epis�dios, a atra��o apresentava os coment�rios de Fagundos sobre obras liter�rias. A cada cap�tulo, o ator abordava um g�nero. O projeto inspirou uma vers�o para al�m do digital: Tem um livro aqui que voc� vai gostar, escrito por Fagundes e publicado pela editora Sextante.
Seu objetivo com esse volume � inspirar novos leitores, a partir de dicas para se iniciar na leitura, com obras de diferentes g�neros e autores. “N�o tem uma dire��o, n�o tem um c�none. N�o � como Os 500 livros que voc� precisa ler antes de morrer. N�o existe isso. Ao contr�rio, insisto em que livro bom para voc� � o que lhe agrada”, afirma Fagundes.
Dividido em cap�tulos, o livro traz indica��es de literatura brasileira e internacional, passando pelos g�neros de mist�rio, suspense, thriller, romance, distopia, terror, fic��o cient�fica, poesia, best-seller, ci�ncia, feminismo e at� autoajuda.
“As pessoas sempre me perguntavam o que eu recomendava. A coisa mais dif�cil do mundo � recomendar algo. Voc� tem que conhecer o gosto da pessoa. O tipo de interesse que ela tem. Acabou que fiz um livro n�o de indica��es, mas de primeiros passos para quem est� querendo come�ar a ler (com frequ�ncia) e n�o se sentir perdido quando entrar numa livraria”, comenta.
ADAPTA��ES
Tamb�m h� espa�o na obra para perfil dos autores citados, al�m de relatos pessoais do autor. Ele menciona, por exemplo, produ��es em que trabalhou que foram adaptadas de livros, tais como Se eu fechar os olhos agora (Edney Silvestre), Gabriela (Jorge Amado) e Dois irm�os (Milton Hatoum).“Fiz muita coisa tirada da literatura, n�o s� na televis�o, como no teatro. E percebi que as pessoas que n�o gostavam de ler, que tinham uma certa ansiedade antes de encarar o livro come�avam a curtir mais quando j� conheciam a hist�ria (contada) em uma pe�a, um filme, uma s�rie. Isso faz com que elas se aproximem mais tranquilamente da literatura”, diz.
O sempre gal� de novelas gosta de ler de tudo. “Gosto de literatura. Claro que costumo brincar sempre que o g�nero que eu prefiro � o bom. Voc� tem literatura boa e ruim em qualquer estilo.”
J� quando a quest�o � livro f�sico versus digital, a escolha � f�cil para Fagundes, que prefere ler � moda antiga. “At� porque, quando voc� l� o livro digital, se confunde um pouco com o ve�culo. Quando usa o smartphone ou tablet, voc� exige rapidez. Quando pega um e-book, seu c�rebro exige a mesma velocidade, e a leitura n�o � r�pida. � uma aproxima��o de profundidade, de foco. Ao contr�rio do que esses aparelhos prop�em”, observa.
Por muito tempo, o ator conhecido por pap�is em O rei do gado e Vale tudo foi avesso ao mundo digital. N�o tinha rede social. N�o gostava de estar no celular e no computador. Isso mudou. “Mudou at� a p�gina 20 (risos). Mudou no sentido de que a gente tem que reconhecer que essa tecnologia veio para ficar. N�o tenho d�vida de que, se voc� n�o tem um pouquinho de conhecimento desse universo, fica totalmente isolado. Fico no m�ximo uma hora por dia. N�o passa disso. Na sexta-feira, coloco meu celular na gaveta e s� tiro na segunda de manh�”, conta.
Nessa uma hora que gasta no smartphone, Fagundes aproveita para compartilhar leituras. Semanalmente, ele aparece em v�deo no Instagram lendo uma poesia para o p�blico. Esse tempo cronometrado em rela��o � tecnologia permite ao ator ter muitas horas livres.
Em 2020, com a quarentena, ele transformou ainda mais o modo de usar o tempo. Fez comerciais, escreveu o livro e gravou a vers�o audiobook de Sapiens — Uma breve hist�ria da humanidade, de Yuval Harari, para a Companhia das Letras.
“Isso tudo me deu muito trabalho. Tamb�m fiz muitas lives. Naturalmente, li mais do que costumo ler, porque tive mais tempo para isso. Fui atr�s de livros que eu tinha comprado h� muito tempo e ainda n�o tinha lido”, conta.
GLOBO
Uma das surpresas para o p�blico de TV no ano passado foi a not�cia de que Antonio Fagundes n�o teve seu contrato renovado com a Rede Globo, rompendo um v�nculo de mais de 40 anos. Apesar disso, ele n�o deve ficar muito tempo afastado da televis�o.O ator deve integrar o elenco do remake de Pantanal, projeto da emissora carioca.
“Realmente, estou cotado para fazer um personagem. Estamos em volta da indefini��o do come�o da data de grava��o. Mas n�o acertei nada com a Globo. Estou cotado pelo autor e diretor da novela.”
O ano passado tamb�m foi de indefini��o para o espet�culo Baixa terapia — Uma com�dia no div�, com o qual Fagundes estava em cartaz havia tr�s anos. A montagem, que passou por Belo Horizonte em 2018, � uma com�dia que acompanha a hist�ria de tr�s casais que se encontram inesperadamente em um consult�rio de terapia, sem a presen�a da psic�loga.
“Viajamos por 27 cidades no Brasil, o que � muito pouco. Temos muito ainda a fazer em termos de viagem. Fomos para o exterior, nos Estados Unidos, e, em Portugal, fizemos uma longa temporada de tr�s meses. Mas nunca fizemos no Rio de Janeiro. Estava com estreia marcada para maio (de 2020). Quando veio a pandemia, fomos obrigados a suspender”, lembra.
A ideia � voltar com a pe�a quando a crise sanit�ria estiver sob controle no pa�s. “Assim que a vacina sair e a gente perceber que ser� seguro aglomerar, voltamos com Baixa terapia”, afirma. At� aqui, o espet�culo foi visto por mais de 300 mil pessoas.

Tem um livro aqui que
voc� vai gostar
• Antonio Fagundes
• Sextante (240 p�gs.)
• R$ 49,90
Cinco indica��es de leitura de antonio Fagundes
• O alienista, de Machado de Assis
• D�lia negra, de James Ellroy
• Eu estou vivo e voc�s est�o mortos, de Emmanuel Carr�re
• Mulheres empilhadas, de Patr�cia Melo
• Vaca de nariz sutil, de Campos de Carvalho