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Estado de Minas LITERATURA

Viagem afetiva � �frica deu o prestigiado Jabuti � mineira Anna Cunha

'Origem', livro escrito e ilustrado por ela, ganhou e n�o levou o Pr�mio Jo�o de Barro. Originais quase ficaram trancados para sempre na gaveta


04/12/2022 04:00 - atualizado 03/12/2022 20:44

Ilustração de Anna Cunha mostra criança africana se confundindo com a terra da paisagem. Ao fundo se vê o Sol
A mineira Anna Cunha transformou em imagens "fora do comum" as lembran�as que trouxe da �frica, fonte de inspira��o do premiado "Origem" (foto: Anna Cunha/divulga��o)

''Quando o personagem n�o tem g�nero definido pelo texto ou pelo projeto, minha tend�ncia � ilustrar menina ou mulher. Acho que j� instintivamente fa�o disso um trabalho pol�tico''

Anna Cunha, escritora e ilustradora


Um concurso ganho e um pr�mio perdido por causa de min�cia acabaram fazendo com que a ilustradora mineira Anna Cunha, de 37 anos, ganhasse o Jabuti 2022, mais tradicional premia��o liter�ria do Brasil. Esta � a hist�ria de “Origem”, vencedor na categoria Ilustra��o da 64ª edi��o do pr�mio.

Corria o ano de 2018 e Anna, com dezenas de hist�rias (dos outros) ilustradas, decidiu fazer a sua pr�pria. Seu objetivo naquele ano era se inscrever no Concurso Jo�o de Barro, criado h� quase quatro d�cadas pela Prefeitura de Belo Horizonte e voltado exclusivamente para a literatura infantojuvenil.

Anna escreveu e ilustrou “Origem”. Venceu o Jo�o de Barro. S� que o documento de atestado de d�bito trabalhista faltou em sua ficha de inscri��o. “No edital n�o ficava claro, o pedido (do atestado) estava escondido. Consegui o documento, entrei com o recurso, mas n�o adiantou.” O Jo�o de Barro foi perdido.

Ilustração de Anna Cunha mostra mulher africana com bebê nos braços
A for�a do corpo africano chamou a aten��o da autora mineira (foto: Anna Cunha/divulga��o)
 
O livro ficou na gaveta, enquanto Anna continuava ilustrando t�tulos de outros autores. Ela acabou conseguindo editora para public�-lo, a curitibana Maralto Edi��es, que prioriza obras que fa�am conex�o entre literatura e artes pl�sticas. Mas veio a pandemia e a obra ficou parada. Somente em 2021 “Origem” foi publicado.

O Jabuti, Anna comenta, � um incentivo e tanto “para acreditar no meu trabalho autoral”. Ela admite que pensou em desistir no meio do caminho. “Fiz um livro (‘Cisco’) em 2013, ganhei men��o honrosa no Jo�o de Barro. Mas ele nunca foi publicado. Estava bastante desanimada.”

Tanto “Origem” quanto “Cisco” fogem do comum. “S�o livros que escapam de defini��es, um pouco sem lugar. N�o t�m texto infantil, mas, ao mesmo tempo, s�o ilustrados. S�o ou n�o para crian�as? Para mim, isso n�o importa, pois os bons livros infantis s�o para todas as idades. Comercialmente, no entanto, acaba sendo dif�cil encontrar editoras que se interessem.”

“Origem” nasceu da viagem que Anna fez pela �frica, em 2017. Durante dois meses, a bordo de um caminh�o, ela percorreu oito pa�ses.

“Comecei a ficar muito tomada por algumas imagens. A brincadeira das crian�as me marcou ao longo da viagem. Elas n�o tinham objetos, brinquedos, ent�o brincavam com coisas da terra, sementes, galhos, o que achavam dispon�vel na natureza. E tamb�m com o corpo de uma forma potente, o que me emocionou muito.”

Jornada africana

Ao retornar a Belo Horizonte, Anna levou um tempo at� se sentar para escrever e ilustrar, ainda impactada pela viagem. “Foi meio desordenado, ca�tico. Imagens no livro, como de crian�as embaixo de uma �rvore, era o que eu via o tempo todo, a cada vilarejo. Ao mesmo tempo, certas frases come�aram a chegar e, de maneira pouco planejada, imagem e palavras foram sendo constru�das juntas. No final, ficou uma esp�cie de prosa po�tica.”

Anna Cunha sorri para a câmera
Anna Cunha diz que seus livros 's�o um pouco sem lugar' (foto: Anna Cunha/divulga��o)
Antes do Jabuti por “Origem”, Anna havia sido finalista do pr�mio em outras tr�s ocasi�es, mas sempre como ilustradora de obras de outrem. Ela soma ao menos 30 livros ilustrados – e j� tem tr�s t�tulos j� fechados para trabalhar em 2023.

Graduada em artes pl�sticas pela Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) – tamb�m se formou em ci�ncias biol�gicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas nunca atuou no meio –, Anna trabalha com ilustra��o desde a juventude. Aos 18 anos, come�ou pelas pr�prias produ��es: cart�es, caderninhos e agendas, que passaram a ser comercializados.

No meio profissional, ilustrou para revistas, atuou no segmento do design gr�fico e da publicidade, at� que em 2011 estreou no mercado editorial. Depois do primeiro livro ilustrado, “Vestido de menina” (Peir�polis), de Tatiana Felinto, n�o parou mais. Com rar�ssimas exce��es, como o conto “A instrumentalina” (Peir�polis), da autora portuguesa L�dia Jorge, todos os t�tulos s�o voltados para o p�blico infantojuvenil.
 
As figuras femininas s�o muito presentes. “Quando o personagem n�o tem g�nero definido pelo texto ou pelo projeto, minha tend�ncia � ilustrar menina ou mulher. Acho que j� instintivamente fa�o disso um trabalho pol�tico”, comenta.
 
Ilustração de menino negro soltando papagaio feita por Anna Cunha
O negro tem destaque na obra de Anna Cunha (foto: Anna Cunha/divulga��o)
 

Imagens de pessoas negras tamb�m s�o uma constante. “Isso faz parte do meu trabalho desde o princ�pio. Parte do interesse de olhar para a cultura brasileira, para a diversidade, e de estar atenta ao que nos diz respeito.”

Mesmo com a demanda para o mercado editorial, Anna continua produzindo sua linha em papelaria. Al�m de cart�es e cadernos, h� p�steres, azulejos, porta-copos, carimbos e roupas para beb�s comercializados em lojas de museus, livrarias e no site annacunha.com.
 
Ilustração de Anna Cunha mostra circo e família negra ao lado da lona, observando criança brincar com objetos reproduzindo animais dispostos sobre a mesa
"Circo", de Anna Cunha (foto: Anna Cunha/divulga��o)
 

Atualmente, o papel, o l�pis e a tinta perderam espa�o para o meio digital, no qual ela faz a maior parte de suas ilustra��es.

“A ilustra��o digital vem da pesquisa de linguagem pict�rica. Para mim, n�o tem diferen�a se eu tivesse pintado � m�o. O processo, semelhante ao da pintura anal�gica, me instiga, pois tive que desenvolver a minha linguagem para trabalhar”, finaliza.

capa do livro Origem, de Anna Cunha
(foto: Maralto/reprodu��o)

“ORIGEM”

• De Anna Cunha
• Maralto
• 40 p�ginas
• R$ 44,90
• � venda em www.annacunha.com


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