
Muito embora o boom do TikTok tenha ocorrido em 2020, o aplicativo j� produzia virais em 2019. Um deles impulsionou a carreira do rapper americano Lil Nas X, cujo single de estreia, “Old town road”, caiu no gosto dos usu�rios da rede social e repercutiu positivamente fora da plataforma. A can��o quebrou o recorde de perman�ncia no topo da parada Hot 100 da Billboard – foram 17 semanas consecutivas – e rendeu ao artista dois pr�mios Grammy.
Agora, Nas X volta a chamar a aten��o com o clipe da m�sica “Montero (Call me by your name)”. A produ��o, assinada por ele em parceria com o diretor ucraniano Tanu Muino, usa refer�ncias crist�s como met�fora para contar uma hist�ria de amor e submiss�o vivida pelo rapper.
POLE DANCE Em uma das cenas mais emblem�ticas, ele desce at� o inferno em pole dance. Na sequ�ncia seguinte, faz uma dan�a er�tica no colo do diabo. Antes disso, experimenta o “fruto proibido” num Jardim do �den lis�rgico e � apedrejado em uma arena por v�rias c�pias de si mesmo.
No in�cio do clipe, a narra��o diz: “Na vida, n�s escondemos as partes de n�s mesmos que n�o queremos mostrar para o mundo. N�s as escondemos; n�s dizemos 'n�o' a elas; n�s as banimos. Mas aqui n�o fazemos isso. Bem-vindo a Montero.”
O texto prova que, por tr�s da superprodu��o, cheia de interven��es gr�ficas, h� uma mensagem. Assumidamente gay, Lil Nas X enviou por meio das redes sociais, em 26 de mar�o, dia do lan�amento do clipe, uma carta para si mesmo aos 14 anos.
“Caro Montero de 14 anos, compus uma m�sica com nosso nome. � sobre um cara que conheci no ver�o passado. Sei que prometemos nunca revelar publicamente, sei que prometemos nunca ser ‘aquele’ tipo de gay, sei que prometemos morrer com o segredo, mas isso abrir� portas para muitas outras pessoas queer simplesmente existirem”, escreveu Nas X.
“Isso � muito assustador para mim, as pessoas v�o ficar com raiva, v�o dizer que estou for�ando uma agenda. Mas a verdade � que estou. A agenda para fazer as pessoas ficarem longe das vidas de outras pessoas e pararem de impor quem elas devem ser. Mando meu amor do futuro para voc�”, completou.
“Montero (Call me by your name)” faz refer�ncia tanto ao nome de batismo do rapper, Montero Lamar Hill, quanto ao filme “Me chame pelo seu nome” (2018), de Luca Guadagnino, sobre um adolescente que se apaixona por um homem mais velho.
Desde o lan�amento, a m�sica virou hit no TikTok, caiu no gosto dos f�s do rapper e conquistou quem ainda n�o tinha esbarrado com o trabalho dele, mas tamb�m gerou controv�rsia.
DEBOCHE O cantor de 21 anos, conhecido por sua presen�a nas redes sociais, usou o Twitter para responder a alguns detratores. Depois de debochar da pol�mica criada em torno do v�deo, declarou o qu�o pessoal a produ��o �. “Preparei esse lan�amento por nove meses. Voc�s n�o v�o ganhar”, avisa.
Ao ser perguntado se homens deveriam “se vestir de maneira andr�gina e dormir com sat�”, como mostra o v�deo, Lil Nas X responde: “Sim”. Em outro tu�te, afirma: “Voc�s adoram dizer que vamos para o inferno, mas ficam chateados quando eu realmente vou pra l�”.
Depois disso, o rapper comemorou que a pol�mica tenha chegado ao Facebook, compartilhando um post da rede social em que � chamado de “um novo n�vel de demon�aco”.
Nos �ltimos dias, Nil tem voltado �s redes sociais para mandar recados aos descontentes com o lan�amento. “Passei toda a minha adolesc�ncia me odiando por causa da merda que voc�s pregaram que aconteceria comigo porque sou gay”, escreveu. “Ent�o, eu espero que voc�s estejam muito bravos, continuem bravos, sintam a mesma raiva que voc�s nos ensinaram a ter de n�s mesmos.”
Nascido no sub�rbio de Atlanta, Sul dos Estados Unidos, Lil Nas X n�o s� � contempor�neo de Billie Eilish, como surgiu na mesma onda que trouxe � tona a cantora e compositora de 19 anos. Os dois s�o de uma gera��o que nasceu conectada, para a qual o laborat�rio de cria��o pode muito bem ser o quarto onde cresceram, na casa dos pais.
A popularidade de Lil Nas X nas redes sociais veio antes de ele virar fen�meno musical. Mais jovem, ficou conhecido atrav�s de uma conta dedicada � rapper Nicki Minaj. Por causa disso, tentou cursar computa��o, mas desistiu.
COUNTRY Pouco tempo depois, comp�s “Old town road”, cuja primeira vers�o foi lan�ada no in�cio de 2019. Depois de viralizar no TikTok, a m�sica ganhou remix com a voz de Billy Ray Cyrus – cantor country e pai da jovem estrela americana Miley Cyrus, cantora e atriz.
Aparentemente inusitada, a parceria Nas X-Cyrus selou ainda mais a mistura entre rap e country que a m�sica prop�e. Com mais de 700 milh�es de visualiza��es, o clipe certificou o sucesso da empreitada. Nele, Nas X, caracterizado de cowboy, desfila a cavalo pela rua de um sub�rbio qualquer nos Estados Unidos.
Apesar do �xito, o rapper n�o chegou a lan�ar um disco cheio – e talvez n�o fa�a isso t�o cedo. O trabalho mais consolidado de sua enxuta discografia � “7 EP” (2019), com oito faixas, sendo que duas s�o “Old town road”. Outra m�sica que alcan�ou relativo reconhecimento foi “Panini”.
Desde ent�o, o rapper lan�ou o single natalino “Holiday”, em dezembro de 2020, e agora “Montero (Call me by your name)”.
Apesar disso, Lil Nas X � um dos artistas mais presentes nas redes sociais. Tem 6,1 milh�es de seguidores no Twitter. No Instagram, s�o 7,1 milh�es. No TikTok, 12,4 milh�es.
Em todas elas, o rapper compartilha conte�dos criados por f�s com base no trabalho dele, provando que o melhor rem�dio � rir de si mesmo.

T�nis de Sat� foi parar na Justi�a
Para acompanhar a chegada do clipe de “Montero (Call me by your name)”, Lil Nas X lan�ou um t�nis customizado em parceria com o coletivo de arte MSCHF. Os Satan shoes (sapatos de Sat�, em tradu��o livre) s�o uma vers�o modificada de um t�nis da Nike, que processou o coletivo por “viola��o de marca registrada”.
Na quinta-feira (1º/4), um juiz federal dos Estados Unidos emitiu ordem de restri��o tempor�ria contra os criadores dos Satan shoes. A fabricante alega n�o ter autorizado o uso da marca e pede a proibi��o da venda do modelo.
Em 29 de mar�o, o coletivo MSCHF, sediado no Brooklyn, em Nova York, lan�ou 666 pares, cujo pre�o chegou a US$ 1.018 (R$ 5,8 mil). O Nike Air Max 97S ganhou uma cruz invertida, um pentagrama e as palavras “Lucas 10:18”. Al�m disso, o t�nis cont�m uma gota de sangue humano real nas solas.
De acordo com a revista americana Hollywood Reporter, a Nike alega que os t�nis mancharam a reputa��o da empresa.
Advogados do MSCHF montaram a defesa com base na Primeira Emenda da Constitui��o norte-americana, que assegura a liberdade de express�o. Alegam que se trata de uma obra de arte, comprada por colecionadores.
De acordo com o coletivo, todos os pares produzidos, menos um, j� foram enviados aos compradores. O grupo alega que a ordem de restri��o � “desnecess�ria”, pois n�o h� planos de fabricar outros exemplares dos Satan shoes. (GA)