O velório de João Donato, que morreu nesta segunda-feira (17), aos 88 anos, acontece nesta terça-feira (18) no Rio de Janeiro. O evento será realizado no Theatro Municipal do Rio, das 11h às 15h.
"Vim passar uns dias para mimar o Big Donato, agora que ele teve alta do hospital. Ele pediu para eu cozinhar um dos pratos preferidos dele, o Spagabola (mais conhecido como Spaguetti a Bolognesa)", publicou Donatinho, filho do compositor, no dia 30 de junho.
Origem
João Donato de Oliveira Neto, mais conhecido como João Donato, nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre. A paixão pela música começou ainda na infância.
Anos depois, em 1945, a família se mudou para o Rio de Janeiro. À época, as primeiras apresentações no palco aconteceram em festas de colégio.
Já a primeira gravação profissional foi como integrante da banda do flautista Altamiro Carrilho. Tempos depois, porém, ele passa a trabalhar com o violinista Fafá Lemos, como suplente de Chiquinho do Acordeom.
O artista frequentou o Sinatra-Farney Fã Clube, na Tijuca, por 17 meses. O local é considerado por críticos uma das principais escolas para a geração que anos depois criaria a Bossa Nova.
Com apenas 17 anos, ele namorou Dolores Duran - que tinha 21 anos. À época, no entanto, o relacionamento dividiu opiniões e despertou preconceitos pela diferença de idade. O compositor terminou no namoro devido a brigas familiares.
Carreira
João Donato criou o próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, em 1953, e também integrou o grupo Os Namorados. Um ano depois, ele decidiu montar o Trio Donato.
O artista mudou-se para São Paulo em 1956, quando atuou como pianista no conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar. O primeiro LP da carreira, "Chá dançante", foi produzido por Tom Jobim e lançado na mesma época.
Ele retornou ao Rio de Janeiro anos depois, em 1958, e passou a dedicar-se ao piano. Um ano depois, o músico viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. A mudança para os Estados Unidos aconteceu logo em seguida, país em que viveu durante três anos.
Donato trabalhou ao lado de nomes como Carl Tjader, Johnny Martinez, Mongo Santa Maria e Tito Puente no período em que morou no país norte-americano. Ele acompanhou João Gilberto durante uma turnê pela Europa.
A volta para o Brasil aconteceu em 1962, já casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser, mas acabou retornando para os EUA - onde viveu por mais dez anos.
Donato foi amigo dos principais nomes da bossa bova, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto e Johnny Alf.
De volta ao Brasil, nos anos 1970, o músico atuou como arranjador de diversos álbuns. Ele também trabalhou com nomes como Caetano Veloso, Daniela Mercury e Gal Costa.
Embora também tenha alcançado o posto de um dos principais nomes do movimento, Donato extrapolou os limites da música popular brasileira e explorou ritmos como jazz, samba e sons latinos.
Donato não foi um medalhão midiático
Donato ajudou a moldar a MPB nos anos 1960 e 1970 com a elegância do seu piano e contribuiu com grandes clássicos, muitos com colaborações de peso na letra -como "A Rã" (Caetano Veloso), "Bananeira", "A Paz (Leila IV)" e "Emoriô" (Gilberto Gil)- mas não foi um medalhão midiático.
Ele soube disso quando gravou "Quem é Quem" em 1973, no Brasil, após uma temporada nos Estados Unidos. Com som próprio, meio bossa nova, meio jazz (mas sempre temperado com molho latino) foi cultuado por músicos, e o álbum, listado entre os 100 melhores discos brasileiros da revista "Rolling Stone". Na hora de lançá-lo, ouviu do dono da gravadora que o trabalho não entraria no "esquemão" de outros artistas.
"Então não vai ter nenhum esquema", pensou Donato. "Um amigo meu me disse: 'Se eu fosse você, pegava uma caixa de discos na divulgação, ia ao Outeiro da Glória , jogava os discos lá de cima e pedia para a televisão filmar'". Ele obedeceu. Com as câmeras apontadas, jogou cópias de "Quem é Quem" para o alto. "Lancei a meu modo", relembrou, gargalhando, em entrevista ao UOL em 2016.
Último disco
"Serotonina". O músico lançou o último álbum em 2022, o primeiro solo de canções inéditas em 20 anos. O projeto marcou a estreia de parcerias com compositores como Céu e Rodrigo Amarante.
O disco foi inspirado pela ideia da música como cura. "Serotonina é a substância do prazer, do bem-estar. E uma boa música pode trazer tanto prazer que é como uma dose de serotonina pura, 10ml, na veia, de manhã e em jejum! Então, o importante é tocar músicas que trazem essa serotonização, para ouvir e se encharcar de prazer", disse Donato, em texto enviado à imprensa, à época.