
O plano do ga�cho Francisco Santos era fazer um curso de cinema em Roma, j� que, durante alguns anos, esteve ligado � produ��o de audiovisuais, mas logo ap�s participar da exposi��o Brazil Export – uma iniciativa do governo para ampliar as exporta��es de produtos acabados – em 1973, em Bruxelas, na B�lgica, deu uma guinada na vida e decidiu que iria se dedicar �s feiras de cal�ados. Com seu esp�rito vision�rio, entre essa data e 1975 dedicou-se a divulgar a ideia e a conclamar as empresas do setor a investir nela, o que culminou na inaugura��o da primeira Couromoda, que est� completando 46 anos. Amanh� come�a mais uma edi��o lan�ando as novidades para o inverno.
“O nosso desejo inicial era criar um circuito brasileiro de moda com eventos em outras cidades do pa�s, al�m de Novo Hamburgo e Franca, mas n�o vingou. Ent�o, nos concentramos em um trabalho pelo interior de S�o Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, para ter um evento nacional no Rio”, conta Francisco, hoje presidente do conselho da empresa, uma vez que passou a batuta para o filho, Jefferson Santos. A longevidade da Couromoda, ao que parece, est� garantida: o neto, de 21 anos, demonstrou interesse em participar do neg�cio criado pelo av�, e j� est� em plena atividade.
A primeira edi��o da Couromoda foi realizada em fevereiro de 1975, no Hotel Nacional da capital carioca, com cerca de 70 expositores, entre eles Arezzo, dos irm�os mineiros Anderson e Jefferson Birman, que davam seus primeiros passos no mercado, parceiros de primeira hora. “O Rio de Janeiro era o tambor do Brasil, a Cidade Maravilhosa. O term�metro da moda estava em Ipanema com suas butiques elegantes, vendendo produtos que eram trazidos de fora, uma vez que a produ��o nacional praticamente n�o existia. Os eventos aconteciam nos hot�is Nacional e Intercontinental, na Praia de S�o Conrado, famosa naquele momento”, ele relembra.
As feiras profissionais para o segmento moda no Brasil tamb�m estavam no in�cio: a Fenit, criada pelo publicit�rio Caio de Alc�ntara Machado para promover a ind�stria t�xtil, no final da d�cada de 1950, j� existia e fazia sucesso, mas seu formato n�o funcionou como modelo para a cria��o da Couromoda. “ A Fenit era mais cosmopolita e a ind�stria de cal�ados �, predominantemente, com muito orgulho, at� hoje de gente do interior. Tivemos que trabalhar dentro das f�bricas para conseguir levar o pessoal para a nossa feira”, afirma o empres�rio. Segundo ele, o setor era muito modesto na �poca. “Os fabricantes ficavam esperando, em casa, os lojistas compradores. Os representantes encontravam muitas dificuldades para trabalhar, n�o havia nem estradas direito. A expectativa era pouca. Mas, no final, n�s conseguimos levar os expositores aos centros consumidores.”
Prosperidade O crescimento da Couromoda foi constante. O resultado positivo da primeira edi��o fez com que, na segunda, realizada em julho de 1976, a �rea ocupada duplicasse, assim como o n�mero de participantes. Na terceira, passou a ocupar 12 andares do Hotel Nacional, recebendo a visita��o de 2,4 mil varejistas de todo o pa�s, interessados nas novidades lan�adas por 240 expositores.
Em 1979, sua performance de sucesso abriu espa�o para outra a��o importante, desta vez no exterior, credenciando-a como coordenadora do programa Shoes from Brazil, que consistia em levar empresas brasileiras para participar de eventos em v�rios pa�ses com objetivo de incentivar a exporta��o. “Foram mais de 100 participa��es no mercado internacional, Europa, Estados Unidos, Am�rica Latina, isso at� 2002. A partir de ent�o, essa movimenta��o ficou a cargo da Apex (Ag�ncia Brasileira de Promo��o de Exporta��es e Investimentos)”, explica Francisco.
Em 1984, a feira j� contava com 450 participantes, e chegava ao Riocentro completamente horizontalizada. Na ocasi�o, recebeu a visita de 337 importadores, ganhando relev�ncia internacional e destaque no calend�rio mundial. Importante lembrar que a Couromoda sempre foi prestigiada por presidentes, governadores, ministros de Estado, presentes nas inaugura��es, dada a � sua express�o econ�mica. Nos bons tempos e at� hoje, celebridades percorrem seus corredores, seja a convite dos promotores ou dos propriet�rios das marcas participantes. Outra atra��o s�o os desfiles que, frequentemente, constam da programa��o, girando em torno dos lan�amentos de inverno..
A partir de 1986, se transfere para o Parque de Exposi��es do Anhembi, na capital paulista. De acordo com Francisco, “o cen�rio se modificou com a mudan�a dos players para S�o Paulo, interior de S�o Paulo, Minas Gerais, estados mais compat�veis para os empres�rios”. Em 1995, chega ao �pice com um total de 705 empresas expositoras. Desde 2015, � realizada no Expocenter Norte.
A hist�ria da Couromoda, pode-se dizer, caminhou junto com a do setor cal�adista do Brasil. Seu fundador n�o sabe citar exatamente os seus momentos mais marcantes. Para ele, significativo � o fato de ter trazido as empresas para os grandes centros para que tivessem a aten��o da m�dia. E a certeza de que o evento que criou se tornou o maior na �rea de cal�ados e artigos de couro da Am�rica Latina, e importante plataforma de neg�cios entre a ind�stria e o varejo. “A Couromoda n�o � s� uma promotora de feiras, � uma institui��o setorial”, afirma.
Informa��o Outro ponto positivo sempre foi a preocupa��o da organiza��o em oferecer informa��es de qualidade sobre o mercado com o intuito de ajudar os dirigentes das empresas nas suas decis�es. Isso muito antes do advento da internet e da globaliza��o. Em 1980, por exemplo, quando a moda propriamente dita come�ava a dar as caras no Brasil, realizou, em novembro, no Hotel Hilton, em S�o Paulo, a primeira Pr�-Cole��es, para apresentar as tend�ncias - mat�rias-primas, formas e cartela de cores – que iriam compor os cal�ados e bolsas a serem apresentados em janeiro. A partir de ent�o, essa foi a pol�tica adotada. Outro exemplo: na sua 41ª edi��o, a atra��o foi a exposi��o A hist�ria do sapato no s�culo 20, inspirada no livro da fot�grafa Linda Conde. Foram mostradas 110 pe�as do seu acervo pessoal, como sapatos pertencentes ao bailarino Michail Baryshnikov, al�m de grifes internacionais como Dior, Prada, Chanel, Yves Saint Laurent e Charles Dune.
F�runs, confer�ncias, palestras e mostras tamb�m integram a programa��o. Nesta edi��o 2019, o F�rum Couromoda ser� realizado hoje, com apresenta��o dos resultados da 3ª edi��o da pesquisa Perfil do Varejo Brasileiro de cal�ados, organizada e patrocinada pela promotora. Est�o agendados tamb�m os semin�rios, durante os tr�s primeiros dias.
A Couromoda contribuiu ainda para a forma��o de v�rias associa��es representativas, que surgiram como decorr�ncia da evolu��o do mercado, como a Associa��o Brasileira das Ind�strias de Cal�ados (Abical�ados) – ou a Associa��o Brasileira de Lojistas de Artefatos e Cal�ados (Ablac), entre outras. “N�o somos os respons�veis, mas acredito que influenciamos no desenvolvimento dessas institui��es. Hoje estamos todos – as ind�strias de mat�rias-primas, varejistas e fabricantes – na mesma mesa.” Francisco n�o esconde as expectativas positivas com rela��o ao novo governo do pa�s, enxergando perspectivas de crescimento do segmento e oportunidades de gera��o de empregos, particularmente nos munic�pios. “O mercado diminui muito, est� hoje com at� 35% de capacidade ociosa. Mas dou um voto de confian�a que este quadro melhore em fun��o das novas pol�ticas econ�micas que v�m a� para que possamos crescer internamente e voltemos a exportar, embora considere que o capital do nosso setor seja o mercado interno.”