
O longa-metragem � a hist�ria de Bertha Lutz (1894-1976), mas tamb�m a de Fatima Sator e Elise Luhr Dietrichson. Em 2016, ent�o estudantes da Universidade de Londres, as duas se depararam com uma descoberta. Em 1945, na Confer�ncia de S�o Francisco, conven��o que resultou na cria��o da Carta das Na��es Unidas, foi Bertha quem conseguiu incluir uma refer�ncia espec�fica ao princ�pio da igualdade de g�nero.
At� a descoberta, a narrativa oficial creditava � ex-primeira-dama dos EUA Eleanor Roosevelt (1884-1962) o protagonismo na defesa dos direitos das mulheres. Mas Eleanor n�o esteve em S�o Francisco. O encontro, que durou dois meses, teve in�cio em 25 de abril de 1945, duas semanas ap�s a morte do ex-presidente Franklin Delano Roosevelt.

Na verdade, entre os 160 delegados de 50 pa�ses que ficaram at� o final e negociaram o tratado, s� havia quatro mulheres. Al�m da brasileira, Virginia Gildersleeve, dos EUA, Minerva Bernardino, da Rep�blica Dominicana, e Wu Yi-fang, da China. E s� duas brigaram pela inclus�o dos direitos das mulheres: Bertha e Minerva, a dupla latino-americana.
O per�odo de negocia��o n�o foi f�cil, conforme revelou Bertha em uma carta: “A senhorita Gildersleeve nos convidou para um ch� bem modesto, para o qual a maioria das minhas colegas foram espertas de n�o comparecer... Ela prosseguiu dizendo que esperava que eu n�o fosse pedir nada ‘pelas mulheres’ na Carta da ONU, pois seria algo muito vulgar”.
A partir deste cen�rio, Fatima e Elise, ambas estudantes de 20 e poucos anos, iniciaram um trabalho de reconhecimento de Bertha. Por que ningu�m sabia da luta dela? Por que n�o havia nenhuma imagem de Bertha ou Minerva na pr�pria ONU? Por que havia diferen�a entre o Norte e o Sul? S�o v�rias as quest�es a que a dupla tenta responder, enquanto � acompanhada passo a passo pelas c�meras de Barra e Issa. O processo consumiu quase tr�s anos e repetidas viagens a Genebra, Nova York, Bras�lia e Rio de Janeiro.
O que fica claro, desde o in�cio, � que uma corre��o hist�rica em uma organiza��o de coopera��o internacional envolveria muita diplomacia, algo que as duas estudantes tiveram que aprender. Depararam-se com portas fecha- das. Em sua primeira visita � sede da ONU, em Nova York, para apresentar a documenta��o, sa�ram de l� com duas canetas de brinde e nada mais. Viveram tamb�m algumas saias justas – na embaixada brasileira em Londres, fica claro que a visita diplom�tica n�o trouxe mais do que promessas vazias.
Em boa parte rodado em reuni�es em escrit�rios, o document�rio vai ganhando um clima de investiga��o, com “her�is” e “vil�es”. A por��o brasileira �, por raz�es �bvias, o ponto alto. Em solo nacional, as duas estrangeiras descobrem os aspectos mais pessoais de sua personagem.
Bertha, bi�loga, filha do cientista Adolfo Lutz, nunca se casou, e teve uma vida independente. De esp�rito forte, estava muito � frente de seu tempo – em fotos hist�ricas, n�o raro � a �nica mulher presente em reuni�es.
� tocante e ao mesmo tempo triste ver objetos pessoais da cientista no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Esse trecho foi filmado meses antes do inc�ndio de setembro de 2018, que consumiu a institui��o – todo o acervo de Bertha foi destru�do.
Interessante tamb�m � ver a transforma��o pela qual passaram as duas estudantes, suas alegrias, indigna��es e frustra��es frente ao longo processo. De uma sess�o na ONU, em Nova York, para falar da atua��o de Bertha em uma palestra em sala de aula com alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, dificilmente as duas, hoje profissionais atuantes em diferentes segmentos da ONU, esmorecem.
"BERTHA LUTZ – A MULHER NA CARTA DA ONU"
O document�rio ser� lan�ado nesta ter�a (9/3), �s 20h, na HBO e HBO Go