Grupo Corpo estreia 'Estancia', nos EUA, ao lado do maestro Gustavo Dudamel
Companhia se apresenta hoje (18/7), em Los Angeles, dan�ando pela primeira vez com orquestra ao vivo em palco reduzido, sem cenografia e troca de figurinos
Esp�rito gauchesco inspirou "Estancia", com m�sica do argentino Alberto Ginastera e orquestra regida por Gustavo Dudamel, que comanda a Filarm�nica de Los Angeles
Jos� Luiz Pederneiras/divulga��o
"Coreografei at� os sil�ncios, as pausas em que a orquestra tem de passar as p�ginas da partitura"
Rodrigo Pederneiras, core�grafo
O movimento dos bailarinos, com gestos firmes e batidas ritmadas dos p�s no palco, lembra o estilo de dan�a malambo, modo tradicional de o ga�cho demonstrar destreza e vigor em competi��es. O movimento � suave, lembra o vento que enverga o trigo. A vida no pampa � a premissa tem�tica de “Estancia”, coreografia que o Grupo Corpo estreia nesta ter�a-feira (18/7) nos Estados Unidos.
O bal� assinado por Rodrigo Pederneiras, core�grafo da companhia, surgiu do convite do regente titular da Filarm�nica de Los Angeles, o venezuelano Gustavo Dudamel, um dos maestros mais importantes do mundo. A composi��o sinf�nica do argentino Alberto Ginastera, criada em 1941, � a trilha que d� nome ao espet�culo na agenda do Hollywood Bowl, teatro de 17,5 mil lugares da cidade californiana.
Desafios para Rodrigo
Pela primeira vez, a companhia se apresenta com orquestra ao vivo. Pederneiras conta que a articula��o dos movimentos da dan�a com o andamento dos m�sicos foi desafiador. Os ensaios seguiram a grava��o da trilha enviada por Dudamel. “Coreografei at� os sil�ncios, as pausas em que a orquestra tem de passar as p�ginas da partitura”, diz ele.
N�o h� cenografia ou desenho de ilumina��o. A movimenta��o dos bailarinos na frente dos m�sicos foi estudada. O comprimento do palco, a profundidade reduzida e a falta de coxias foram provoca��es criativas para o desenvolvimento da coreografia.
"Coreografei at� os sil�ncios, as pausas em que a orquestra tem de passar as p�ginas da partitura"
Rodrigo Pederneiras, core�grafo
O bal� composto por Alberto Ginastera � inspirado no poema argentino, de car�ter nacionalista, “O ga�cho Mart�n Fierro”, escrito por Jos� Hern�ndez, em 1872. Os versos exaltam o modo de vida gauchesco e criticam a arbitrariedade da luta pol�tica e militar oitocentista que empurra o protagonista para patrulhas policiais e o leva � ru�na moral.
“Estancia”, de Ginastera, por�m, n�o segue a jornada de Fierro. A pe�a sinf�nica apreende a estrutura temporal do poema e traz epis�dios da vida de um ga�cho no ciclo de um dia. Os movimentos se dividem em cenas entre o amanhecer, o dia, a tarde, a noite e um novo amanhecer.
O enredo narra a hist�ria de um rapaz que, vindo da cidade, se apaixona por uma mo�a do campo. Para vencer a desconfian�a dela e conquistar seu amor, ele ter� de provar todas as suas habilidades de montaria, doma e dan�a, como um verdadeiro ga�cho.
A coreografia do Corpo escapa de uma correspond�ncia estrita e n�o se estrutura pela linha figurativa, como encena��o da hist�ria.
H�, no entanto, aproxima��es com os motivos da composi��o, como o primeiro pas de deux em que o desejo surge � flor de suave sensualidade.
Em “Estancia”, a fidelidade � � m�sica, ainda que as rela��es entre literatura, sons e dan�a formem, por vezes, um todo indistingu�vel. Versos de “O ga�cho Mart�n Fierro” surgem cantados e recitados no bal� do compositor.
A passagem do dia no pampa, com a transforma��o da vasta paisagem e as intera��es humanas no cen�rio, tamb�m se desdobra na m�sica e na dan�a com grandes grupos, entremeados de solos, pas de deux e grupos menores.
O amanhecer, com flauta solo e violino no movimento “Danza del trigo”, � marcado por gestos delicados.
O �mpeto de “Los trabajadores agr�colas” aplica a intensidade gestual da lida campestre di�ria nos grupos de bailarinos. No amanhecer, a “Danza final” traz a orquestra com toda a sua pot�ncia.
O figurino de Janaina Castro, em tons de marrom, remete aos costumes tradicionais do pampa. As bailarinas usam saias pregueadas e ajustadas � cintura por uma faixa bem escura, com camisetas claras sem manga; os bailarinos vestem cal�as com a barra franzida e camisas de manga comprida na cor de caf�.
Pandemia atrasou parceria
O convite de Dudamel para a apresenta��o em Los Angeles ocorreu em 2019, mas o projeto foi interrompido pela pandemia. Com a reabertura, a proposta foi reiterada. Ginastera, morto h� 40 anos, � um dos nomes mais importantes da m�sica de concerto latino-americana. Seu repert�rio inclui �peras, m�sica de bal� e obras para piano.
De acordo com Fabio Mechetti, diretor art�stico e regente titular da Filarm�nica de Minas Gerais, “Estancia” talvez seja a obra mais famosa de Ginastera. “Ele conseguiu unir a rusticidade do folclore rural argentino ao lirismo que tamb�m caracteriza a m�sica de raiz do nosso pa�s vizinho”, afirma o maestro.
Regida por Mechetti, a Filarm�nica de Minas Gerais e o Grupo Corpo apresentam “Estancia”, em agosto, na Sala Minas Gerais, com ingressos esgotados. O programa inclui “Seis dan�as sinf�nicas”, com trilha de Marco Ant�nio Guimar�es, do repert�rio da companhia, e “Dan�as norueguesas”, com m�sica de Edvard Grieg.
“ESTANCIA”
• Estreia nesta ter�a (18/7), no Hollywood Bowl, em Los Angeles (EUA), com dire��o de Rodrigo Pederneiras e Gustavo Dudamel • De 3 a 5 de agosto, �s 20h30, na Sala Minas Gerais, em BH, com dire��o de Rodrigo Pederneiras e Fabio Mechetti • Ingressos esgotados
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