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Estado de Minas GRANDE J�

Brasil se despede de J� Soares, �cone da comunica��o, da arte e do humor

Artista de m�ltiplas habilidades, o humorista J� Soares, que morreu aos 84 anos, deixou a marca de seu talento na televis�o, no teatro e na literatura


06/08/2022 09:05 - atualizado 06/08/2022 09:06

Caricarura de Jô Soares
(foto: Ilustra��o/Quinho)

Jos� Eug�nio Soares, ou Zezinho, como era chamado em fam�lia, passou a primeira inf�ncia sem dizer uma palavra. Os pais j� haviam se conformado com o fato de que a crian�a era muda. At� que, um dia, ele disse a primeira palavra, quando j� era capaz de formar frases completas e corretas. E n�o parou mais.

J� Soares tinha muito a dizer e sabia como faz�-lo em v�rios idiomas - adulto, tornou-se poliglota. Mas foi em bom portugu�s que ele fez gera��es de brasileiros rirem com seu humor refinado, repetirem os bord�es da sua galeria de personagens e ficarem acordadas at� tarde para v�-lo conduzir na TV entrevistas em que, frequentemente, ele era uma atra��o mais interessante do que seus convidados. 

A morte de J�, ontem,em S�o Paulo,  aos 84 anos, em decorr�ncia de uma pneumonia, entristeceu o Brasil, que perdeu um de seus mais vers�teis artistas. O SBT e a Globo, as duas emissoras que marcaram sua carreira, lamentaram a morte e ressaltaram a import�ncia de J� em sua hist�ria.

Leia a continua��o desta mat�ria:
 

O consultor e professor de televis�o Fernando Morgado, autor dos livros “Silvio Santos – A trajet�ria do mito” e “Comunicadores S.A”, afirmou em entrevista ao site Metr�poles que o sucesso de J� teve uma contribui��o importante de Silvio Santos. O dono do SBT o contratou para a emissora em 1987, com a oferta de um programa di�rio de entrevistas, nos moldes em que ele sempre sonhara.

Principal entrevistador

“J� Soares se tornou o principal entrevistador do Brasil gra�as ao Silvio Santos. A Globo, onde J� trabalhava na �poca, n�o acreditava que o humorista fosse capaz de assumir um talk show de sucesso. E foi o Silvio quem abriu as portas para lan�ar o ‘J� Soares Onze e Meia’, cujo formato � claramente inspirado nos late shows dos Estados Unidos”, lembra o bi�grafo de Silvio.

Ele observa, ainda, que “J� Soares Onze e Meia” n�o apenas deu audi�ncia e faturamento para o SBT, como trouxe prest�gio para a emissora, que ainda era encarada com certo preconceito pelo mercado. “O programa, por exemplo, se transformou no grande palco de debates e entrevistas na TV durante o processo de impeachment do Collor. Al�m disso, quebrou paradigmas por entrevistar figuras de todas as vertentes e falar de todas as emissoras, algo que a Globo, por exemplo, n�o permitia naquele tempo.”

Morgado tamb�m comenta a volta de J� Soares para a Globo, em 2000. “Na minha opini�o, a primeira entrevista, feita com Roberto Marinho no jardim da mans�o no Cosme Velho, foi uma demonstra��o de for�a que J� deu para aqueles que, no passado, negaram a ele a chance de ter um talk show na emissora carioca”, analisa o especialista.


Transa��o milion�ria

Em 1987, a transa��o milion�ria da TV Globo para o SBT fez com que J� se tornasse o artista mais bem pago da televis�o brasileira � �poca. De acordo com a revista “Veja”, naquele ano J� receberia cerca de 2 milh�es de cruzados – o triplo do que recebia na Globo.

Mas os motivos para J� aceitar a mudan�a n�o eram financeiros. De acordo com o que se noticiou � �poca, o apresentador trocou o canal l�der de audi�ncia pelo SBT para realizar o sonho antigo de apresentar um talk show noturno ao estilo norte-americano.

Sua chegada ao SBT foi anunciada com ares de grande evento. Os boatos da troca do apresentador come�aram no in�cio de outubro daquele ano, com pessoas ligadas � imprensa do SBT dando a ida dele para a emissora como certa. A Globo chegou a negar a informa��o, que no entanto era verdadeira.


Reviravolta na televis�o

No dia 26 de outubro de 1987, Silvio Santos fazia hist�ria ao interromper o telejornal “Noticentro” para confirmar a negocia��o. “Quero anunciar uma reviravolta na televis�o brasileira”, declarou, antes de anunciar a chegada de J� ao canal. Al�m do “J� Onze e Meia”, ele estreou tamb�m na emissora o humor�stico “Veja o Gordo”.

Ao longo desta d�cada que passou no SBT, J� apresentou 2.309 edi��es do programa e realizou 6.927 entrevistas. Ayrton Senna, Cazuza, Raul Seixas, Roberto Carlos, Pel� e Hebe Camargo foram alguns dos nomes que passaram pelo sof� do “J� Soares Onze e Meia”.

Nas redes sociais, diversas postagens recordaram ondem a entrevista em que J� caiu na gargalhada com Hebe Camargo, Nair Bello e Lolita Rodrigues: “Eu j� perdi as contas de quantas vezes vi”, comentou um usu�rio do Twitter. Na conversa, os quatro brincam e n�o fogem de assuntos como sexo, envelhecimento e suas trajet�rias profissionais.


Homenagem � amiga

A entrevista foi feita em abril de 2000, na primeira semana do retorno de J� Soares � Rede Globo. Em 2012, quando Hebe morreu, J� exibiu novamente a conversa – foi a primeira reprise da hist�ria do programa. “� a melhor homenagem que eu podia prestar a esse grande s�mbolo da televis�o brasileira”, disse J� em sua homenagem � amiga. “Espero que voc�s se divirtam tanto quanto a gente se divertiu naquela �poca”, acrescentou.

Mesmo voltando para a Globo no in�cio dos anos 2000, J� Soares sempre demonstrou ter muito carinho e gratid�o pelos tempos que passou no SBT. Em 2017, o apresentador esteve presente no Trof�u Imprensa e recebeu cinco pr�mios, emocionando-se assim que subiu ao palco e agradecendo a Silvio Santos.
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“Estou emocionado e lembro quando assinei o contrato. Disse que ia fazer um programa semanal, mas voc� disse que tinha que ser di�rio, sen�o n�o colava. Voc� � respons�vel por grande parte da minha vida profissional. Voc� tem uma grande intui��o de fera. Al�m disso, � um grande amigo real. �s vezes, o tempo afasta as pessoas, mas n�o afasta os amigos reais”, declarou J�.


Seduzir o mundo

O comunicado emitido pela Rede Globo destaca que J� era vaidoso e chegou a dizer que j� nasceu querendo seduzir o mundo. “E assim o fez, em mais de 60 anos de carreira, com momentos hist�ricos na TV brasileira, mais de 200 personagens e 14 mil entrevistas”, diz o texto.

A estreia na TV Globo se deu em 1970, com “Fa�a humor, n�o fa�a guerra”, ap�s 11 anos na antiga Record TV, onde estreou na frente das c�meras, em 1956. Tr�s anos depois, atuou como ator e redator ao lado de Max Nunes e Haroldo Barbosa em “Planeta dos homens”. Ganhou destaque com “Viva o Gordo” (1981), �poca em que criou o bord�o “um beijo do Gordo!”. O t�tulo veio da pe�a “Viva o gordo e abaixo o regime!”, sucesso do teatro no qual o humorista fazia cr�ticas veladas � ditadura.

Entre os tipos marcantes que viveu nesta �poca est�o o Reizinho, personagem sempre �s voltas com os problemas do reino, uma s�tira � situa��o pol�tica do pa�s; o Capit�o Gay, super-her�i homossexual que usava um uniforme cor-de-rosa e andava sempre acompanhado de seu ajudante Carlos Sueli (Eliezer Motta); e o Z� da Galera, que ligava para o t�cnico da sele��o brasileira de futebol e pedia “Bota ponta, Tel�!”.


Escrita afiada

Como jornalista, escreveu para as revistas “Manchete” e “Veja” e para os jornais “O Globo” e “Folha de S.Paulo”. Em 1983, lan�ou seu primeiro livro, “O astronauta sem regime”. Com o romance policial “O Xang� de Baker Street” (1995), entrou para a lista dos mais vendidos. O livro, que virou filme em 2001, dirigido por Miguel Faria Jr., j� foi traduzido para uma dezena de l�nguas. 

Tamb�m � autor de “O homem que matou Get�lio Vargas” (1998), “Assassinatos na Academia de Letras” (2005) e “As esganadas” (2011). Em 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras. Seu �ltimo lan�amento foi “O livro de J� – Uma autobiografia desautorizada”, que veio � luz em dois volumes, o primeiro em 2017 e o segundo em 2018.


J� por ele mesmo

Com verve afiada, J� compartilha sua trajet�ria de astro midi�tico num livro escrito para fazer rir, chorar e, sobretudo, n�o esquecer, conforme a obra foi anunciada � �poca de seu lan�amento. O primeiro volume resgata fatos, lugares e pessoas marcantes da juventude de J� e reconstitui seus primeiros passos no mundo dos espet�culos, nas d�cadas de 1950 e 1960.

 Entre a inf�ncia dourada no Copacabana Palace e a dura conquista do estrelato, o leitor acompanha o autor do nascimento at� os 30 anos. Os antecedentes familiares, a meninice privilegiada nos pal�cios da elite carioca, a mudan�a para um internato na Su��a, os marcos da forma��o cultural do futuro showman na adolesc�ncia. A obra foca, ainda, a paix�o pelo jazz, a estreia modesta em pontas no cinema e na televis�o, o primeiro casamento e, finalmente, a conquista do sucesso numa S�o Paulo fervilhante.


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