Foto das ruínas do Cine Candelária

Foto das ru�nas do Cine Candel�ria, na Pra�a Raul Soares, em Belo Horizonte, faz parte da exposi��o realizada na Casa do Jornalista

Gabriel Werneck/divulga��o

Chega a Belo Horizonte, neste fim de semana, a maratona metalingu�stica em que cinemas de rua s�o o tema de um conjunto de filmes – 30 curtas e um m�dia-metragem – agrupados em sess�es na Casa do Jornalista. A Mostra Cinemas do Brasil, que est� em sua terceira edi��o, tem percorrido diversas cidades do pa�s, al�m de La Paz, na Bol�via.

Idealizado e coordenado por Eudaldo Mon��o Jr., da Memorabilia Filmes, o projeto se volta para a situa��o dos cinemas de rua – que, em grande parte, fecharam as portas – e, sobretudo, para as impress�es que eles deixaram na mem�ria afetiva das pessoas.

Em Belo Horizonte, a mostra � realizada em parceria com o Centro de Estudos Cinematogr�ficos de Minas Gerais (CEC-MG), Instituto Humberto Mauro e Projeto Dona.

A primeira edi��o, em 2019, passou por 42 cidades brasileiras, inclusive Belo Horizonte, com exibi��es no Cine Santa Tereza. A segunda, durante a pandemia, foi totalmente virtual, com apenas uma sess�o presencial no sistema drive-in, em Sergipe.
 
A terceira teve in�cio em 2021, apenas no ambiente on-line, e come�ou a circular a partir da flexibiliza��o das medidas de enfrentamento � COVID-19.

fachada do Cine Art Palácio

Foto da fachada do Art Pal�cio, no Centro de BH, que foi uma das salas de cinema mais frequentadas de BH

Gabriel Werneck/divulga��o

Cine Rio Branco, tesouro baiano

Eudaldo Mon��o conta que o embri�o da mostra foi o curta que ele pr�prio dirigiu, “Cine Rio Branco”, sobre a sala de exibi��o de sua cidade natal, Nazar� das Farinhas, no Rec�ncavo Baiano. � um dos cinemas de rua mais antigos do pa�s.

O espa�o, que estava abandonado, foi comprado pelo jogador de futebol Vampeta, filho ilustre da cidade, que o restaurou e o entregou � administra��o p�blica.

“A partir do filme, tive conhecimento, ao pesquisar, de outros t�tulos que tamb�m abordam o universo dos cinemas de rua, da� veio a ideia de fazer a exibi��o conjunta”, diz o idealizador da mostra. A sess�o inaugural ocorreu no Cine Olympia, em Bel�m (PA), o mais antigo do Brasil ainda em funcionamento.

Depois foi realizada sess�o no pr�prio Cine Rio Branco, em Nazar� das Farinhas, e a partir da� come�ou a articula��o com outras cidades do pa�s. Com o subt�tulo “Quando a sala de cinema vira personagem”, a primeira edi��o da mostra chegou a Telavive, em Israel, por meio de �rg�o ligado � embaixada brasileira naquele pa�s – o mesmo caminho percorrido pela edi��o em La Paz.

Eudaldo chegou aos t�tulos que fizeram parte das duas primeiras edi��es por meio de pesquisas. Para a terceira edi��o, houve convocat�ria aberta a realizadores de todo o pa�s.

“� mais uma forma de esses filmes chegarem at� n�s. Recebemos cerca de 200 t�tulos. Claro que nem todos dialogam com nossa tem�tica, mas foi poss�vel compor um panorama interessante”, aponta o curador.
 
Cena do filme 'Cinemas de rua de Aracaju'

Cena do filme 'Cinemas de rua de Aracaju', dirigido por Eudaldo Mon��o Jr.

Reprodu��o
 

Nesta edi��o, Eudaldo vai apresentar o seu “Cinemas de rua de Aracaju”. Outros t�tulos que comp�em a programa��o tratam de diversas quest�es ligadas �s salas de rua.

“S�o produ��es sobre modos de ver filmes, que focam em personagens, o p�blico que teve sua vida entrela�ada com a hist�ria dos cinemas, os trabalhadores desses espa�os, os projecionistas”, diz.

Eudaldo e a jornalista Priscila Urpia, integrante do coletivo #CineRuaPe, que passou a compor a curadoria a partir da segunda edi��o da mostra, fizeram a primeiro filtro das produ��es Os filmes selecionados – document�rios, principalmente, mas tamb�m obras de fic��o e experimentais – se somaram a outros, frutos de sua pesquisa.

“Com os filmes inscritos e aqueles resultantes de nossa pesquisa em m�os, fizemos recortes, dividindo a mostra em oito sess�es, que agrupam os t�tulos de acordo com os di�logos poss�veis que eles estabelecem entre si”, diz.

Neste s�bado (4/3), a partir das 12h, haver� as sess�es “Di�logos com o cinema e novas m�dias”, “Cinema em toda parte” e “Sess�o proibida”.

No domingo (5/3), a Casa do Jornalista abriga as sess�es “Mem�rias de cinema”, “Protagonistas do cinema” e “Sub�rbio em transe”, com tr�s produ��es do coletivo carioca hom�nimo. Cada sess�o ter� de tr�s a sete produ��es.

Nos dois dias, haver� experi�ncia imersiva com o filme “Cine Metro”, que ser� projetado em 360 graus, de forma que o p�blico poder� se sentir dento do cinema.

Cena do filme 'O projecionista'

Cena do filme "O projecionista", que ser� exibido na sess�o "Protagonistas do cinema"

Reprodu��o

Sess�o imersiva s� em BH

Eudaldo destaca que a sess�o imersiva � atra��o exclusiva de Belo Horizonte, onde outras a��es, desenvolvidas pelos parceiros locais, se somam �s exibi��es: mostra fotogr�fica, “Museu de Cinema”, feirinha de DVDs e a distribui��o gratuita de pipoca.

A produ��o da mostra em cada cidade tamb�m foi definida por meio de convocat�ria. “Abrimos para os espa�os que manifestassem interesse em receber a programa��o, o que inclui salas de cinema, cineclubes, escolas, centros culturais e produtoras audiovisuais. Em BH, o CEC, o Instituto Humberto Mauro e o Projeto Dona chegaram a n�s por meio da convocat�ria e propuseram fazer o evento na Casa do Jornalista”, conta.

Uma das criadoras do Projeto Dona, ao lado de Sofia Marinho, Sarah Hellen diz que elas foram procuradas por Victor de Almeida, diretor-executivo do Instituto Humberto Mauro, uma esp�cie de centro de pesquisa do CEC-MG, e ele fez a proposta de realiza��o da mostra.

O Projeto Dona, que atua como produtora cultural, surgiu como desdobramento do Trabalho de Conclus�o de Curso (TCC) na PUC Minas, onde Sofia e Sarah se formaram em cinema e audiovisual, no ano passado. O trabalho da dupla foi justamente um curta documental sobre a hist�ria dos cinemas de rua de Belo Horizonte.

“No per�odo do TCC, a gente entrou em contato com o CEC, pedindo ajuda para acessar material sobre cinemas de rua. Depois que apresentamos o trabalho, em novembro, recebemos e-mail do Victor, em que ele dizia que queria nos apresentar proposta que tinha tudo a ver com a tem�tica que est�vamos trabalhando. E citou a convocat�ria do Eudaldo”, conta Sarah.

A programa��o j� chega pronta, coube ao Projeto Dona emoldurar a mostra. “Quisemos agregar para fazer realmente um evento cultural, ocupando toda a Casa do Jornalista. Fizemos a proposta ao Victor de ter ali uma exposi��o fotogr�fica, uma sess�o imersiva, feirinha de DVDs, pipoca gr�tis. Tivemos tamb�m a parceria incr�vel do Museu da Imagem e do Som, que disponibilizou imagens de cinemas de rua”, explica.
 

"S�o produ��es sobre modos de ver filmes, que focam em personagens, o p�blico que teve sua vida entrela�ada com a hist�ria dos cinemas, os trabalhadores desses espa�os, os projecionistas"

Eudaldo Mon��o Jr., coordenador da mostra

 

Ir ao cinema: ritual que deixou saudades

Para Sarah, que nasceu nos anos 2000 e n�o frequentou cinemas de rua, lidar com esta tem�tica � manter a mem�ria viva. Ela conta que entrevistados para seu TCC revelaram que ir ao cinema em d�cadas passadas era um evento. Algo que pedia, inclusive, produ��o caprichada do vestu�rio.

“Falar sobre isso � importante para as pessoas se inteirarem sobre estes espa�os como entes culturais que contam muito sobre a hist�ria de Belo Horizonte. O cinema de rua completou um ciclo, estamos vivendo outros ciclos agora. Ent�o, � voltar ao passado para entender um pouco o que foi isso. Durante o TCC, a gente sonhava com a mem�ria de outras pessoas”, ressalta.
 
Praticamente n�o existem mais cinemas de rua, mas ela considera que resgatar essa hist�ria pode contribuir para que os pr�dios que eles ocuparam sejam tombados e tenham uma destina��o cultural. “O Cine Candel�ria, na Pra�a Raul Soares, foi um dos mais importantes de BH e est� caindo aos peda�os”, lembra.
 
Cena do filme 'Cine morto'

Cena do filme "Cine morto"

Reprodu��o
 

Resgate da hist�ria do Brasil

Eudaldo destaca a import�ncia da Mostra Cinemas do Brasil por promover resgates hist�ricos. “Os t�tulos da programa��o acabam contando um pouco a pr�pria hist�ria do Brasil, por meio de espa�os que ainda est�o ali, resistentes, nas cal�adas das cidades do pa�s”, observa.

De acordo com ele, � medida em que a mostra expande o raio de a��o, vai criando um c�rculo de retroalimenta��o. “Essa iniciativa vem tomando propor��o bacana e se tornando conhecida em v�rias cidades brasileiras. Ela acaba incentivando a produ��o de novos t�tulos. O fato de existir esta mostra com capilaridade atrai realizadores que querem ver seus filmes chegarem ao p�blico”, aponta.
 
Em junho deste ano, come�a a quarta edi��o da mostra, com abertura de outra convocat�ria. Eudaldo diz que novos filmes sobre a tem�tica continuam surgindo, o que demonstra o interesse que a iniciativa gera.

“Queremos fazer uma oficina de produ��o audiovisual para incentivar ainda mais a cria��o de novos filmes sobre esse universo para que tenhamos sempre esse tipo de produ��o”, diz.

PROGRAMA��O

NESTE S�BADO (4/3)

>> 13h �s 14h15
Sess�o “Di�logos com o cinema e novas m�dias”
• Filmes: “A Gal and a gun”, “Oito quadras”, “Dias de gl�ria”, “Uma inven��o sem futuro” e “101%”

>> 14h50 �s 16h50
Sess�o “Cinema em toda parte”
• Filmes: “Guarany: eu sou o menino do Cinema Paradiso”, “Oj� On�”, “Salas universit�rias de cinema no Brasil”, “Vozes da mem�ria” e “4 bilh�es de infinitos”

>> 17h30 �s 18h10
Sess�o “Proibida”
•Filmes: “Rua da Carioca, 49”, “Em busca do gozo perdido” e “Cineminha”

>> 14h14 �s 14h50 e 16h50 �s 17h30
Sess�o imersiva
• Filme: “Cine Metro”

DOMINGO (5/3)

>> 13h �s 14h
Sess�o “Mem�rias de cinema”
• Filmes: “Cinema � drops”, “Adeus Paissandu”, “Cinemas de rua de Aracaju”, “Cultural” e “Cine morto”

>> 14h30 �s 16h20
Sess�o “Protagonistas do cinema”
• Filmes: “A rosa p�rpura de Fradique”, “Marius Bells em cartaz”, “Cole��o preciosa”, “Drops Cine Marrocos”, “Cine Aur�lio”, “O projecionista” e “Abelardo”

>> 17h �s 18h40
Sess�o “Sub�rbio em transe”
• Filmes: “Cine Guaraci”, “Cine Vaz Lobo” e “Cine Art 7”

>> 14h �s 14h30 e 16h20 �s 17h
Sess�o imersiva
• Filme: “Cine Metro”

3ª MOSTRA CINEMAS DO BRASIL

• Neste s�bado (4/3) e domingo (5/3), a partir de 12h, na Casa do Jornalista (Av. �lvares Cabral, 400, Centro). 
• Informa��es: (31) 3224-5450.
• Entrada franca.