Virada Cultural de BH atraiu multidão com música, protesto e alegria
Centro da capital foi palco para shows, defesa da Serra do Curral, solidariedade aos índios, manifestação contra o racismo e festas ao ar livre
Daniel BarbosaMatheus Hermógenes*05/09/2022 04:00
Serra do Curral dividiu o palco com Fernanda Takai no Parque Municipal
(Jair Amaral/EM/D.A Press)
A pluralidade foi a marca da Virada Cultural de Belo Horizonte em 2022. Ela esteve expressa tanto na programação, pródiga nas mais variadas linguagens artísticas, quanto no público, numeroso e diverso, abarcando diferentes faixas etárias, gêneros, raças e classes sociais. Todos harmoniosamente juntos e misturados. Suspenso por dois anos por causa da pandemia, o festival voltou com força total.
O tom político também foi marcante em toda a Virada, com manifestações em muitos dos shows – alinhadas com pautas de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Diversos candidatos desfilaram entre o público.
Indígenas e a Amazônia ganharam apoio durante o show de Marcelo Veronez
No domingo (4/9) à tarde, no Parque Municipal, ganhou destaque a programação do Dia da Amazônia. Artistas defenderam a Serra do Curral, o cantor Marcelo Veronez exigiu recursos da Lei Aldir Blanc e criticou o orçamento secreto do governo federal. Emulando um cabaré, recebeu a cantora lírica Carol Rennó e Sérgio Pererê.
As manifestações de cunho ambiental seguiram após o fim do show, sucedido pela apresentação de Fernanda Takai. Enquanto a vocalista do Pato Fu fazia sua apresentação solo, lia-se no telão vermelho: “Tira o pé da minha serra”.
A cantora Nath Rodrigues, que havia se apresentado antes, retornou para um discurso contra a mineração no cartão-postal de BH. Artistas que estavam no backstage foram convidados a se manifestar.
Na plateia, gritos em favor do ex-presidente Lula e muitos adesivos e bandeiras de candidatos ao Congresso. Fernanda Takai fez a defesa contundente da Amazônia e da Serra do Curral.
“Está chegando a hora do fim; pode ser um fim subjetivo, mas não será o nosso fim”, disse ela ao final da apresentação.
Emoção durante o show de Clara x Sofia, na Praça da Estação
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Elza Soares e racismo
Na Praça da Estação, a Virada foi encerrada, no domingo à noite, com a apresentação de Flávio Renegado, que recebeu Sandra de Sá como convidada. Os dois prestaram homenagem a Elza Soares.
Flávio pediu para as pessoas acenderem isqueiros e lanternas e cantou “A mulher do fim do mundo”, sucesso da carreira de Elza, que morreu no início deste ano.
Entre uma música e outra, o cantor lembrou o período mais severo da pandemia. Puxou um “ele não” e estendeu as colocações políticas. “Por Ágata, Marielle e Anderson: parem de nos matar”, disse, referindo-se a pessoas negras assassinadas pela polícia.
Quando subiu ao palco, Sandra de Sá se lembrou de sua infância em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. E brindou o público com “Eu quero é botar meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio.
Renegado voltou ao palco e juntos cantaram “Olhos coloridos”, mas tiveram de interromper por causa de uma confusão no meio do público. De acordo com a Polícia Militar, não foram registradas ocorrências graves durante a Virada, que chegou ao fim com saldo mais que positivo. Prevaleceram, afinal, o congraçamento e a arte.
Flávio Renegado e Sandra de Sá encerraram a Virada com protesto contra o racismo e tributo a Elza Soares
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O sábado foi de intensa movimentação no Hipercentro, desde as 19h. A Praça da Estação recebeu shows de abertura com Orquestra Atípica de Lhamas e o duo Clara x Sofia. O palco da Rua Guaicurus recebeu, no mesmo horário, diversos shows, alguns deles inseridos no festival Azeda.
Multidão cantou a valer durante shows na Praça da Estação, no sábado
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
No Parque Municipal, cantaram Silas Prado Sexteto, Jennifer Souza, Júlia Tizumba, Duo Mitre, Isabel Casimiro e Coladera.
Sobre o Viaduto Santa Tereza, a multidão transitava entre os dois palcos montados mas extremidades – uma exposição de carros antigos chamava a atenção.
A adesão à Virada Cultural na noite de sábado foi tão grande que até o espaço dedicado ao forró, no cruzamento das ruas da Bahia com Tupinambás, distante do corredor principal de atrações, atraiu um público significativo.
A Virada também incorporou os ares do carnaval, com o desfile do Bloco Fúnebre, comemorativo de seus 10 anos. Os foliões extemporâneos seguiram o cortejo que partiu da Praça Rui Barbosa, seguiu pela avenida dos Andradas e terminou na escadaria do edifício Sulacap.
A programação continuou madrugada adentro e o domingo raiou no ritmo da discotecagem da festa @bsurda na Praça da Estação, onde pessoas tomaram sol durante o evento Praia da Estação.
Na tarde de domingo, o frenesi que se viu na noite anterior havia arrefecido, mas era muito expressivo o número de pessoas circulando pelo Centro.
Oreia atraiu fãs do rap ao espaço do Duelo de MCs, no Viaduto Santa Tereza
O som mecânico da festa Transa entreteve, com muita música brasileira, o público que passou pela Praça da Estação ao longo da tarde. Já sob o Viaduto Santa Tereza, foram o funk, o rap e o trap que deram o tom. Por volta das 16h ainda era possível ver, aqui e acolá, pessoas circulando em trajes de banho, com a pele vermelha pela exposição ao sol na Praia da Estação.
Centenas de espectadores acompanharam o rapper Oreia. Acompanhado de um DJ, ele centrou foco em composições de sua carreira solo. O público, como que regido pelo artista, agitava os braços no ar.
“Quem tá gostando faz barulho aí”, convocou Oreia. E fez-se o barulho no local de BH mais identificado com a cultura hip-hop, graças ao Duelo de Mcs.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria