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Estado de Minas

Ju�za que presidir� o julgamento do goleiro Bruno � conhecida por estilo firme e sereno

O goleiro Bruno e outros quatro envolvidos no sumi�o e morte de Eliza Samudio come�am a ser julgados em 19 de novembro


postado em 14/10/2012 06:00 / atualizado em 14/10/2012 07:14

Marixa, de 42 anos, precisou de paciência para enfrentar táticas de advogados na fase de instrução(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press - 15/10/10)
Marixa, de 42 anos, precisou de paci�ncia para enfrentar t�ticas de advogados na fase de instru��o (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press - 15/10/10)
 

Na abertura do julgamento do goleiro Bruno Souza e de outros quatro envolvidos no sumi�o e morte de Eliza Samudio, marcado para 19 de novembro, � de se esperar por uma voz serena, em tom de baixo a m�dio. Mas a mulher por tr�s da voz � uma obcecada pela verdade, conhecida por n�o tolerar manobras. Esse � o estilo da ju�za Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que, com quase 14 anos de magistratura, presidir� um dos mais esperados j�ris da hist�ria recente da Justi�a brasileira.

 

Bruno Fernandes j� conhece o estilo de Marixa. Na fase da instru��o processual, mal come�ou a contar sua vers�o do dia em que conversou amigavelmente com Eliza debaixo de um pinheiro, numa mesa de vidro, e foi questionado pela ju�za se ele pretendia falar a verdade sobre o caso. Em tom sereno, lembrou que ele continuava preso, assim como os outros acusados, apesar das promessas da defesa de que n�o ficariam mais que 100 dias detidos. Um recado de que ela n�o estava ali para um bate-papo entre amigos.

 

Aos 42 anos, Marixa, m�e de tr�s crian�as, uma ainda beb�, � definida como linha-dura por advogados que atuam no F�rum de Contagem, na Grande BH. Avessa a entrevistas, n�o quis falar ao Estado de Minas sobre o julgamento que se aproxima. O estilo � influ�ncia do desembargador aposentado Eli Lucas de Mendon�a, que Marixa conheceu em 1996, quando ingressou no Judici�rio mineiro. Ent�o juiz da Vara de T�xicos, Mendon�a ficou conhecido pelo combate a organiza��es criminosas e a esquemas de tr�fico de drogas.

 

Marixa era escrevente de Eli Lucas e passou a admir�-lo pela intelig�ncia e firmeza. Nascida em Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, a 446 quil�metros de Belo Horizonte, ela sonhava em ser farmac�utica. O gosto pelos n�meros e a qu�mica deu lugar ao curso de direito, j� que perto de casa n�o havia a op��o desejada. Transferiu-se para a capital e concluiu em dezembro de 1994 o curso na PUC Minas. Na magistratura, j� atuou em Campo Belo (Centro-Oeste), Nepomuceno (Sul do estado) e Caet� (Grande BH).

 

A magistrada chegou a Contagem em maio de 2009. Atualmente, � ju�za sumariante, que cuida de ouvir testemunhas e r�us e decidir se os manda a j�ri popular, al�m de presidir julgamentos. Com o per�odo de elei��es, acumulou a fun��o de ju�za da 90ª Zona Eleitoral. N�o � a primeira vez que ela se v� diante de um j�ri de grande repercuss�o. Em setembro de 2009, presidiu o julgamento que terminou com a condena��o do empres�rio Luciano Farah a 19 anos de pris�o pela morte de um homem que assaltou um de seus postos de combust�veis. Farah j� havia sido condenado anteriormente, em BH, pelo assassinato do promotor de Justi�a Francisco Jos� Lins do R�go.

‘Palco dos horrores’ Bruno foi preso em 7 de julho de 2010, dias depois de iniciada as apura��es do sumi�o de Eliza Samudio, ex-amante dele e com quem teve um filho. Ela foi vista pela �ltima vez em 10 de junho daquele ano. Era o come�o das investiga��es, mas Marixa Fabiane foi dura em seu despacho para justificar a pris�o tempor�ria de Bruno e mais sete acusados. “Certamente, acreditam que praticaram o crime perfeito. Ledo engano”, afirmou ela, se referindo ao sumi�o do corpo de Eliza.

Ao tomar conhecimento de detalhes do caso, classificou a a��o como “palco dos horrores”. Os advogados a acusaram de prejulgamento, mas ela manteve-se irredut�vel quanto �s pris�es. “Nos bastidores, as testemunhas, temerosas pelo que lhes possa ocorrer, calam-se, omitem-se, e os envolvidos fazem o poss�vel para apagar todas as pistas que lhes possam incriminar”, justificou, � �poca. Em agosto de 2010, Marixa transformou a pris�o tempor�ria dos acusados em preventiva. A defesa de Bruno j� teve mais de 80 negativas em pedidos de habeas corpus e outros benef�cios.

A instru��o processual veio em outubro de 2010, com 10 sess�es para ouvir testemunhas e r�us, e se prolongou at� novembro. Depois das audi�ncias, em casa, Marixa costumava ler os volumes digitalizados do processo, armazenados num pen drive. A senten�a de pron�ncia acatou em parte a tese do Minist�rio P�blico. Nessa fase de instru��o, a ju�za precisou de paci�ncia para enfrentar manobras dos advogados, que iam do ronco profundo de um deles na audi�ncia a provoca��es de outro.

Quando ainda estudava direito, Marixa chegou a pensar em ingressar no Minist�rio P�blico. Como promotora de Justi�a, n�o teria de carregar o fardo de tomar decis�es sobre a vida das pessoas. Hoje, n�o demonstra dificuldades em dar opini�es fortes, mesmo fora do tribunal. J� declarou ser contra o aborto, mesmo em caso de estupro, e admitiu que a pena de morte poderia ser uma medida para conter o avan�o da criminalidade.

Desde o in�cio do inqu�rito policial, a defesa de Bruno dizia que a comarca de Contagem n�o era competente para processar e julgar a causa. Entre janeiro e julho deste ano, Marixa esteve de licen�a-maternidade, o que abriu possibilidade de que n�o presidisse o j�ri. Os v�rios recursos das defesas, no entanto, atrasaram o processo e permitiram que ela voltasse a tempo de conduzir o julgamento. A colegas mais novos de magistratura, a ju�za costuma dizer que, entre a letra fria da lei e a justi�a, decidir� sempre pela �ltima. Alento ou tormento para Bruno?

RAIO-X DO JULGAMENTO
Local: Tribunal do J�ri de Contagem
Data: 19 de novembro, com sess�o prevista para se iniciar �s 9h
Dura��o: previs�o � de duas semanas
Presid�ncia: Marixa Fabiane Lopes Rodrigues
Promotor: Henry Wagner Vasconcelos
R�us: Bruno Fernandes, Luiz Henrique Rom�o, Marcos Aparecido, Dayanne Rodrigues e Fernanda Gomes
Jurados: ser�o sorteados sete integrantes para o Conselho de Senten�a
Testemunhas: ser�o cinco de acusa��o e cinco de defesa para cada r�u, em um total de 30. Foram ouvidas 142 testemunhas e nove acusados – Bruno, Luiz Henrique, Dayane Rodrigues, Fernanda Gomes, Sergio Rosa (morto), Marcos Aparecido, Elenilson Vitor, Wemerson Marques e Fl�vio Caetano, que acabou sendo despronunciado –, al�m do menor Jorge Luiz Rosa
N�meros: processo tem 38 volumes com 9.456 p�ginas; h� 74 itens relacionados a objetos (notebooks, DVDs, celulares, documentos e bens apreendidos); mais de 50 advogados passaram pelo caso
* Os acusados Wemerson Marques e Elenilson V�tor tiveram seus julgamentos desmembrados dos demais envolvidos, a pedido das defesas deles

ENTENDA O CASO

De acordo com a den�ncia oferecida � Justi�a pelo Minist�rio P�blico, em 4 de junho de 2010, Macarr�o e um primo de Bruno sequestraram Eliza e o beb�, a agrediram e a levaram para a casa do goleiro no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, Eliza foi levada para Contagem, na Grande BH, e depois para o s�tio do goleiro, em Esmeraldas, onde teria sido mantida em cativeiro at� ser morta, em 10 de junho. O homic�dio teria ocorrido � noite, em Vespasiano, num im�vel do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que teria estrangulado Eliza. O ex-policial tamb�m teria sumido com o corpo, que ainda n�o foi encontrado. Segundo a den�ncia, o filho de Eliza foi levado de volta ao s�tio. L�, Bruno, Macarr�o, S�rgio Sales e o adolescente queimaram a mala e as roupas da v�tima. Os acusados foram para Ribeir�o das Neves e de l� para o Rio, em um �nibus que transportava o time mantido por Bruno. Dayanne, ex-mulher do goleiro, ficou com o beb� no s�tio. Em 18 de junho, ela viajou e deixou a crian�a com Elenilson da Silva, caseiro do s�tio, e Wemerson Souza, amigo de Bruno. O garoto foi entregue para uma mulher, que o repassou para outra. O beb� foi localizado pela pol�cia, depois de den�ncia da morte de Eliza. Todos os envolvidos foram presos e denunciados � Justi�a. Atualmente, apenas Bruno, Macarr�o e Bola aguardam julgamento presos.

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