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Estado de Minas

''Os homens fracassaram redondamente'', diz Ziraldo

O escritor, cartunista e chargista lan�ou em Belo Horizonte o livro Meninas destinado a elas


31/10/2016 20:03 - atualizado 01/11/2016 10:04

O cartunista diz que o mundo pertence aos meninos, mas não são eles que mandam nele.
O cartunista diz que o mundo pertence aos meninos, mas n�o s�o eles que mandam nele. (foto: Ziraldo/reprodu��o)

“Empoderamento est� na moda, mas n�o tem essa palavra nos dicion�rios. Empoderar � tomar o poder com o uso de for�a”. Cr�tico � moda do politicamente correto, o escritor, cartunista e chargista Ziraldo come�a a entrevista questionando a palavra que virou mantra entre as feministas. Na semana passada, ele veio a BH lan�ar Meninas, da Editora Melhoramentos, na Livraria Leitura do BH Shopping, e participou de sess�es de autogr�fos no Col�gio Santo Ant�nio. Num restaurante na Savassi, antes de almo�ar, crian�as faziam fila para selfies com o �dolo, de 84 anos. Se elas mal controlavam a emo��o de estar ao lado do criador do Menino Maluquinho, as m�es menos ainda ao se atrapalharem na hora do clique com o celular.

Ziraldo pede uma cerveja, olha o card�pio e se encuca com o prato carr� de cordeiro com risoto parmegiano trufado. “Me conta o que � a trufa?”, brinca com o gar�om, que responde com desenvoltura. Depois de boas risadas com o mo�o, o cliente revela: gosta mesmo � de arroz, feij�o e farofa. Como n�o tem nada disso no menu, pede fettuccine com payard. Chega outra f�. Do alto de seus 6 anos, desculpa-se pela interrup��o e j� abre os livros Meninas e O Menino Maluquinho, � espera daquela assinatura que � a marca registrada do autor. “Olha a m�e”, brinca ele, elogiando a beleza da mo�a. Conta detestar “essa coisa de beijo no cora��o”, e emenda: “Tem coisa mais brega?”.

Ziraldo desejava criar uma personagem feminina para contrapor ao Menino Maluquinho. “Dei uma relida em Alice (No pa�s das maravilhas), o original do Lewis Carroll. Alice � a descri��o da condi��o feminina. Os poetas de mau gosto chamariam de eterno feminino”, diz. � fascinado pela maneira como o autor brit�nico, que era matem�tico, desconstr�i a teoria de que dois corpos n�o ocupam o mesmo lugar no espa�o. “S�o dois corpos no corpo da menina. � a menina, � a mulher. Os dois seres juntos na alma”, observa. Nos diversos pa�ses em que j� esteve, ele comprou cerca de 200 edi��es do cl�ssico para presentear a neta.

Os sentimentos da mulher e da menina est�o imbricados, comenta ele. “As duas sentem igual, mas o corpo mudou, est� cheio de vontade, volumes e desejos fluidos que o outro corpo n�o tinha. A alma � a mesma. Com todas as novidades que o tempo projeta em s�rie no corpo feminino, ela continua a ser dominada na condi��o que adquiriu quando foi menina”, analisa.

A ideia do livro o persegue desde quando foi indagado por uma garotinha sobre o motivo de suas obras tratarem apenas de garotos. “Menino eu entendo pra burro, n�o preciso fazer pesquisa. Sei como menino sente as coisas. Menina, sei l�... Tenho de fazer pesquisa para saber qual � o sentimento delas”,  tenta responder Ziraldo. Aquela pequena f� n�o se deu por satisfeita. “Voc� fez isso porque os seus meninos s�o dos planetas, mas as meninas s�o das estrelas”, argumentou ela.

A provoca��o levou o autor da s�rie Os meninos dos planetas a escrever Menina das estrelas. “De madrugada, quando acordava, em vez de pensar no J�piter pensava nesse livro”, conta ele. Ao revisitar Carroll, fez como Alice ao se jogar atr�s do coelho branco. Resumindo: Ziraldo se lan�ou no universo das meninas. “Ele � feito das fantasias do sonho. � preciso olhar para o olhar da menina, que est� sempre voltado para inimagin�veis rumos”, escreve no livro.

Meninas � parceria de Ziraldo com o chargista e ilustrador Renato Aroeira. “Ficou bonito assim, porque foi colorido pelo Aroeira, meu irm�ozinho mineiro e um g�nio das cores”, explica. Nas palavras de Ziraldo, trata-se de um ensaio sobre a condi��o feminina destinado � garotada. De maneira filos�fica, ele se coloca na “altura” das crian�as, ao se dirigir a elas para falar daquele momento na vida das mulheres, que dura t�o pouco, mas � para sempre.

Ziraldo atendeu o pedido de uma garota que o questionou porquê seus livros só tratavam de meninos
Ziraldo atendeu o pedido de uma garota que o questionou porqu� seus livros s� tratavam de meninos (foto: Ismar Ingber/Divulga��o)


PALAVRAS
Como em seus livros – com escrita sofisticada, mas nada rebuscada –, a conversa com Ziraldo passeia por sua obra, mas vai dos cl�ssicos �s anedotas populares. “Voc� conhece a hist�ria da freira que pediu perd�o a Deus? Estava a freira enclausurada sentada num jardim bordando e os passarinhos cantando. Ai, merda! Machuquei minha m�o. Meu Deus do c�u, falei merda, pqp! Ah, f***-se, tamb�m n�o queria ser freira”, diverte-se ele.

O criador do Pasquim e das revistas Bundas e Palavra sabe que as palavras s�o fugidias quando se tenta aprision�-las. “Na minha �poca, combat�amos o politicamente correto, que come�ou nos Estados Unidos, pois era uma forma de engessar a l�ngua. O modo de falar e o gosto pelas palavras nascem com o grupo. Quantas palavras, depois incorporadas (aos dicion�rios), nasceram no chulo?”

Se n�o � afeito ao politicamente correto, Ziraldo n�o est� alheio � a��o de feministas de diferentes gera��es. “As mulheres conseguiram conquistas incr�veis. Se voc� luta em grupo e se a sua causa � justa, voc� acaba vitorioso. Demora muito, mas agora as mulheres do mundo n�o precisam se preocupar em querer assumir o poder, porque � algo inexor�vel”, diz. O mineiro � taxativo em dizer que os “homens fracassaram redondamente” e a �nica chance de o mundo dar certo � elas assumirem o comando.

“O que as mulheres chamam de empoderamento � inexor�vel”, rende-se, ao lembrar Angela Merkel (chanceler alem�), Hillary Clinton, como a �nica forma de salvar a Am�rica de Donald Trump, e Dilma Rousseff. “Qualquer inimigo da Dilma sabe que ela � corajosa e honesta. Ela � incompetente, mas isso � outra coisa. O fato de Dilma ter fracassado n�o significa que voc� n�o pode entregar o destino �s mulheres”, afirma.

INTERNET Machismo � problema end�mico no pa�s, avalia o humorista. “Quando as trovas faziam sucesso no Brasil, uma delas dizia: ‘Vi minha m�e rezando aos p�s da virgem Maria. Era uma santa escutando o que a outra santa dizia’. Outra santa como? Sua m�e n�o trepa? Sua m�e n�o tem tes�o? N�o ama? Santa � a pqp!”.  Outro tema de seu interesse � a internet, que, para ele, virou “parede de banheiro”: as pessoas publicam o que querem e as informa��es n�o t�m qualidade.

Mesmo diante do momento dif�cil pelo qual os brasileiros est�o passando, esse mineiro otimista acredita que o mundo evolui. “Transformar o Brasil em pa�s de leitores � uma maneira de combater essas coisas. Livro abre a cabe�a da crian�a. � a palavra gravada que fica”, afirma.

Para ele, a ess�ncia da humanidade j� estava nos cl�ssicos gregos, foi catalogada por Shakespeare e Sigmund Freud. “Todos os sentimentos humanos est�o na Odisseia e na Il�ada. O pessoal j� estava discutindo a falibilidade do ser humano como pessoa. Os deuses tamb�m eram safados, traidores. Uma loucura. J� se compreendia a superioridade da maldade humana. Voc� chega no Shakespeare, e ele aprofunda tanto, tanto.”

Ziraldo tem ideias para mais 30 livros. Mas, com a escrita de Meninas, pensa que n�o tem muito mais a fazer. Ainda assim, lembra-se de que precisa concluir a cole��o Os meninos dos planetas. Ainda faltam J�piter, Netuno e Plut�o. “Disse que faria uma cole��o de 10 anos para garantir mais 10 anos de vida. Agora, s� faltam tr�s. Tenho que arranjar uma outra s�rie famosa: t�tulos dos Estados Unidos nas Olimp�adas, por exemplo. Vou comentar cada uma das conquistas”, brinca.

MENINAS

De Ziraldo

Cores: Aroeira
Melhoramentos
48 p�ginas
R$ 49

 

 


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