
Especialmente no Brasil, bar � lugar de troca de confiss�es, desabafos e intimidade. Depois que essa configura��o aglomerativa, sagrada para a boemia, se viu comprometida pela pandemia, foi preciso adapt�-la para outros formatos. Em certa medida, � o que prop�e a pe�a “De bar em bar”, autodefinida como uma tragicom�dia virtual, que estreia neste domingo (14/3) no YouTube, Facebook e Instagram.
O carioca Rog�rio Corr�a se inspirou na pe�a “Os �rf�os de J�nio”, de Mill�r Fernandes, adapta��o de “Kennedy's children” (“Os filhos de Kennedy”), do dramaturgo norte-americano Robert Patrick. Em comum h� mon�logos de personagens que, num bar, exp�em contradi��es de seu passado pol�tico.
A pe�a americana remetia � era Kennedy. Mill�r Fernandes a transformou no relato de personagens caricatos que, na �poca da redemocratiza��o, relembravam suas experi�ncias durante a ditadura militar brasileira (1964-1985).
Na plateia do Teatro dos 4, no Rio de Janeiro, estava Rog�rio Corr�a, que acabara de entrar na faculdade na d�cada de 1980. “Os �rf�os de J�nio” o marcou a ponto de inspirar um outro texto, anos mais tarde.
“Quando come�ou a coisa do Collor (presidente eleito em 1989), pensei que seria uma boa coisa para escrever. Aquilo ficou na minha cabe�a. At� escrevi um dos personagens, mas isso ficou parado por anos”, relata o dramaturgo.
H� quatro anos, ele retomou o texto. “Quando houve o golpe contra a ent�o presidente Dilma (Rousseff), me deu vontade de voltar a escrever. Minha pe�a � sobre o fim da ditadura e o restabelecimento da democracia. Senti que o golpe, ali em 2016, era o final de um ciclo. Comecei e terminei a pe�a h� pouco mais de dois anos”, revela Rog�rio.
“N�o estamos falando do agora. N�o ter�amos nem condi��es de entender toda essa loucura. Mas a hist�ria se repete no Brasil. Como disse Marx, primeiro como trag�dia, depois como farsa. J� tivemos a primeira repeti��o, agora temos a segunda, como tragicom�dia”, argumenta o autor.
“Temos a ren�ncia do J�nio e depois a ditadura, o tema da pe�a do Mill�r. Trinta anos depois, vem o Collor e com mais 30 anos o Bolsonaro. N�o mostramos o momento imediato de agora, mas o que est� por tr�s de algo que acontece ciclicamente no Brasil”, explica.
A vida dos quatro personagens sofre forte abalo no governo Fernando Collor de Mello. S�o eles um mich� de sauna, uma dona de casa de classe m�dia, um empres�rio e uma cantora de ax�, interpretados por Thadeu Matos, �ngela Rebello, L�o Wainer e Let�cia Isnard.
“A cantora fez campanha para Collor, que foi alvo de impeachment e renunciou ao cargo em 1992. Ela se arrepende”, adianta Corr�a. Para criar a dona de casa, ele se inspirou na vizinhan�a da Tijuca, bairro onde morou.
“Ela se baseia em pessoas da classe m�dia que s�o reacion�rias sem nem saber. Sempre que h� uma crise, elas abra�am um projeto de direita, como agora. Com o Collor, muita gente que fez isso se deu mal. � o caso dessa personagem, que acabou tendo uma vida tr�gica”, conta.
O empres�rio, interpretado por L�o Wainer, foi incendi�rio na juventude e bombeiro na meia-idade. “Militante do movimento estudantil, ele acabou herdando a empresa do pai, tornando-se de direita e votando no Collor. O casamento acabou, j� que a mulher era muito de esquerda”, diz o dramaturgo.
O quarto elemento, ao contr�rio dos outros, n�o traz amarguras em rela��o � pol�tica. Ao ampliar a representatividade e trazer a perspectiva de um homossexual, o texto remete � crise relacionada � Aids no come�o dos anos 1990 e ao preconceito sofrido pela popula��o gay. “O personagem ama a vida, ama o sexo e n�o se desculpa. Tem valores mais inclusivos, � o �nico dos quatro que n�o votou no Collor”, revela Corr�a.
A pe�a � encenada nas casas dos atores. Segundo o dramaturgo, o formato on-line favorece os mon�logos. O diretor Isaac Bernat refor�a que a estrutura��o da montagem foi coletiva, passando por leituras do texto com presen�a de p�blico antes do desafio de encarar c�meras e enquadramentos.
Uma das preocupa��es foi a din�mica da pe�a. “Os personagens t�m uma liga��o entre si, embora nem se conhe�am. Uma hist�ria vai entrando na outra de alguma maneira. Ent�o, h� uma escuta constante entre os atores e a no��o de ritmo no trabalho”, diz Bernat.
Equil�brio r�tmico
A altern�ncia entre uma fala mais melanc�lica e outras mais el�tricas cria a cad�ncia necess�ria para prender a aten��o do espectador ao longo de 40 minutos. “O equil�brio r�tmico foi importante para o trabalho ter essa comunica��o e n�o ficar entediante. Vivemos uma �poca de muitos est�mulos, links, lives. H� uma satura��o, ent�o h� a preocupa��o de ser interessante”, observa.
Ap�s a sess�o deste domingo, ser� transmitido o bate-papo entre Rog�rio Corr�a e Guilherme Terreri/Rita Von Hunty, professor, ator, comediante, youtuber e drag queen.
DE BAR EM BAR
Pe�a de Rog�rio Corr�a.
Dire��o: Isaac Bernat. Com Thadeu Matos, �ngela Rebello, L�o Wainer e Let�cia Isnard.
Neste domingo (14/3), segunda-feira (15/3) e dias 21 e 22 de mar�o, �s 20h.
Gratuito.
Sess�es no YouTube (www.youtube.com/channel/ UCnWe-_OTS5suJTR6QZSFvlA/featured), Facebook (www.facebook.com/ debarembarteatroonline) e Instagram (www.instagram.com.br/debarembar_teatroonline).
Informa��es:
www.facebook.com/ debarembarteatroonline