País que abriga em seu território paisagens como a mata atlântica, o Pantanal, os campos dos pampas e, claro, a floresta amazônica, a maior floresta tropical úmida do planeta, o Brasil detém uma das maiores biodiversidades do mundo.
Existe, no entanto, uma espécie de cegueira botânica entre os brasileiros.
É com o objetivo de contribuir para sanar esse desconhecimento da população em relação à biodiversidade brasileira que o Instituto de Arte Contemporânea em Brumadinho, em parceria com a Rede Brasileira de Jardins Botânicos, realiza a partir desta quarta-feira (29/3) o primeiro Congresso Nacional de Jardins Botânicos.
Juliano Borin, curador botânico do Inhotim, avisa: jardim botânico que não educa perde a razão de existir
A iniciativa pretende reunir em Inhotim profissionais de jardins botânicos e paisagismo de todo o país, para discutir planos de preservação ambiental, de pesquisa e sobretudo educacionais voltados para a sociedade brasileira. A partir do resultado dessa reunião, cada jardim botânico desenvolverá projetos locais com atividades que promovam a participação do público em geral.
“A ideia é fazer o congresso com esses profissionais para que todo mundo possa falar a mesma linguagem e voltar a se comunicar”, afirma Borin. “Porque, se um jardim botânico não cumpre um papel educacional frente à sociedade, ele perde sua razão de ser”, emenda.
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Ausência de financiamento e privatização
Conforme regulamentação de 2003, os jardins botânicos são áreas protegidas, constituídas “no seu todo ou em parte, por coleções de plantas vivas cientificamente reconhecidas, organizadas, documentadas e identificadas, com a finalidade de estudo, pesquisa e documentação do patrimônio florístico”, segundo decreto oficial.
No entanto, parte desses espaços, sobretudo os públicos, não conta com recursos e financiamento necessários para sua manutenção. Nos últimos anos, inclusive, houve privatização de diversos jardins botânicos, sob a justificativa de que a transferência para a iniciativa privada aumentaria os investimentos.
Os profissionais da área e especialistas, no entanto, apontam para outra alternativa, que seria, na opinião deles, a melhor solução para lidar com a questão. Em vez de privatizar os espaços, o poder público deveria fomentar linhas de crédito e financiamento para os jardins botânicos desenvolverem projetos.
“Tem muito jardim botânico que está ao léu, de mãos atadas e sem recursos”, comenta Borin. “O Brasil é um dos países com a maior biodiversidade do mundo. No agro, a gente é o maior. Então temos que estar na vanguarda. Precisamos discutir esse tema com a sociedade. E também devemos inserir o poder público nessa conversa. Tem que ser um esforço mútuo.”
Ferramenta cultural
Não é de se estranhar que a iniciativa do Congresso Nacional de Jardins Botânicos tenha partido do Inhotim. O instituto, além de abrigar um dos mais importantes acervos de arte contemporânea, concentra exemplares da flora de todas as florestas tropicais do mundo em seu jardim botânico. Ao todo, são cerca de 4,3 mil espécies de plantas espalhadas ao longo dos 250 hectares da Reserva Particular de Patrimônio Natural Inhotim (RPPN).
Também vivem no local animais silvestres de diferentes espécies. Alguns dos mais populares são seriema, mico-estrela, caxinguelê e jacupemba.
“O jardim botânico é uma ferramenta cultural que pode transformar a sociedade. A gente tem que mostrar isso para o público. Porque, ao verem isso, as pessoas se encantam e vão querer saber o nome da planta. Deixam, portanto, de chamar aquela espécie de mato, e sempre que encontrarem aquela plantinha, vão querer identificá-la e contar alguma história relacionada a ela. Assim é feita a educação ambiental. E é para isso que a gente entende que o jardim botânico serve”, diz Borin.