
Dinamismo, compet�ncia, delicadeza e simpatia s�o marcas registradas de Adriana Vasconcelos Oliveira, uma mulher determinada, que sabe tomar decis�es e na pr�-adolesc�ncia escolheu sua profiss�o. N�o desviou nem um dia sequer de seu sonho. Ousada, rec�m-sa�da da faculdade prop�s abrir franquia de uma das maiores lojas de ilumina��o do pa�s. Ouviu um sonoro n�o que serviu para desafi�-la. Dois anos mais tarde, o papel se inverteu e a empresa a procurou propondo a parceria. Enfrentou crises, preconceitos, concorrentes, e continuou firme, focada. Hoje, sua A. de Arte est� com 32 anos de mercado, � refer�ncia em ilumina��o em Minas Gerais e tem marca pr�pria de pe�as desenhadas por ela, com vendas em todo o pa�s.
''N�o tenho d�vida, sou decidida, focada, e n�o sou de ficar olhando pra tr�s, olho sempre pra frente''
Adriana Vasconcelos Oliveira, empres�ria
O que gostava de fazer quando crian�a?
Esporte. Jogava v�lei e fazia nata��o no Mackenzie, porque mor�vamos perto do clube, e frequentava o Minas nos fins de semana. Gosto de gente, de turma. Uma coisa que me chamou a aten��o � que sempre gostei muito de me relacionar, de ter muitos amigos. N�o sou daquelas que preciso de me isolar, ter ano sab�tico. Se vou para uma praia deserta, em dois dias resolvo o problema, porque gosto de ver gente, de conversar. Sempre sa� muito e tive turma de amigos.
O que a levou para a �rea de decora��o?
Quando tinha 12 anos, minha m�e chamou uma profissional para decorar nossa casa. Quando vi o projeto todo colorido, fiquei t�o apaixonada com os projetos e com a execu��o id�ntica, os tecidos, as cores, que ali decidi que seria decoradora e nunca tive d�vida. Ali�s, � uma coisa que nunca passou perto de mim: d�vida. Se tenho uma caracter�stica que de um lado � boa e de outro, �s vezes, mal administrada pode ser ruim � que eu n�o tenho d�vida.
A que se deve essa certeza toda?
Minha m�e, Cec�lia Vasconcelos, me criou de forma muito independente. Sempre soube o que queria, desde a minha pr�-adolesc�ncia. Comecei a namorar de m�os dadas, dentro de casa, na frente da minha m�e, aos 12 anos. Sempre decidi minhas coisas sozinha. Mudan�a de col�gios, vestibular, enfim, tudo. Outro dia brinquei com minha m�e como ela me soltou tanto naquela �poca. Isso � uma faca de dois gumes. Poderia ter tomado dois caminhos, foi um risco, mas gra�as a Deus me tornei tremendamente respons�vel. Sempre fui boa aluna, boa amiga, boa filha, boa irm�. Lembro-me de que ia para as festas sozinha com amigos ou com meu irm�o, inaugura��o de lojas etc., com 13,14 anos, de carona. Tamb�m n�o sou de ficar olhando pra tr�s, olho sempre pra frente. El�i, meu marido, � mais saudosista, gosta de ver filme dos meninos pequenos, �lbum de fotos, eu n�o.
Nunca foi de fazer bagun�a?
N�o tinha bagun�a, tinha movimento. � diferente. Participava de todas as gincanas do col�gio e na cidade. Era ativa, participativa e respons�vel. Outra caracter�stica minha, sou est�vel, n�o mudo. Quando penso em uma coisa, vou naquilo, sou muito focada.
Voc� se casou cedo?
Fiquei noiva aos 17 anos. Conheci o El�i no Minas T�nis Clube. Ele era jogador de v�lei da Sele��o Brasileira. Sempre fomos ligados ao esporte. Um dia, estava no clube de biqu�ni, na maior vergonha, porque era muito alta e magra – tinha o maior complexo –, e o El�i estava com a turma do v�lei, me viu e falou para os amigos: “Com a minha namorada eu n�o vou me casar n�o, mas se aquela loirinha ali me der trela, eu me caso com ela”. No s�bado seguinte nos encontramos na casa de um amigo em comum, e ali come�ou nossa hist�ria. Casei-me aos 18 anos e tive meu primeiro filho aos 21.
Exerceu a profiss�o de decoradora?
Sim. Sempre gostei muito do que fazia. Quando ainda estava na faculdade, algumas amigas j� pediam para eu decorar suas casas. Meu primeiro projeto luminot�cnico foi assim. Minha amiga Dora Aleixo me entregou a chave de sua casa e pediu para eu fazer a ilumina��o. N�o tinha gesso, abri o teto na laje, fiz um projeto lindo de ilumina��o e levei para a Fuma. O pessoal amou. Ali comecei a gostar muito de ilumina��o.
Este bom gosto veio de que lado da fam�lia?
Da minha m�e, que � muito criativa, muito prendada. Olhava um tecido e o transformava em cada roupa linda. N�o me lembro de repetir roupa. Lembro-me de que comprei no Rio de Janeiro uma blusa toda de renda colorida, ela fez 15 e eu vendi todas na faculdade. Vi que amava o com�rcio. Nunca fui t�mida, faz parte do meu temperamento e isso ajuda no neg�cio. Os natais da nossa casa eram lindos, as mesas sempre muito bem postas e arrumadas. Minha av� Martha de Vasconcelos veio da guerra, e era muito bem de vida para a �poca. Quando ningu�m tinha carro, meu av� D�cio de Vasconcelos tinha carro com motorista. Quem me contou isso foi o Eduardo Couri. Meu av� pegava muito no p� dela e ela decidiu se separar em uma �poca em que mulher separada era marginalizada. Come�ou a fazer bolos de casamento, que ela aprendeu com sua m�e, na Alemanha, para viver e criar dois filhos solteiros. Ela n�o olhava para o passado, s� para o futuro. Mas tem uma coisa muito importante que eu falo com todo mundo, que � o olhar. Se voc� n�o reina seu olhar, desiste. Qualquer profissional tem que ver sua �rea. Se n�o enxergar o seu mundo, n�o adianta nada, voc� n�o cresce. Coragem, intrepidez, independ�ncia, tudo vem delas. Herdei tudo isso.
Quando decidiu abrir uma loja de ilumina��o?
Trabalhava demais, tinha dois filhos pequenos. Um dia, abri uma revista e vi a propaganda de uma loja chamada L'Abajour. Uma f�brica de lumin�rias lindas, inglesinhas, a linha que eu gostava. Em BH, quem vendia era a Patra, da Samaritana Gontijo, que era uma refer�ncia. J� tinha comprado v�rias l� para um cliente. Conversei com ela sobre a inten��o de abrir uma franquia deles aqui e ela amou a ideia. Decidi abrir a loja, meu marido n�o gostou da ideia, mas como eu n�o tenho d�vida, toquei o barco. Fui para S�o Paulo. Era uma menina, sem nenhuma refer�ncia, e � claro que eles n�o me deram a franquia, disseram que j� estavam em negocia��o com uma loja grande que abriria na cidade.
O que voc� fez?
N�o desisti. Perguntei se ele me venderia as lumin�rias, ele disse que sim. Comprei o que eu quis, voltei, aluguei uma loja no segundo andar de uma casa. Montei um ateli� de ilumina��o, chamado Abatjour de Arte, em 1987. Neste tempo j� tinha minha terceira filha, e meu marido incomodado com essa hist�ria toda. O que resolveu toda a quest�o � que quando entramos na loja, ainda vazia, tinha, na parede do fundo, um quadrinho escrito “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele far�”. Fiquei muito impressionada e o El�i mais ainda, porque ele � um homem muito temente a Deus, ent�o disse que eu poderia fazer o que quisesse. N�o conhecia ningu�m naquela �poca, a n�o ser meus colegas que tamb�m estavam come�ando, como eu. Quem fazia sucesso era o Ildeu Koscky, a Cris�lida Boerger. Decora��o era coisa de luxo. Pedi ajuda para minha sogra, Sara �vila, que � um cap�tulo � parte na minha vida.
Como assim?
Por causa dela fiz desenho na Escola Guignard e belas-artes na UFMG. Ela foi minha professora, era maravilhosa. Quando montei a loja, me ajudou na inaugura��o. Montou uma coletiva com trabalhos de artistas renomados como ela, Ricardo Carv�o Levi e v�rios outros. Compusemos as artes com as pe�as da minha loja. A abertura da loja foi o maior sucesso.
A loja demorou para pegar?
Na semana seguinte vendi minha primeira lumin�ria para um cliente da C�cera Gontijo, o Georges Perona. Fiquei muito feliz e ali comecei minha trajet�ria. Fiquei l� por dois anos, at� que o Jorge Mendon�a, da L'Abajour, me chamou.
O papel se inverteu.
Sim. Ele prop�s abrirmos a loja, mas precisava de um espa�o maior. Tem uma hist�ria muito legal. N�o queria sair de onde estava, desci a rua e vi uma casa grande em reforma, perguntei o que seria e o mestre de obras informou que seria uma padaria. Mas eu sentia que aquele lugar era meu. Isso foi em uma quarta-feira. Na quinta, voltei para descobrir quem era o dono da casa, e consegui o nome e telefone da propriet�ria depois de muita procura. Ningu�m atendia. Liguei para o 102, informa��es, contei uma hist�ria e, mesmo sem poder, eles me deram o telefone da vizinha. Liguei e pedi para deixar um bilhete sob a porta, pedindo para me ligar com urg�ncia. Isso tudo em um fim de semana. A mulher me ligou domingo � noite no maior susto. Ela ficou com uma raiva, disse para eu procurar outro lugar porque era um senhor que estava montando a padaria para seu filho. Uma semana depois, meu telefone toca. Era a senhora da casa perguntando se ainda queria o ponto. O homem desfez o neg�cio do nada. Comecei a chorar. Vi que era Deus me dando aquele espa�o.
E a�?
Entrei e montei a loja. J� passei por v�rias crises, mas n�o olho para o lado, n�o fico procurando novas oportunidades, olho para a frente. Ele me mandou os abajures assinados, era uma loja com f�brica enorme em S�o Paulo. Fiquei muitos anos como franquia. Depois a Lampe Color teve um problema financeiro s�rio e fechou. Nessa �poca comecei a aceitar pe�as importadas, porque n�o tinha quem a substitu�sse no Brasil. N�o existia luminot�cnico, usava spots, era o contempor�neo da �poca.
Quando partiu para o importado j� tinha feito ampla pesquisa de mercado?
J�. Sou muito curiosa, observadora e detalhista. Sempre fui. Sou incapaz de ver alguma coisa de que goste e n�o procure saber de onde �. Desde uma coisa que eu coma at� uma lixeira bonita. Gosto de saber de tudo. � assim que descobrimos coisas novas e diferentes. Isso nos enriquece. Cheguei em um restaurante e vi um prato maravilhoso. N�o sosseguei enquanto n�o descobri de quem era, chamei at� o gerente. Era de uma designer japonesa. Fui l� no dia seguinte. Ela � premiada, tem livros publicados. Toda a lou�a da minha loja � dela.
Como tocou a loja todos esses anos enfrentando todas as crises?
Sou focada. N�o abandono o barco, mas os problemas que enfrentei n�o foram s� as crises, era uma mulher dona de loja. Isso era muito dif�cil. Na �poca eu n�o percebia, hoje vejo que tinha muito preconceito. Tinha cliente que batia ponto na minha loja. Ia todas as tardes, sentava-se na minha frente e ficava. El�i e eu tivemos que ter muita sabedoria e eleg�ncia para contornar as situa��es. Samaritana e Luciana Gontijo eram duas irm�s, mais velhas, fortes, mas eu era uma menina, e na �rea de ilumina��o s� tinha homens e homens bacanas, e a maioria dos profissionais de decora��o eram mulheres. Concordo com elas, era muito melhor tratar com homens, do que comigo, que muitas vezes ia trabalhar de topete, porque desfilava no Show�aite – a��o do colunista Eduardo Couri em benef�cio da Jornada pelo Natal do Menor (atual Jornada Solid�ria Estado de Minas).
Como o Eduardo a conheceu e chamou para participar das a��es que ele fazia?
Meus cunhados g�meos, Cristiano e Bernardo, faziam bal� e foram dan�ar no Show�aite. Fui assistir com o El�i. Eduardo me viu, me achou bonita e pediu que a Vera Comini – que hoje � uma grande amiga – descobrisse quem eu era. Quando ela disse meu nome ele percebeu na hora que era filha da Cec�lia, amiga de inf�ncia dele. Ent�o me convidou para desfilar. No primeiro momento n�o aceitei, mas o El�i me deu for�a. A� aceitei. E foi muito bom. Fui na primeira festa e gostei muito das pessoas, do ambiente. Entrei para nunca mais sair. J� tinha feito propaganda de algumas marcas. Aos 16 anos, fui com a Luc�lia Santos e o F�bio J�nior para uma grava��o de fim de ano na Globo, mas detestei o ambiente. Mas da turma daqui gostei muito, o pessoal era muito bacana. Ningu�m estava ali para se mostrar por vaidade, porque todo mundo era bonito mesmo, mas para se distrair. Adorei participar. Foram oportunidades que Deus me abriu e que abriram meus horizontes. Sempre soubemos quem n�s �ramos, t�nhamos e mantemos at� hoje nossos princ�pios – somos de igreja evang�lica – e toda essa visibilidade que passamos a ter n�o nos afetou como vaidade, mas nos trouxe grandes amigos, momentos de lazer, romantismo. Tudo isso s� nos acrescentou. Era muito gostoso. N�o levant�vamos bandeira de ajudar os pobres, aquilo era uma consequ�ncia. Se n�o podemos estar l�, criamos oportunidade para quem pode estar.
Isso tamb�m a ajudou profissionalmente?
Claro. O jornal era o �nico meio de comunica��o que a gente tinha e o Eduardo Couri nos dava muita for�a. Ele foi na minha loja, falava dela no jornal, mas n�o s� da minha loja, de todos que o ajudavam nas suas a��es sociais.
Quando e por que criou a AVL?
Comecei a criar pe�as para meus parceiros h� cerca de 15 anos, para minha loja. Eles colocavam no cat�logo e vendiam para quem quisesse. Nunca liguei para isso, at� que meus filhos chegaram na loja e falaram que estava errado porque o cat�logo era todo meu, e eu n�o ganhava nada. As pe�as come�aram a sair em revistas nacionais e pessoas do pa�s inteiro querendo comprar. Ter�amos que montar outra empresa, e nasceu a AVL, que funciona sob demanda. Quando precisa de uma pe�a que falta no mercado, desenho e produzimos com parceiros. N�o fazemos lumin�rias de arte, s� pe�as comerciais.
Como foi conduzir por 32 anos uma loja sozinha?
N�o foi dif�cil, porque sou uma mulher de decis�o. Sei o que quero. Hoje, meus filhos Nat�lia e El�i est�o comigo na loja. Nat�lia desde cedo foi conduzida e treinada para isso. Estudou na Funda��o Torino e fala italiano e ingl�s fluentemente. Desde os 10 anos viaja comigo para todas as feiras e mostras e hoje � respons�vel pela �rea administrativa e internacional da loja. El�i � advogado, atuou muitos anos na �rea, mas percebemos que precis�vamos de uma pessoa para olhar as quest�es legais, de contratos e financeira da loja. Ele ocupou esse lugar. Eu fico na �rea comercial e marketing. O que segura a empresa por tanto tempo � estar focada naquilo que ela decidiu empreender.
Quais os planos para 2020?
Hoje, nosso foco s�o projetos luminot�cnicos. Da mesma forma que nosso servi�o mudou, o mundo mudou e precis�vamos mudar nossa imagem, por isso mudamos nossa logo e nosso nome. Temos que renovar sempre, e viramos A. de Arte. A parte “decorativa” � inserida no projeto luminot�cnico. N�o vi passar os 32 anos de loja. O com�rcio � uma grande terapia, n�o h� monotonia. Fico louca para chegar segunda-feira, porque amo ir para a loja, amo trabalhar. Planos eu sempre tenho. Estamos com uns projetos muito bacanas para a loja, n�o queremos que ela cres�a, mas que ela amadure�a, e para isso n�o tem limite. Estamos com uma consultoria de S�o Paulo h� um ano e meio, no processo de empresa familiar. � muito bom. Queremos ser cada vez mais criativos.