
Rumo a 2154. Essa tem sido a frase que Alexandre Birman, de 45 anos, mentaliza diariamente e que d� ritmo ao seu trabalho. O empres�rio e designer, CEO da Arezzo&CO, assumiu para si o compromisso de realizar o sonho do pai, Anderson, fundador da Arezzo, de ver a empresa, que completa 50 anos em setembro, ultrapassar os s�culos. N�o se trata apenas de ter vida longa, mas tamb�m crescer. E ele n�o para, tanto que entrou de vez para o segmento de vestu�rio e vem construindo um dos maiores grupos de moda da Am�rica Latina. Alexandre fez uma r�pida passagem por Belo Horizonte, cidade onde nasceu, para inaugurar a primeira loja da marca Alexandre Birman. Cercado por sapatos desejados h� tempos pelas mineiras, teve um encontro emocionante com a av�, Ruth Birman, de 97 anos, que simboliza seu amor pela fam�lia e a longevidade almejada para os neg�cios. Logo ao lado, um tapume vermelho anuncia que a marca Reserva tamb�m est� chegando � cidade, onde a hist�ria do grupo come�ou. Alexandre conversou com o Feminino & Masculino na �ltima ter�a-feira, pouco antes de embarcar de volta para S�o Paulo, onde participaria do lan�amento da cole��o New Gen, da Schutz, voltada para crian�as e adolescentes. Nesta entrevista exclusiva, ele avisa que tem mais planos para BH com outras marcas do grupo.
Como foi sentir o carinho das pessoas na inaugura��o da loja?
Queria conversar com voc� durante horas a fio, porque, em poucos minutos, vai ser dif�cil de transmitir meu sentimento. Ontem foi quase que um momento de espasmo. Estava ali numa bolha, sem entender o que estava acontecendo, para ser sincero, de tamanha energia. Estou acostumado a ter grandes eventos no mundo inteiro, inaugura��es, lan�amentos, mas o que senti ontem foi indescrit�vel. Precisei da noite para realmente entender o que estava acontecendo e hoje de manh� decidi fazer uma corrida quase que sentimental.
Por onde voc� passou nessa corrida?
Estou muito feliz de poder descrever esse momento para voc�. Sa� do Hotel Fasano e subi at� o Minas T�nis Clube, onde fui atleta durante muitos e muitos anos. Depois desci para a Savassi, fui at� a primeira loja da Arezzo, na Avenida Get�lio Vargas, e passei pelas ruas Pernambuco e Sergipe. Depois subi at� a Pra�a da Liberdade e rodei cada mil�metro dela. Relembrei algumas coisas incr�veis, uma delas que o fundador de Belo Horizonte � o Bias Fortes, ao ver o busto dele na pra�a. Uma quest�o pequena, mas que me marcou, foi quando passei por aquela �rvore na esquina da Rua Rio de Janeiro, onde tem a loja da Arezzo. Tinha uma senhora limpando a cal�ada, parei, pedi licen�a e perguntei se ela sabia qual tipo de �rvore era e ela me falou que se chama gameleira. N�o sabia que existia esse tipo de �rvore, a� que me lembrei do Parque de Exposi��es da Gameleira. Essa senhora tinha trabalhado nas minhas lojas no passado e me reconheceu. Ent�o, foi tudo maravilhoso.
Voc� deve ter ouvido muito esta pergunta: por que demorou tanto tempo para abrir uma loja Alexandre Birman em BH?
Voc� me apertou agora... n�o tem explica��o, s�o momentos. Foi uma quest�o de timing mesmo, n�o tem uma explica��o racional de neg�cio. Era para ser em 2 de maio de 2022.
Ao lado da loja Alexandre Birman j� tem um tapume vermelho anunciando a chegada da Reserva. Quais s�o os seus planos para essa esquina?
Ali vai ser s� Reserva e Alexandre Birman, mas tenho outros planos, confidenciais ainda, em outras esquinas e quarteir�es de Belo Horizonte, com outras marcas da nossa empresa que ainda n�o est�o aqui. Em breve, voltarei para contar.

A pandemia foi o momento mais dif�cil que voc� j� viveu como empres�rio?
Tenho muito cuidado de responder a essa pergunta: foi o mais dif�cil e ao mesmo tempo o mais importante. Falo que � dif�cil de responder porque a pandemia foi um momento de muita tristeza para o mundo; entretanto, foi quando mais crescemos. Est�vamos muito preparados, porque j� �ramos fortes no digital desde 2011 e iniciamos a integra��o entre e-commerce e lojas f�sicas em 2018. Ningu�m nem tinha ideia da pandemia, mas eu e o meu diretor-executivo digital j� t�nhamos feito um curso muito profundo na Singularity University, uma universidade de inova��o que fica no Vale do Sil�cio, e voltamos com uma ideia: por que n�o disponibilizar a lista de clientes para as vendedoras?. O nosso objetivo era que a vendedora tivesse na palma da m�o um aplicativo onde escrevesse o nome da cliente e j� visse as �ltimas compras. Come�amos no fim de 2019 a fazer vendas digitais atrav�s do ZZ Link, sistema desenvolvido internamente que mandava link de pagamento digital e as clientes podiam comprar sem ir � loja. Tinha ouvido em uma palestra sobre a hist�ria do Mustang, que foi criado numa �poca em que a Ford estava perdendo mercado, e, quando as lojas fecharam, me lembro como se fosse hoje, falei com a minha equipe: ‘Agora precisamos desenvolver o nosso Mustang’. Em um m�s, eles entregaram uma solu��o que era muito eficiente e n�o demitimos ningu�m na pandemia. Dobrei a comiss�o das vendedoras e elas de casa, no lockdown, conseguiam fazer as vendas ligando a base de clientes ao estoque das lojas. A vida inteira no varejo voc� trabalha para a cliente ir para a sua loja, s� que aquilo n�o era mais poss�vel naquele momento, ent�o n�s t�nhamos que levar a loja at� a cliente. E est�vamos preparados para isso. Em maio de 2020, atingimos 80% das vendas de 2019, sendo que naquela �poca as lojas estavam fechadas.
Voc�s compraram as marcas Reserva e Carol Bassi e a Schutz passou a ser tamb�m uma marca de roupas. Como anda essa aproxima��o do grupo com o segmento de vestu�rio?
N�s come�amos isso na pr�-pandemia. Em 2019, tra�amos uma estrat�gia muito profunda com uma consultoria internacional de alt�ssimo n�vel com quem sempre traba- lhamos. A empresa estava realmente preparada para entrar no segmento de vestu�rio. O nosso primeiro passo, ainda em 2019, foi a aquisi��o dos direitos de comercializa��o da marca Vans no Brasil. Apesar de ser conhecida pelos t�nis, 35% das vendas da Vans s�o roupas e a marca atinge muito os p�blicos masculino e infantil. N�s �ramos apenas uma empresa de cal�ados e bolsas femininas. Depois veio a explos�o com a compra da Reserva. Hoje a Reserva tem 10% do segmento de vestu�rio masculino no Brasil. N�s n�o t�nhamos vestu�rio feminino at� dezembro de 2021, poucos meses atr�s, quando compramos a marca Carol Bassi. Agora, a Schutz tamb�m entrou nesse segmento. Fizemos muita pesquisa, a Schutz � uma marca que gera um desejo muito grande nas clientes e sabemos que, em dois ou tr�s anos, um ter�o das vendas dela v�o vir de vestu�rio. Na quinta-feira, inauguramos a segunda loja no Rio de Janeiro, j� com esse conceito.
"Para mim n�o existe trabalho e vida pessoal. Vivo para o meu neg�cio, minha vida � isso, sou muito conectado"
O grupo tem tantos projetos e neg�cios que � imposs�vel falar de todos. Como voc�s conseguem ter tantas ideias?
Para mim, n�o existe trabalho e vida pessoal. Vivo para o meu neg�cio, minha vida � isso, sou muito conectado. �bvio que tenho um prazo para isso. Nesse ritmo, para ser sustent�vel, tenho que saber a minha hora de parar, a idade chega para todo mundo. Mas tenho pessoas do meu lado que compartilham do mesmo sonho. Quando a lideran�a engaja, inspira e atrai pessoas fora da curva, consegue ter uma empresa que executa mais, entrega mais e � mais criativa. Temos todo esse ecossistema, que come�a por mim, mas n�o adiantaria nada fazer sozinho. Al�m disso, soube atrair s�cios incr�veis e tenho que falar do Rony Meisler, que � um parceiro da vida, vai muito al�m de business. Temos uma rela��o pessoal muito pr�xima, ele � um cara que tem muita garra e energia.
O Rony Meisler se tornou CEO da Ar&CO, que engloba as marcas do antigo Grupo Reserva. O que voc� tem aprendido com ele?
� uma troca, porque temos perfis complementares. Sou uma pessoa muito mais t�cnica, muito mais estruturada no sentido da gest�o, com um n�vel de exig�ncia de entrega bem alto. Sou assim tamb�m na minha vida pessoal. J� o Rony � um cara muito mais light, mais extrovertido e muito de engajamento. Tivemos uma troca nesse sentido muito importante, tanto que a Reserva dobrou de tamanho e este ano vai passar de R$ 1 bilh�o de faturamento. Quando compramos, em 2020, eram R$ 350 milh�es. Da mesma forma que ele trouxe uma vis�o diferente para a Ar&CO. Al�m de ser um acionista relevante, o convidei para ser conselheiro, ele faz parte dos comit�s de pessoas e cultura, de sustentabilidade e de estrat�gia.
Voc� � um competidor de triatlo e at� participa de provas de iron man. Como leva essa for�a que tem no esporte para os neg�cios?
Preciso de um esporte que me consuma 15 horas por semana para descarregar a minha energia. E como levo essa for�a para a empresa? Isso se d� atrav�s de duas formas distintas. Primeiro, que a primeira �nica hora em que desligo mais � quando estou no esporte, � uma imers�o absoluta. Treino uma m�dia de 1h30min a 2 horas por dia, s�o treinos muitos intensos, mas � um momento de muita desconex�o. Por outro lado, n�o gosto de usar a palavra mindfulness, que est� muito batida, virou um jarg�o pop, mas o meu conceito de mindfulness � estar onipresente. Voc� coloca tanta energia concentrada no que est� fazendo que vive aquele momento com muita intensidade. Dou muito foco �s duas horas de nata��o, bike e corrida que pratico por dia e uso isso em tudo o que fa�o. Falo que o esporte � o que me d� disciplina. Sei que, se n�o treinar bem, n�o vou competir bem. Prova � voc� se colocar em prova, e eu gosto. Estou com uma les�o no ombro, fruto de uma queda de esqui na neve. � um esporte de lazer, mas fa�o com muita frequ�ncia h� quase 30 anos. Essa � a segunda queda da minha vida. Estou tentando combater essa les�o do ombro sem cirurgia, mas acho que n�o vou conseguir, vou ter que operar. V�o ser tr�s meses de recupera��o e isso vai mudar meus planos de treino, mas n�o em rela��o aos neg�cios.
A marca Arezzo completa 50 anos em setembro. O que as outras marcas do grupo podem aprender com a hist�ria dela?
A Arezzo soube passar de gera��o para gera��o sem envelhecer. Fiquei impressionado, quando estive na loja aqui em BH, com o que tinha de jovens e adolescentes loucos com a marca. � legal ver isso. A Arezzo consegue ter um produto para quem j� consumia nos anos 1980, para a gera��o Z e at� para as crian�as com a Bambini, que � a nossa linha infantojuvenil. A Arezzo est� sempre conectada com a sua cliente e ela pode ensinar as outras marcas a pensarem a longo prazo.

O seu pai, Anderson Birman, fundador da Arezzo, � exemplo de qu� para voc�?
Ele realmente � o fundador dos nossos princ�pios. Os alicerces da nossa empresa foram baseados nos seus princ�pios, que s�o atender o cliente da melhor forma, focar no produto, ter humildade, posicionamento, ser flex�vel, ter alinhamento. Mesmo de maneira informal, todo mundo fica sabendo para onde a empresa est� indo. Ele � a pessoa que montou bases muito s�lidas e � essa refer�ncia para mim. Fora as quest�es ligadas ao cal�ado. O que falei antes serviria para qualquer empresa de qualquer setor, mas meu pai entende muito sobre cal�ado. Estou para falar que ele � a pessoa que entende mais de cal�ado feminino no mundo. Ningu�m entende mais da anatomia dos p�s, o que funciona de modelagem, tipo de salto para o calce ficar perfeito na maioria dos tipos de p�s. Ele � o nosso grande mestre do sapato, o nosso grande mestre na parte t�cnica, e isso se perpetuou. Hoje o grupo produz mais de 20 milh�es de pares de sapato por ano. Ele � o fundador de todo esse know-how do cal�ado. Acabei de ver uma mulher com um sapato Alexandre Birman, marca internacional do segmento classe A, com R$ 200 milh�es de faturamento. A origem disso est� no meu pai.
Como surgiu e o que significa o slogan “Rumo a 2154”?
O meu pai foi vision�rio na �poca do Plano Collor, quando o Brasil passava por um momento dif�cil, e o sonho dele era estar vivo em 2154. Ele nasceu em 1954 e seria quando completaria 200 anos. Ele sabia que seria uma miss�o imposs�vel, mas a empresa teria que estar viva, por isso falamos tanto sobre longe- vidade. Quando vi a gameleira, que deve ser uma �rvore quase secular, fiquei pensando sobre isso. O meu pai soube fazer a sucess�o e eu consegui trazer modernidade, digitaliza��o (fui eu quem tive a vis�o de ter um e-commerce em 2011), uma vis�o mais moderna de lideran�a.
O que o motiva a acordar todos os dias e viver o dia a dia da empresa?
Como assim acordar? Eu n�o durmo (risos).
J� pensou em parar de trabalhar, ou pelo menos desacelerar?
J� pensei que tenho um prazo e estou me preparando para o meu dia D. Est� tudo planejado, mas ainda n�o sei quando vou fazer a mudan�a. � �bvio que o nosso corpo � igual a uma m�quina. Um avi�o, por exemplo, tem tantas horas de voo e depois tem que parar para trocar alguma pe�a. Tem aquela frase “n�o importa a idade do RG, mas a idade mental”. Estou sempre me atualizando, mas a m�quina do corpo tem um limite de certo n�mero de horas de voo para trocar algumas pe�as e conseguir ser mais longeva. Tenho 45 para 46 anos, estou novo, mas realmente quando disse que n�o durmo � quase verdade, sou muito ligado. Tanto � que constru� um dos maiores grupos de moda da Am�rica Latina.