Cena da peça 'Eu, Capitu'

Montagem que adapta para os palcos o cl�ssico "Dom Casmurro", de Machado de Assis, com a inten��o de discutir a viol�ncia contra a mulher, estreia hoje, no Centro cultural banco do brasil

Daniel Barboza/Divulga��o

“Dom Casmurro”, cl�ssico de Machado de Assis, foi publicado em 1899. Desde ent�o, o enigma em torno da personagem Capitu – ela traiu Bentinho ou � uma v�tima de seus ci�mes paranoicos? – permanece sendo uma fonte de discuss�es e reinterpreta��es.

Na montagem teatral “Eu, Capitu”, que estreia nesta sexta (3/11), a hero�na � transportada para 2023 e vive na cabe�a de Ana, de 11 anos, que passa pelo trauma da separa��o dos pais, cujo relacionamento � abusivo. 

Afetada pelo ambiente hostil, a garota vai mal na escola, onde precisa fazer a leitura obrigat�ria do livro “Dom Casmurro”. A obra a incentiva a enxergar de modo diferente a realidade que a cerca.

Acostumada a fugir para o mundo da imagina��o, Ana se depara com uma mulher misteriosa. Chama a aten��o da menina sobretudo o fato de ela se achar parecida com a m�e e tamb�m com Capitu. 

“Com o decorrer da trama, vamos acompanhando a transforma��o da Ana, tomando consci�ncia para conseguir enxergar a m�e fora de um olhar impregnado de um discurso patriarcal e mis�gino”, afirma a diretora Miwa Yanagizawa. 

Liberdade 

Leninha, a m�e, vive um momento de liberdade ap�s o t�rmino do casamento e, em sua nova circunst�ncia, precisa aprender a se reposicionar, inclusive  diante do estigma de mulher divorciada, e ajudar a filha a enfrentar as conven��es sociais.

“O que eu mais gosto nesse trabalho � o fato de a gente conseguir levar para o palco uma mulher dos dias de hoje, uma mulher comum, como n�s, com as caracter�sticas da Capitu”, afirma a atriz Fl�via Pyramo, que interpreta Leninha.

Al�m de fazer o papel da m�e, Fl�via tamb�m d� vida a Capitu, o que cria um paralelo entre o passado e o presente. A ideia da montagem partiu do diretor geral Felipe Valle, em 2020, quando ele presenciou uma situa��o de viol�ncia dom�stica, enquanto vivia na casa de sua av�, no interior do Rio de Janeiro. 

“Tinha uma vizinha da rua que gritava e pedia muita ajuda. N�o tinha como eu entrar na casa, porque o muro era alto. Tentei intervir chamando as autoridades, mas elas n�o ajudaram, porque tinha que ser em flagrante”, conta.

“N�o sabemos o paradeiro dela at� hoje, e isso me p�s a pensar nessa sociedade violenta, o que imediatamente me remeteu � Capitu, j� que dei aulas de literatura por alguns anos”, afirma.

Para adaptar o romance machadiano para o palco, ele convidou Carla Faour para escrever o texto, e Miwa Yanagizawa para a dire��o. “N�o quer�amos retratar apenas a Capitu que todo mundo conhece. At� porque o adult�rio sempre foi o foco desse livro, mas, se ele existiu ou n�o, n�o � justificativa para diversas viol�ncias que acontecem ali. Olhamos para essa obra com o olhar de acolhimento e n�o de julgamento para a mulher”, diz Felipe. 

Sobre a decis�o de ter uma crian�a como protagonista da pe�a, ele afirma: “Esse lugar de trazer a Capitu a partir da vis�o da Ana vem de um desejo de trabalhar um assunto que � tenso e profundo com a leveza do olhar de uma crian�a, para que possa ser uma forma de tornar o espet�culo mais pass�vel de identifica��o”. 

“EU, CAPITU”
Texto de Carla Faour. Dire��o de Miwa Yanagizawa. Com Fl�via Pyramo e Mika Makino. Estreia nesta sexta (3/11), �s 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (Pra�a da Liberdade, 450 - Funcion�rios). Temporada at� 20/11, de sexta a segunda, �s 20h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), dispon�veis no site do CCBB-BH e na bilheteria do CCBB-BH. Mais informa��es: (31) 3431-9450.

Outras pe�as


>>> “MICO-ESTRELA”

Inspirado no livro “A hist�ria do mico-estrela”, de Gina Borges, o espet�culo infantil “Mico-estrela” estreia neste domingo (5/11), com sess�es �s 10h30 e �s 16h30, no Teatro Mar�lia (Av. Prof. Alfredo Balena, 586 - Santa Efig�nia). A pe�a leva as crian�as a conhecer as amea�as que afetam a vida silvestre e destaca a import�ncia da preserva��o do Cerrado, pelos olhos do pequeno mico. Os ingressos s�o gratuitos e podem ser retirados na plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro, duas horas antes do in�cio do espet�culo. Mais informa��es: (31) 3277-4697.


>>> “AVE”

O espet�culo “Ave” mistura dan�a e teatro em livre adapta��o da com�dia grega “As aves”, de Arist�fanes (446 a.C- 386 a.C). Transitando por diversas linguagens, como o cabar�, a dan�a contempor�nea e a com�dia popular, a montagem � um projeto desenvolvido em conjunto pela Ananda Cia de Dan�a em parceria com o N�cleo de Cria��o Sapos e Afogados. Nesta sexta (3/11), �s 19h, haver� apresenta��o gratuita no teatro Raul Bel�m Machado (Rua Jau�, 80 - Al�pio de Melo). No s�bado (4/11), �s 20h, e domingo (5/11), �s 19h, a montagem ser� encenada no Galp�o Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613- Horto), com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).


>>> “O BELO INDIFERENTE”

“O belo indiferente”, texto do franc�s Jean Cocteau traduzido por Maria Cristina Billy, cuja trama aborda a viol�ncia psicol�gica numa rela��o amorosa, ser� apresentado neste s�bado (4/11), �s 20h, e no domingo (5/11), �s 18h, no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275 - Centro). Ingressos a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), � venda no Sympla.

*Estagi�ria sob supervis�o  da editora Silvana Arantes