Ritchie

'Em 20 minutos, a m�sica j� estava pronta. Nunca mais fizemos outra t�o r�pido!', lembra Ritchie

Divulga��o

 

Numa manh� qualquer de agosto de 1982, o cantor e compositor Ritchie acordou com uma melodia na cabe�a. Ainda sonolento, no Rio de Janeiro, tocou os acordes sonhados no teclado Casiotone que a mulher, a arquiteta e estilista Leda Zuccarelli, tinha comprado em Nova Iorque.

 

Naquele mesmo dia, Ritchie recebeu a visita de Bernardo Vilhena. Na descida de Nova Friburgo, regi�o serrana do Rio, o poeta come�ou a rascunhar os primeiros versos de uma nova can��o: Menina Veneno. Sua inspira��o veio do livro O Homem e Seus S�mbolos, de Carl Gustav Jung, que ganhara de anivers�rio de dois ex-companheiros do V�mana, banda de rock progressivo dos anos 1970: Ritchie e Lulu Santos.

 

Com a cabe�a fervilhando de ideias, letrista e compositor logo se trancaram num dos quartos do duplex para burilar a can��o. Ou, como diria Ritchie, "montar o quebra-cabe�a". A toda hora, eram interrompidos por Mary, a filha mais velha do cantor, que tinha acabado de completar dois anos e estava aprendendo a andar.

 

De fraldinha, ela subia as escadas e, triunfante, abria a porta do quarto. Na terceira ou quarta vez, Bernardo soltou uma risada e, bem-humorado, resolveu incluir a frase "Ou�o passos na escada / Vejo a porta abrir…" na can��o.

 

"Em 20 minutos, a m�sica j� estava pronta. Nunca mais fizemos outra t�o r�pido!", relata Ritchie, hoje aos 71 anos. "A menina veneno da can��o n�o � uma pessoa; � uma apari��o. � uma figura on�rica, muito sensual e quase mitol�gica".

Entre o abajur cor de carne e o len�ol azul

Uma das pe�as desse quebra-cabe�a causa pol�mica at� hoje. � o tal do abajur cor de carne. J� houve quem dissesse que Ritchie cantava cor de carmim. "Voc� est� cantando errado!", chegou a ouvir de um f� mais exaltado. "Como assim?", rebateu. "A m�sica � minha!".

 

"Quando ou�o a m�sica de outro artista, n�o vou l� na casa dele perguntar: 'Vem c�, o que voc� quis dizer com isso?'", ironiza o cantor. "N�o me pe�a para explicar minhas m�sicas. Cada um interpreta como quiser".

 

Bernardo Vilhena, o autor da letra, tenta elucidar o mist�rio: quando a atriz e cantora alem� Marlene Dietrich (1901-1992) se hospedou no Copacabana Palace, em agosto de 1959, elogiou os abajures cor de pergaminho (fleisch farbe, no original) do hotel. Quanto ao len�ol azul, bem, azul era a �nica cor que rimava com "nu".


Alice Pink Pank, Bernardo Vilhena e Ritchie

Bernardo Vilhena e Ritchie ao lado da cantora e tecladista holandesa Alice Pink Pank

Acervo Pessoal

 

Quem era vizinho de Ritchie no n�mero 698 da Estrada da G�vea era Lob�o. Certa noite, o cantor ingl�s foi � casa do ex-baterista do V�mana pedir uma x�cara de a��car. Quem atendeu a porta foi a cantora Fernanda Abreu. Dentro do apartamento, um burburinho que lembrava o ensaio de uma banda de rock.

 

Mal sabia Ritchie que, poucos meses depois, nasceria ali a Blitz, uma das bandas pioneiras do rock nacional, formada por Evandro Mesquita nos vocais, Ricardo Barreto na guitarra, Ant�nio Pedro no baixo, Billy Forghieri nos teclados, Fernanda Abreu e M�rcia Bulc�o nos backing vocals e Lob�o na bateria.

 

Por diverg�ncias art�sticas, Lob�o saiu da banda pouco depois do lan�amento de As Aventuras da Blitz (1982) e foi substitu�do por Roberto Gurgel, o Juba, nas baquetas.

 

"Eu e Ritchie fizemos a maioria das m�sicas juntos. Na juventude, era minha forma preferida de trabalhar. Hoje � raro ser assim", explica o letrista Bernardo Vilhena.

 

"A melhor lembran�a que guardo daquela �poca foi fazer esses dois primeiros discos: Cena de Cinema, com o Lob�o, e Voo de Cora��o, com o Ritchie. Os dois moravam em um pr�dio em S�o Conrado. Era uma verdadeira loucura. S� mudava de apartamento".

 

Quando comp�s o maior hit de sua carreira, Ritchie ainda n�o era um popstar. Dava aula de ingl�s em um cursinho de idiomas em Ipanema, o Berlitz. Entre seus alunos, uma cantora baiana chamada Gal Costa. Certo dia, Ritchie tomou coragem e entregou uma fita com algumas de suas can��es para Gal escutar.

 

Na aula seguinte, ela devolveu o cassete. "Ent�o, Gal, vai gravar uma das minhas m�sicas?", perguntou o professor, com um sorriso amarelo. "N�o", respondeu a aluna. "Quem tem que grav�-las � voc�! Sua voz � linda".

 

No dia da morte da cantora, em 9 de novembro de 2022, Ritchie prestou homenagem em seu perfil no Twitter: "Minha doce ex-aluna. Me incentivou a cantar e a gravar minhas m�sicas. Que tristeza! Era uma das vozes mais lindas que j� tive o prazer de ouvir".

'A banda mais famosa que ningu�m nunca ouviu'

Richard David Court, conhecido como Ritchie, nasceu em Beckenham, na Inglaterra, em 6 de mar�o de 1952. Filho de militar, morou em pa�ses como Qu�nia, I�men do Sul e Alemanha e estudou, dos 7 aos 19 anos, em col�gios internos.

 

Em 1972, largou os estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido, para tocar flauta na banda Everyone Involved. Estava no est�dio gravando o disco Either/Or quando o guitarrista Mike Klein o apresentou a tr�s m�sicos brasileiros: a cantora Rita Lee, o baixista Liminha e a guitarrista Lucinha Turnbull.

 

Conversa vai, conversa vem, Liminha deixou escapar um "Pinta l� em casa" para Ritchie. No finalzinho de 1972, o ingl�s de cabelo comprido e visual andr�gino "pintou" em S�o Paulo. "Voc� veio mesmo?", tomaram um susto. "U�, voc�s n�o me convidaram?", espantou-se o cantor que aprendeu as primeiras palavras em portugu�s assistindo aos epis�dios de Vila S�samo.


The Ritchie

Nascido em em Beckenham, na Inglaterra, Ritchie desembarcou em S�o Paulo em 1972

Divulga��o

 

Antes de seguir carreira solo, Ritchie tocou e cantou em v�rias bandas: Scalad�cida, A Barca do Sol, Soma… Foi em um sarau do Nuvem Cigana que conheceu o poeta Bernardo Vilhena e o convidou para escrever algumas das letras do V�mana, grupo formado pelo guitarrista Lulu Santos, o tecladista Luiz Paulo Simas, o baixista Fernando Gama e o baterista Lob�o.

 

"A banda mais famosa que ningu�m nunca ouviu", nas palavras de Ritchie, fez shows no Museu de Arte Moderna (MAM), acompanhou Mar�lia P�ra no espet�culo A Feiticeira e lan�ou um compacto simples pela Som Livre, em 1977.

 

Dali a alguns anos, Bernardo Vilhena se tornaria um dos maiores letristas do rock nacional. Sua primeira m�sica a estourar nas r�dios foi Mais Uma de Amor (Geme Geme), da Blitz, em 1982. Com Lob�o, comp�s alguns de seus maiores sucessos, como Cora��es Psicod�licos, Vida Bandida e Chorando no Campo.

 

"Na adolesc�ncia, fui convidado a cantar em uma banda de rock. Fiz dois shows, mas n�o gostava dos ensaios. Gostava mesmo era de fazer m�sica", admite o letrista que j� comp�s com Cl�udio Zoli, Max de Castro e Ivo Meirelles, entre outros.

 

"O prazer do letrista � entrar num bar e ouvir a menina do caixa cantarolar as palavras que escrevi sem saber quem sou eu. Ou, na estrada, ler o t�tulo de uma de minhas can��es no para-choque de um caminh�o".

Fen�meno pop

S� com Ritchie, Bernardo Vilhena comp�s mais de 30 can��es. Dessas, oito est�o em Voo de Cora��o, lan�ado em junho de 1983. As que fizeram mais sucesso, al�m da onipresente Menina Veneno, s�o A Vida Tem Dessas Coisas, Pelo Interfone e Casanova, que virou tema de Champanhe (1983), novela da TV Globo.

 

"A m�sica n�o fez sucesso porque entrou na novela. Entrou na novela porque fez sucesso", avisa o cantor. "Voo de Cora��o est� entre os 10 �lbuns mais importantes do rock brasileiro", aponta o jornalista e escritor Arthur Dapieve, de Brock: O Rock Brasileiro dos Anos 80.

 

"O que mais me chama a aten��o � a facilidade do Ritchie em compor m�sicas pop: de curta dura��o, que grudam no ouvido, com letras inteligentes, que dialogam com todos os p�blicos".

 

O disco contou com a participa��o de Lulu Santos na guitarra, Liminha no baixo, Lob�o na bateria, Z� Luis no sax, Chico Batera na percuss�o e Lauro Salazar no piano e sintetizadores. N�o bastasse, Steve Hackett, ex-Genesis, tocou guitarra na faixa-t�tulo. J� Ritchie se revezou entre o microfone, o teclado Casio MT 40 e a flauta.

 

"Era amigo de praia do Bernardo e de col�gio do Lob�o. Quem me chamou para tocar no disco foi o pr�prio Ritchie. Nos conhecemos nos ensaios do V�mana", recorda o saxofonista Z� Lu�s, que tocou, entre outras bandas, com a Blitz e o Bar�o Vermelho.

 

"Gravei os solos de Baby, Meu Bem (Te Amo) e Pelo Interfone no banheiro da Warner". "Mesmo n�o sendo brasileiro, Ritchie foi um dos maiores – talvez o maior – fen�meno do pop brasileiro dos anos 1980", garante o jornalista e escritor Andr� Barcinski, que dedicou um dos cap�tulos de Pav�es Misteriosos – 1974-1983: A Explos�o da M�sica Pop no Brasil ao cantor ingl�s.

 

"O mais incr�vel � que a m�sica do Ritchie n�o tinha nada a ver com o tipo de pop que se fazia no Brasil na �poca: uma m�sica mais solar, praiana, tipo Blitz e Lulu Santos. Voo de Cora��o � um disco de synthpop (ou technopop), eletr�nico e urbano".

'Arranjo hipn�tico'

Mas o caminho percorrido pelo LP at� vender 1,2 milh�o de c�pias e conquistar quatro discos de platina e dois de ouro foi longo. Para come�o de conversa, nenhuma gravadora se interessou pelo material. "Gringo cantando em portugu�s? Isso n�o vai dar certo!", alegavam os executivos.


Ritchie e Nico Rezende

Ritchie e o tecladista Nico Rezende, companheiro de banda

Acervo Pessoal

 

Um dia, Ritchie estava na Warner, fazendo c�pias de Voo de Cora��o e Baby, Meu Bem (Te Amo) no escrit�rio de Liminha, quando o produtor Fernando Adour, ao ouvir Voo de Cora��o, detectou algo diferente no ar. E pediu uma c�pia da fita para entregar a um executivo da CBS.

 

Ritchie, desiludido, recusou. Adour, confiante, insistiu. No mesmo dia, o cantor recebeu uma liga��o de Cl�udio Cond�, diretor de A&R da gravadora, agendando uma reuni�o na sede da CBS, hoje Sony Music, no Flamengo.

 

Cond� tamb�m gostou do que ouviu. E contratou Ritchie. A gravadora prop�s que o cantor regravasse Voo de Cora��o em uma mesa de 24 canais — a grava��o original tinha sido feita numa de oito nos por�es da Warner. Mas, para n�o sacrificar o solo de Hackett, Ritchie optou por incluir outra de sua autoria: Menina Veneno.

 

"Fiquei impactado ao ouvir Menina Veneno. Tudo me pareceu perfeito: o arranjo, a letra, a voz…", recorda Cond�, hoje s�cio da LCTM Brand Builders.

 

"Me lembro de ter ligado para o Ritchie na sexta-feira para saber se ele tinha mais m�sicas e nos encontramos no s�bado. O repert�rio que deu origem a Voo de Cora��o estava todo l�".

 

Uma das primeiras r�dios a tocar Menina Veneno, distribu�da em rudimentares fitas de rolo, foi a Verdes Mares, de Fortaleza. Em pouco tempo, os telefones da emissora cearense n�o pararam mais de tocar. Eram ouvintes e mais ouvintes pedindo para o locutor repetir a m�sica do tal de Rin Tin. Ou seria Riqui? Houve at� quem o chamasse de Hitler. De tudo, menos de Ritchie.

 

"� claro que eu n�o esperava esse sucesso todo. Para falar a verdade, eu n�o esperava nem gravar um disco. Fui rejeitado por todas as gravadoras. J� tinha at� desistido da carreira!", diz o cantor.

 

Na sede da CBS, os executivos correram para lan�ar, no dia 14 de fevereiro de 1983, o compacto simples: de um lado, Menina Veneno; do outro, Baby, Meu Bem (Te Amo). Em duas semanas, vendeu 500 mil c�pias.

 

"Quando ouvi Menina Veneno pela primeira vez, tive a mesma sensa��o de quando ouvi, ainda garoto, Quero Que V� Tudo Pro Inferno, do Roberto Carlos", recorda o m�sico Nico Rezende. "Tinha um arranjo simplesmente hipn�tico".

O cantor de 1,2 milh�o de c�pias

O sucesso era tanto que, no dia 24 de junho, a gravadora decidiu soltar o LP Voo de Cora��o, com dez faixas. Ao todo, Ritchie vendeu, segundo estimativas, 1,7 milh�o de c�pias — 1,2 milh�o do LP e 500 mil do compacto.

 

No ano seguinte, n�o deu outra: na categoria de melhor cantor, o ingl�s desbancou Roberto Carlos e Tim Maia e levou para casa o Trof�u Imprensa, o ent�o maior pr�mio da TV brasileira, criado em 1958 pelo jornalista Pl�cido Manaia Nunes e apresentado desde 1970 por Silvio Santos.


Ritchie recebendo o disco de platina, entre Chacrinha e Claudio Condé

Ritchie recebendo o disco de platina, entre Chacrinha e Claudio Cond�

Acervo Pessoal

 

"O sucesso do Ritchie � similar ao do RPM. S�o dois fen�menos de venda, que se baseavam no techno-pop, com muito teclado. A diferen�a � que o RPM era uma banda de rock e o Ritchie, um artista pop. Eram, inclusive, colegas de gravadora: a CBS", explica Dapieve.

 

"Ritchie e RPM desagradaram o ent�o campe�o de vendas da CBS: Roberto Carlos. Ele morria de ci�mes. At� ent�o, reinava soberano como o cara que vendia mais de um milh�o de discos a cada Natal. Com Ritchie e RPM, teve que dividir esse bast�o".

 

Ritchie bem que tentou conciliar as carreiras de professor e de cantor. Chegava no Berlitz �s sete da manh� e sa�a ao meio-dia, com jaqueta de couro, �culos escuros e gomalina no cabelo. N�o deu muito certo. Se Menina Veneno tocava em todas as r�dios, das mais populares �s mais sofisticadas, o cantor participava de todos os programas. Semana sim, outra tamb�m, batia ponto no Cassino do Chacrinha, da TV Globo.

 

Logo, Ritchie montou uma banda para cair na estrada: o guitarrista Torcuato Mariano, o baixista Nilo Romero, o tecladista Nico Rezende, o baterista Fred Maciel, o saxofonista Chico S� e as backing Mariza Fossa e S�nia Bonf�.

Na estrada, com Ritchie

A banda excursionou por todo o pa�s. Um dia, estava em Bel�m; no seguinte, em Curitiba. Em sete meses, fez 139 shows, m�dia de cinco por semana.

 

"Foi uma turn� quase beatleman�aca", diverte-se Nico Rezende. "Lembro dos shows lotados e das mulheres desmaiando na frente do palco".

Ritchie chegou a se apresentar na final do Miss Universo, em Lima, no Peru. S� n�o foi � Argentina porque, filho de militar ingl�s, n�o queria se aventurar por territ�rio inimigo.

 

"Foi exaustivo? Muito! Perdi quilos e mais quilos. Mas estava feliz fazendo o que amava fazer", avalia Ritchie, 40 anos depois.

"Quando meu pai morreu, eu estava em Punta del Este, no Uruguai. S� soube da morte dele, alguns dias depois, quando voltei ao Rio. Naquele tempo, n�o havia celular, nem WhatsApp".

 

No Paraguai, o tecladista da banda Nico Rezende mostrou uma m�sica de sua autoria com o empres�rio do cantor, Paulinho Lima: Transas. "Daqui n�o sai", brincou o artista. "Quem vai gravar sou eu!". Foi inclu�da na trilha-sonora de Roda de Fogo (1986), da TV Globo.

 

Ao longo da carreira, Ritchie teve 14 m�sicas tocadas em novelas. S� em 1983, ano de lan�amento de Voo de Cora��o, foram tr�s: Menina Veneno em P�o P�o, Beijo Beijo; Tudo O Que Eu Quero (Tranquilo) em Eu Prometo; e Casanova, em Champanhe, todas da Globo.

 

Houve um momento em que nem Bernardo Vilhena aguentava mais ouvir a voz do parceiro. Foi quando alugou um barco em Manaus e seguiu at� Santar�m. Durante o trajeto de 740 quil�metros pelo Amazonas, visitou uma comunidade ribeirinha. Adivinhe a m�sica que as lavadeiras estavam ouvindo � beira do rio? Pois �, Menina Veneno.

 

No rastro do sucesso, Ritchie foi convidado a gravar Shy Moon com Caetano Veloso, fazer vocal de apoio na faixa Tempo Rei de Gilberto Gil e contracenar com Mick Jagger numa ponta do filme Running Out of Luck.

 

Em um intervalo das grava��es do �lbum Vel� (1984), Caetano Veloso confessou ao colega que, por causa de versos enigm�ticos como "Fico falando pras paredes at� anoitecer" e "E toda noite no meu quarto vem me entorpecer", achava que Menina Veneno era uma met�fora para hero�na.

A f�rmula do sucesso

Terminada a turn�, Ritchie voltou a entrar em est�dio. Com produ��o de Liminha, E a Vida Continua (1984) apresentava dez can��es, sete em parceria com Bernardo Vilhena. Aos poucos, Ritchie come�ou a compor com outros artistas, como Liminha (Bons Amigos) e Lob�o (Bad Boy).

 

"No est�dio, deixei claro que o segundo disco n�o seria igual ao primeiro", afirma o cantor. "Artisticamente, quero continuar evoluindo sempre. E n�o ficar me repetindo".

 

A gravadora, relata o artista, foi a primeira a perguntar: "Voc� n�o tem outra Menina Veneno para gravar?". "J� compus Menina Veneno", respondeu o artista. "N�o quero compor outra igual!".

 

"O segundo LP merecia ter sido melhor divulgado", lamenta o cantor. "Fui praticamente ignorado pela CBS". Mesmo assim, E A Vida Continua vendeu 100 mil c�pias.

 

"� uma marca extraordin�ria!", esclarece Dapieve. "Mas, em compara��o com o �lbum anterior, parecia um fracasso".

Indagado sobre por que E a Vida Continua vendeu menos que Voo de Cora��o, Cond� cita o exemplo de Michael Jackson:

"Bad (1987) vendeu menos que Thriller (1982)".

 

"O sucesso do Ritchie provocou uma tempestade de ressentimento e boicote", observa Barcinski. "Como algu�m pode explicar o fato de o artista mais famoso e adorado do pop brasileiro n�o ter sido convidado para o Rock in Rio?".

 

Um ano depois, Ritchie lan�ou seu terceiro �lbum: Circular. Das dez m�sicas, nove levaram a assinatura Ritchie & Bernardo Vilhena. A exce��o foi Favela Music, de Jim Capaldi. Vendeu menos ainda: 60 mil. Apesar de o contrato prever quatro discos, Ritchie foi dispensado sem gravar um quarto �lbum ou pagar multa rescis�ria.

 

Da CBS, Ritchie migrou para a Polygram, onde lan�ou mais tr�s discos: Loucura e M�gica (1987), Pra Ficar Contigo (1988) e Sexto Sentido (1990). Juntos, os tr�s venderam 44 mil c�pias. Afastado dos est�dios por 12 anos, voltou a lan�ar um �lbum de in�ditas em 2002: Auto-Fidelidade, pela Deckdisc. No �lbum, parcerias com Erasmo Carlos (Onde Que Eu Errei?) e Ronaldo Bastos (Um Lugar ao Sol).

'Garoto' de 71 anos

Em 2009, Ritchie lan�ou Outra Vez – Ao Vivo no Est�dio, onde revisita seus maiores sucessos. "As m�sicas s�o as mesmas, mas a embalagem � outra: menos new wave, mais rock’n’roll", explica.

 

Quando esgotou a tiragem inicial do DVD, disponibilizou a grava��o no YouTube. S� A Vida Tem Dessas Coisas tem hoje 33 milh�es de views.

 

"S�o, ao todo, quase 70 milh�es de visualiza��es. Nada mal para um senhor de 71 anos que est� h� 20 sem gravadora. Estou satisfeito com os rumos da minha carreira. Novos f�s n�o param de chegar".


O Ritchie

'O rock rejuvenesce!, diz ele

Divulga��o

 

Na d�cada de 2010, Ritchie lan�ou tr�s �lbuns de covers: 60 (2012), seu primeiro trabalho 100% em ingl�s, e Old Friends (2016) e Wild World (2019), que revisitam os repert�rios de Paul Simon e Cat Stevens. At� pensou em lan�ar um terceiro volume, dedicado a James Taylor, mas a pandemia n�o o deixou.

 

Por ora, s� pensa em comemorar os 40 anos de Voo de Cora��o. At� o momento, tem cinco shows agendados: Cine J�ia, em S�o Paulo (25/5); Vivo Rio, no Rio de Janeiro (11/8); Espa�o Unimed, em S�o Paulo (13/8); e Pal�cio das Artes, em Belo Horizonte (16/9).

 

No dia 19 de agosto, abre o show de Steve Hackett na Praia de S�o Francisco, em Niter�i (RJ). "Quando subo ao palco, me sinto um garoto", brinca Ritchie. "O rock rejuvenesce!".