A psicanalista Maria Homem

Maria Homem defende a ideia de que "Somos todos narradores, portanto, somos todos escritores"; ela assina a apresenta��o do mais recente livro de Jacques Fux

Daniel Borges/Divulga��o

Todo ser humano � um escritor em potencial, afinal, estamos o tempo todo criando narrativas sobre n�s mesmos e sobre nossa vida. “O que � a an�lise no div�? � voc� recriar e recontar sua hist�ria para melhor compreender e se apropriar dela”, afirma a psicanalista Maria Lucia Homem. “Somos todos narradores. Portanto, somos todos escritores”, emenda.

� para abordar a interse��o entre literatura e psican�lise que a edi��o especial do projeto Letra em Cena vai reunir, nesta ter�a-feira (12/9), no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, a psicanalista paulistana e o escritor belo-horizontino Jacques Fux, que falar�o sobre a rela��o dessas duas �reas. O projeto contar� com leitura dramatizada de textos dos dois feita pelo ator Odilon Esteves.

Autor de, entre outros livros, "Nobel" (2018), "Heran�a" (2022) e "Nunca vou te perdoar por voc� ter me obrigado a te esquecer" (2023), cuja apresenta��o foi escrita por Maria Homem, Fux tem como uma de suas principais caracter�sticas abordar quest�es caras aos psicanalistas, como as rela��es entre pais e filhos, traumas transgeracionais, amor, desamor e erotismo.

“Heran�a”, por exemplo, deixa isso em evid�ncia ao contar a hist�ria de tr�s mulheres de uma mesma fam�lia, mas de diferentes gera��es, que vivem uma situa��o mal resolvida com o passado. 
 

A primeira, matriarca da fam�lia, viveu o Holocausto na Pol�nia, entre o final da d�cada de 1930 e in�cio de 1940. A filha dela, por sua vez, nasceu no Brasil, sabe que a m�e viu de perto a invas�o nazista, mas respeita o luto da personagem, contentando-se em ficar alheia aos detalhes da trag�dia. J� a neta da matriarca � uma acad�mica que empreende uma pesquisa hist�rica que mira o reencontro com o inconsciente coletivo da viol�ncia nazista.

 

 O escritor Jacques Fux 

O escritor mineiro Jacques Fux falar� sobre a constru��o psicol�gica de seus personagens

Patrick Ackley/Divulga��o
 

Marcas da guerra

Hist�ria, fic��o, traumas e dilemas intr�nsecos ao ser humano se entrela�am na obra de Fux. E, no caso desse livro, o verdadeiro conflito ocorre pela nega��o da neta em seguir o sil�ncio da m�e e da av�, enterrando o passado e escondendo as cicatrizes.

Mais do que abordar temas familiares aos analistas, contudo, o autor transforma a escrita em uma forma de an�lise. Por ser de fam�lia imigrante judia, terceira gera��o afetada pelos acontecimentos da guerra, Fux tem certa semelhan�a com a personagem que criou em “Heran�a”.

Ao escrever o livro, ele partiu do inconsciente para criar um ambiente ficcional e metaf�rico no qual ang�stias - talvez as do pr�prio autor - s�o colocadas em evid�ncia.
 
Ator Odilon Esteves

O ator Odilon Esteves far� leitura dram�tica de textos durante o Letra em Cena

T�lio Santos/EM/D.A Press

Mergulho no inconsciente

“Freud fala sobre isso tamb�m”, diz Fux. “Ele tem um texto importante no qual diz que o escritor, de alguma forma, acessa partes do inconsciente justamente na hora em que est� escrevendo. Concordo com essa ideia. Acho que a literatura consegue penetrar e margear algumas partes desse inconsciente ou dessas ideias que podem ser pensadas tamb�m na psican�lise”, afirma o escritor.

Ancorado nesse argumento, h� quem defenda a produ��o art�stica como esp�cie de alternativa � psican�lise. O escritor angolano Valter Hugo M�e j� disse em mais de uma ocasi�o que nunca fez terapia, porque entregou sua vida “ao imp�rio da poesia”.
 

Embora tentadora, a ideia de substituir a an�lise pela produ��o art�stica � perigosa, de acordo com Maria Homem. “Isso � muito debatido no meio”, diz ela. “Para uma an�lise funcionar, � necess�rio que exista um terceiro, porque o ego � muito ardiloso e a nossa consci�ncia � limitada. A gente se engana facilmente, porque temos aquilo que Freud chama de mecanismos de defesa do ego”, explica. 

“A literatura � incr�vel. O escritor, quando come�a a escrever um texto, acaba se surpreendendo com os rumos que esse texto toma, acaba sendo como se fosse um processo anal�tico mesmo. Mas a gente tamb�m d� voltas e se engana. A gente n�o v� aquilo que d�i, que � parte do sistema, que � a defesa. Ent�o, acho que, no frigir dos ovos, a an�lise com o analista acaba sendo a coisa mais r�pida e mais barata, embora seja longa e cara”, diz Maria Homem.

LETRA EM CENA ESPECIAL: LITERATURA E PSICAN�LISE

Bate-papo com Jacques Fux e Maria Homem. Leitura dramatizada feita por Odilon Esteves. Nesta ter�a-feira (12/9), �s 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca, mediante retirada de ingressos no site Sympla. Mais informa��es: (31) 3516-1360.