
Nos �ltimos anos, a internet proporcionou o surgimento dos influenciadores digitais: pessoas que se popularizaram nas redes sociais (Instagram, Facebook, YouTube, etc), gerando conte�do e alcan�ando um p�blico massivo. Por tr�s de cada um deles, � desenvolvido um trabalho que vai gerenciar a carreira, como de um artista com publicidade, comunica��o e v�rias outras �reas.
Observando a ascens�o das redes sociais e deste novo mercado, Jr. C�sar, de 37 anos, assimilou uma oportunidade de investimento e criou a Brasilera Digital, empresa especializada no gerenciamento e desenvolvimento da carreira de influenciadores digitais.
O empres�rio � formado em comunica��o social e atuou por 10 anos em BH na �rea de assessoria de imprensa de eventos, como Carnaval de Muzambinho, no Sul de Minas. Agora, na Brasilera Digital, trabalha com nomes como o da mineira Camila Loures e das ex-BBBs Viih Tube e Gabi Martins.
Para lidar com a imagem e situa��es enfrentadas pelos influenciadores, Jr. C�sar diz que mata “um le�o por dia", como foi o caso do confinamento da Viih Tube. “T�nhamos uma equipe de at� 12 pessoas (editor de v�deo, social), que monitorava as redes sociais 24 horas por dia para entender o que estava acontecendo e que pud�ssemos repercutir tudo nas redes da Viih”, lembra.
A seguir, o empres�rio fala ao Estado de Minas como � montar o planejamento estrat�gico por tr�s dos influencers e tamb�m sobre os “cancelamentos” das redes sociais.
H� quanto tempo trabalha no ramo de agenciamento de carreira?
J� trabalhava com assessoria de imprensa de grandes eventos e artistas, mas cuidando da parte de comunica��o. Assumi a Camila Loures em 2015, com o desafio de gerir e transformar todo aquele movimento que come�ava da internet, que nem n�s mesmos entend�amos. Naquela �poca, ela tinha 200 mil inscritos no YouTube, estava saindo do Vine (rede social de v�deos) e fazendo essa transi��o. Foi a primeira influencer que eu assumi e logo em seguida veio a mudar todo rumo e direcionamento da minha carreira tamb�m. Em 2016, sa� de Belo Horizonte, encerrei minhas atividades de assessoria de imprensa. Ampliei a Brasilera, o que era Comunica��o virou Digital e assumi outros nomes como casting.
Quando veio a ideia de come�ar uma empresa para cuidar da carreira de influenciadores?
Foi algo muito engra�ado porque a m�e da Camila estava procurando um assessor, que na internet � quem cuida da parte comercial, e se deparou com um amigo em comum e ele me indicou. S� que ela n�o procurava um assessor de imprensa, mas algu�m para gerir a carreira. Tivemos uma conversa muito sincera, eu disse para ela: ‘N�o � minha �rea, mas posso entender qual � esse movimento que voc�s n�o est�o entendendo, nem eu conhe�o muito bem e fazer uma experi�ncia de dois a tr�s meses’. E em tr�s meses deu supercerto, criamos estrat�gias, movimentos e situa��es que trouxeram resultado imediato. N�o s� em audi�ncia e engajamento, como financeiro tamb�m. E ali come�ou a nossa trajet�ria e a minha tamb�m como agente de talento e influencer. � importante ressaltar que todo esse “boom” que n�s vivemos hoje de influ�ncia digital, conte�do, redes sociais, n�o era t�o forte. Vivemos um momento que n�o existia stories, a rede mais forte era o Facebook, o Instagram estava engatinhando, principalmente em Belo Horizonte. O YouTube era uma aposta de nomes, como Whindersson e K�fera, mas em Minas Gerais n�o t�nhamos nenhum grande nome. Era um grande desafio, ainda mais se tratando fora do eixo Rio-S�o Paulo, onde as coisas realmente aconteciam, mas entendi que tinha um grande nicho e poderia dar certo. A partir dali, debrucei dentro das redes sociais. Eu, que mal tinha um Facebook, era totalmente low profile, achava as redes sociais uma exposi��o extrema e eu mesmo evitava isso, de repente me vi no meio de tudo. Entendi que existia um grande neg�cio que pode ser apostado e fazer muita diferen�a.
''� um livro (da Viih Tube) que fala sobre o cancelamento e uma das estrat�gias que criamos foi mostrar a fragilidade da internet que n�s vivemos, criar uma grande fake news para que as pessoas embarquem nessa hist�ria''
Jr. C�sar, empres�rio
Como funciona na pr�tica o agenciamento da carreira dos influenciadores?
N�s montamos todo planejamento de carreira de um influenciador. Aqui no escrit�rio n�s cuidamos 360° do nosso artista, n�o fazemos s� a parte comercial, mas tamb�m tudo sobre projeto propriet�rios, produtos licenciados, shows e turn�s, longa-metragem. Fazemos um raio-x do artista para entender qual a vertente dele. Por exemplo, o influencer x tem o conte�do dele, o foco pode ser para o audiovisual, outro para m�sica e alguns para projetos de TV. Ent�o, n�s entendemos ali tamb�m a que ramo da comunica��o esse influencer tem tend�ncia com esse conte�do para que possamos construir tamb�m carreiras al�m da grande bolha da internet que todos n�s vivemos. E a� constru�mos a execu��o desses projetos. Vou usar uma refer�ncia de algo que estamos vivendo: o livro da Viih Tube. Ele j� vem sendo pensado e trabalhado h� cerca de tr�s, quatro meses, logo ap�s o reality. � um livro que fala sobre o cancelamento e uma das estrat�gias que criamos foi mostrar a fragilidade da internet que n�s vivemos, criar uma grande fake news para que as pessoas embarquem nessa hist�ria e possamos mostrar o qu�o fr�gil � a internet e que o cancelamento vem dessa fragilidade. Todo um processo de constru��o, montagem, m�sica de editora, negocia��o, melhor performance de campanha, tudo isso passa pelo escrit�rio e toda essa gest�o. Costumo dizer que meu artista tem que se preocupar em criar conte�do e estar sempre antenado, com as redes sociais sempre ativas que o resto a gente planeja. Temos diferentes �reas dentro do escrit�rio para cuidar de todos segmentos. Licenciamento, comunica��o, jur�dica, planejamento, produ��o e agora a Brasilera Music, cuida da parte musical. .
Voc� tem dois agenciados que s�o ex-participantes do “Big brother Brasil”: Viih Tube, do BBB 21, e Gabi Martins, do BBB 20. Como � o trabalho aqui do lado de fora enquanto eles est�o l� na casa?
Assumimos a Gabi em novembro de 2020, ela j� tinha passado pela experi�ncia do “BBB” e o escrit�rio n�o acompanhou. Todas as estrat�gias musicais da Gabi p�s-BBB, nasceu e partiu do nosso escrit�rio. J� a Viih Tube, sim. Fizemos toda gest�o, desde conversas, negocia��es e sondagem at� o confinamento dela. Foi como matar um le�o por dia. Literalmente era voc� montar uma equipe de estrat�gias full time. T�nhamos uma equipe de at� 12 pessoas (editor de v�deo, social), que monitorava as redes sociais 24 horas por dia para entender o que estava acontecendo e que pud�ssemos repercutir tudo nas redes da Viih. Estamos falando de uma influenciadora que j� entrou no programa com mais de 38 milh�es de seguidores (a soma de todas as redes sociais). N�s precis�vamos manter essa base engajada e estar abertos com conte�dos para os novos que estavam chegando a partir do reality. � um pouco de dan�ar conforme a m�sica em alguns momentos, porque n�o temos o controle absoluto do que acontece dentro do confinamento. Em alguns momentos, precisamos nos posicionar contr�rios ao posicionamento da Vit�ria l� dentro, em outros n�s repercut�amos a opini�o dela. Foi um grande desafio e conseguimos realizar em um momento que a internet vivia um grande cancelamento das mais diversas esferas. A Vit�ria foi v�tima de muitas fake news e elas se transformavam em um cancelamento e a� entrava todo trabalho da gest�o tamb�m de entender.
''Costumo dizer que meu artista tem que se preocupar em criar conte�do e estar sempre antenado, com as redes sociais sempre ativas, que o resto a gente planeja''
Jr. C�sar, empres�rio
O eixo Rio-S�o Paulo � o “point” dessa galera. Uma das suas maiores agenciadas � a Camila Loures, que mora em BH. Isso exige algum tipo de cuidado especial?
N�o. Costumo dizer que a internet rompe fronteiras, n�o � limitada a um espa�o. Realmente, ela quebra todos os paradigmas de audi�ncia. O escrit�rio hoje, a base, fica em S�o Paulo, mas os nossos influenciadores est�o em diversas regi�es. Temos em Belo Horizonte, no interior de S�o Paulo e tamb�m na capital, no Sul. Ent�o, isso n�o interfere. � claro que a base, quando estamos falando de uma top creator, como a Camila que alcan�a n�meros estratosf�ricos de audi�ncia e engajamento, foge do regionalismo de uma audi�ncia limitada a Minas. Se pegarmos os anal�ticos da Camila, o primeiro lugar com certeza � S�o Paulo, que � a maior audi�ncia dela. N�o s� dela, como de todo top creator por ser uma regi�o com maior consumo de internet. Mas a produ��o de conte�do n�o precisa necessariamente estar neste eixo. Claro que em um mundo p�s-pandemia � normal este artista viver em uma ponte a�rea at� para campanhas, projetos que s�o desenvolvidos aqui. Eu nunca tive a necessidade de um artista ou influencer vir para S�o Paulo e fazer parte desse eixo, como a Camila e a Gabi que continuam em Belo Horizonte. O importante � que o escrit�rio est� aqui e � quem demanda todas as atividades e constru��es com eles. At� para a pr�pria influ�ncia digital abre uma janela que s�o os nichos, os micro influenciadores. S�o aqueles que n�o dependem deste grande eixo para acontecer seus conte�dos. Podemos pegar como refer�ncia o Carlinhos Maia, que ficava no interior de Macei�, numa cidadezinha, e que de repente fala para o mundo inteiro. Ele nasceu l�, n�o precisou ir para outro lugar. A Thaynara OG tamb�m que come�ou no Maranh�o e fala para todo pa�s. Hoje somos in�meros micro influenciadores, que valorizam o regionalismo, seja na sua forma de falar ou no pr�prio conte�do e conversa com a audi�ncia seja local, regional. Hoje, a internet d� palco e vitrine para todo tipo de conte�do e para os mais diversos produtores de conte�dos, independentemente da regionalidade.
Nessa mesma pegada de cuidados especiais, seu time de agenciados s�o pessoas completamente diferentes, com conte�dos muito diversos uns dos outros. Como � lidar com essas diferen�as?
Gosto dessa mistura que a internet nos proporciona. A internet � isso, essa democracia de estilo, de conte�do, posicionamentos. Eu tenho desde um creator que fala sobre desafios, outra que fala sobre tags, m�sica, moda, maquiagem, o Gustavo que traz o discurso LGBTQIA+. Falar e conduzir o dia a dia, � claro que voc� precisa do entendimento de tudo e buscar informa��es para conseguir falar a mesma linguagem de todos eles. Esse � um desafio: estar sempre se reciclando em conte�dos para conseguirmos entender. Precisamos a cada momento imergir para conhecer a linguagem, conhecer o posicionamento, entender o direcionamento de cada um e contribuir na constru��o di�ria de conte�do e storytelling.
A gente sabe que a maior ferramenta de trabalho dos influenciadores s�o as redes sociais. Como funciona a autonomia dos pr�prios donos das contas com os interesses que a ag�ncia tem para eles?
Existe uma grande conversa. Brinco que temos duas empresas, a Brasilera Digital, que � a f�sica e fica em S�o Paulo, e tenho tamb�m o meu celular, onde acompanho o dia a dia de todos os influenciadores. Eles t�m a autonomia da cria��o, mas claro que o escrit�rio tem uma base para cada um deles. A Brasilera tem um padr�o de estilo de discurso que esperamos, mas existe um monitoramento constante. O que � publicidade campanha, vai totalmente direcionado para o artista. O escrit�rio envia todo roteiro pronto para que possa reaplicar. Muitos desses roteiros eles participam da cria��o e, �s vezes, trazemos a marca junto para fazermos essa constru��o da campanha. Mas no dia a dia, o conte�do org�nico, espont�neo, eles t�m total liberdade para criar, mas j� sabem muito bem o formato que o escrit�rio trabalha e o que esperamos ou n�o da linguagem deles. Nossos influenciadores n�o t�m um discurso de �dio, de palavr�o, por exemplo. Tentamos ter uma linguagem mais leve para que eles possam estar preparados para conversar com grandes marcas e, com isso, determinado linguajar n�o compete com discurso.
''N�s entendemos tamb�m a que ramo da comunica��o esse influencer tem tend�ncia com esse conte�do para que possamos construir Carreiras al�m da grande bolha da internet em que todos n�s vivemos%u201D
Jr. C�sar, empres�rio
Em quest�es mais pol�micas, como � feito o trabalho para lidar com cada situa��o? Pode dar um exemplo?
O gerenciamento � sempre o momento mais complexo. O primeiro ponto � sempre ter uma conversa muito sincera e n�s j� vivemos isso no dia a dia, temos muita transpar�ncia. Acredito que para uma rela��o de artista e empres�rio ter sucesso, a transpar�ncia � a base de tudo. Seja nos neg�cios, financeira, do dia a dia. Nesses momentos de gerenciamento de crise � onde se faz mais necess�rio. Aconteceu? N�o? Me conta o que foi. Tivemos situa��es de gerenciar crises que, na verdade, n�o era isso tudo que a internet estava tuitando. Quando ligo para o influenciador, ele fala: 'J� sei porque est� me ligando, n�o � nada disso'. Ent�o existe transpar�ncia e precisamos ter essa liberdade porque eu estou aqui para jogar junto com eles e resolver toda situa��o. Mas preciso ter o conhecimento de onde estamos pisando e n�o gosto de ser pego de surpresa. Eu vivi algo recentemente em BH. A Camila Loures comprou um carro, divulgou, fez um v�deo com esse carro. Era um domingo, ela estava gravando um programa no SBT e de repetente me liga um ve�culo de comunica��o dizendo que ela estava presa numa blitz. Antes mesmo de entender a situa��o, o ve�culo j� soltou a mat�ria. Foi uma situa��o que ela nem sabia o que estava acontecendo tamb�m aqui fora, porque estava com o telefone desligado dentro do est�dio. Conseguimos contornar e explicar o que realmente aconteceu, trouxemos outros ve�culos s�rios para entender e repercutir da forma correta a informa��o, sempre com muita transpar�ncia e di�logo.
