
A hist�ria do Brasil passa, necess�ria e vigorosamente, pela Pra�a Tiradentes, no Centro de Ouro Preto, antiga Vila Rica. No edif�cio erguido em 1785 pelo governador da Capitania de Minas, Lu�s da Cunha Meneses, para ser Casa de C�mara e Cadeia, est� o Museu da Inconfid�ncia, de portas e janelas coloniais abertas para contar a trajet�ria de Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e conjurados que lutaram pela liberdade; caminhos do Ciclo do Ouro nas Gerais; e maravilhas do barroco, incluindo pe�as de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), cujo bicenten�rio de morte � lembrado este ano, e partituras musicais. No pr�ximo dia 11, o Museu da Inconfid�ncia, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vai completar sete d�cadas de conhecimento, mem�ria e arte, com novidade para os visitantes. A cerim�nia comemorativa ser� na v�spera, domingo, �s 11h, com a presen�a da ministra da Cultura, Marta Suplicy.
Logo em frente ao Inconfid�ncia, pode-se admirar um dos cart�es-postais mais conhecidos do pa�s: o Monumento a Tiradentes, escultura em bronze feita em 1894 por Virg�lio Cestari e localizada de costas para o antigo Pal�cio do Governador, atual Escola de Minas. Depois desse primeiro impacto visual, � hora de subir a escadaria de pedra, visitar salas e colar os olhos nas vitrines do museu para um exerc�cio fascinante: agu�ar os sentidos e mergulhar numa longa hist�ria.
H� 40 anos no cargo de diretor, o escritor Rui Mour�o conta que o acervo re�ne cerca de 60 mil itens, entre documentos dos tempos da Conjura��o Mineira (1788/89), como o s�timo volume dos Autos da Devassa e a edi��o clandestina de 1778 da Constitui��o dos Estados Unidos – em franc�s, Recueil des loix Constitutives des �tats-Unis; pe�as da forca usada no supl�cio de Tiradentes, no Campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro; rel�gio do alferes e depois m�rtir do movimento, de fabrica��o inglesa, adquirido pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek das m�os de particulares, em 1953; mobili�rio dos s�culos 18 e 19; pe�as sacras; biblioteca; livros de cart�rio, entre uma s�rie de preciosidades. Merecem destaque os manuscritos musicais reunidos pelo pesquisador alem�o Francisco Curt Lange (1903-1997), que salvou da destrui��o centenas de partituras da m�sica colonial mineira.

PANTE�O Diante da fachada do imponente edif�cio, Mour�o ressalta que a casa � fundamental para se entender melhor a hist�ria da liberdade no Brasil. O museu, explica, foi criado no governo de Get�lio Vargas para receber os despojos dos conjurados mineiros mortos no ex�lio na �frica e repatriados em 1936 – a iniciativa coincidiu com a passagem dos 150 anos da senten�a proferida em 1792 contra os r�us da Inconfid�ncia. Em 1942, havia apenas o Pante�o com as l�pides dos her�is, e dois anos depois o museu ganhou forma sob a dire��o do historiador Raymundo Trindade. Nesse caso, a data comemorava o bicenten�rio de nascimento do poeta inconfidente Tom�s Ant�nio Gonzaga.
O primeiro acervo foi doado pela C�ria Metropolitana de Mariana, na sequ�ncia, foram compradas pe�as do antigo Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Ouro Preto e depois acrescentados os autos da devassa (processos) referentes aos r�us eclesi�sticos envolvidos na Conjura��o Mineira. Outra grande aquisi��o foi o acervo musical de Lange. “Ao longo dos anos, estamos sempre enriquecendo este patrim�nio”, destaca Mour�o.
H� tr�s anos, a Inconfid�ncia Mineira ganhou finalmente um rosto – na verdade o �nico conhecido at� hoje de um integrante do movimento. � do conjurado Jos� Resende Costa (1728-1798), que viveu na Regi�o dos Campos das Vertentes e morreu no degredo na Guin�-Bissau, �frica. A identifica��o dele, de Domingos Vidal de Barbosa Laje, morto aos 32 anos, e Jo�o Dias da Motta, aos 59, igualmente no degredo, se arrastava havia d�cadas. A pedido da dire��o do museu, pesquisas e reconstitui��o facial foram feitas na Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela equipe do professor Eduardo Daruge.
No Pante�o, no primeiro andar, os tr�s t�m sua l�pide ao lado das de Alvarenga Peixoto, Tom�s Ant�nio Gonzaga, Jo�o da Costa Rodrigues, Francisco Ant�nio de Oliveira Lopes, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, Vitoriano Gon�alves Veloso, �lvares Maciel, Francisco de Paula Freire de Andrada, Domingos de Abreu Vieira, Luiz Vaz de Toledo Piza, Jos� Aires Gomes, Ant�nio de Oliveira Lopes e Vicente Oliveira da Mota.
NACIONAL O presidente do Ibram, Angelo Oswaldo, explica que o Inconfid�ncia � um dos cinco museus nacionais do Brasil – os outros s�o os de Belas Artes, Hist�rico Nacional e da Rep�blica, no Rio de Janeiro, e Imperial, em Petr�polis (RJ) –, um reconhecimento pela ampla abrang�ncia da institui��o. “Os mineiros devem ter orgulho desse bem de import�ncia especial e que j� nasceu numa concep��o moderna para a �poca. Guarda a hist�ria de Tiradentes, as partituras reunidas pelo music�logo Curt Lange e muitas pe�as de Aleijadinho.” Angelo Oswaldo ressalta a revitaliza��o em 2006 com novos projetos museol�gico e museogr�fico.
O Museu da Inconfid�ncia foi o primeiro do pa�s instalado fora da faixa litor�nea, rompendo tradi��o que vinha dos tempos do reinado brasileiro de dom Jo�o VI. Para a t�cnica respons�vel pelo Arquivo Hist�rico do museu, Suely Perucci, trata-se de um espa�o de mem�ria e reflex�o, com papel fundamental na interpreta��o da cultura e educa��o do homem, fortalecimento da cidadania e respeito � diversidade cultural. “A voca��o e o dinamismo do museu, em sete d�cadas, evidenciam a miss�o de preservar, divulgar e manter acess�vel o seu acervo.”
Enquanto isso...
...PRESENTE DO "SETENT�O"
O anivers�rio do “setent�o” mais famoso de Ouro Preto, na Regi�o Central, a 95 quil�metros de Belo Horizonte, ter� um presente especial para brasileiros e estrangeiros �vidos por percorrer as salas de exposi��o permanente e descobrir as novas aquisi��es. Depois de restaurado, ser� apresentado o quadro Nossa Senhora da Soledade (E), �leo sobre tela medindo 1,30m por 96,5cm, de autoria de Manuel da Costa Atha�de (Mariana, 1762-1830). Embora sem data ou assinatura, a obra teve autenticidade comprovada por laudo t�cnico (2007) da especialista em barroco mineiro Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira e recebeu certificado de autenticidade firmado em 1968 pelo professor Edson Motta (1968). A tela pertencia a Sylvia de Vasconcellos, filha do estudioso de arte mineira Sylvio de Vasconcellos, de quem herdou a referida pintura, cujo local de proced�ncia � a Fazenda Gualaxo, em Mariana, Minas Gerais, demolida em 1950.
Cronologia
1785
Em 1º de junho, o governador da Capitania de Minas, Lu�s da Cunha Meneses, come�a a constru��o da Casa de C�mara e Cadeia de Vila Rica, atual Ouro Preto
1862
A Casa de C�mara e Cadeia deixa o pr�dio, que passa a funcionar apenas como pris�o
1907
Pr�dio sofre adapta��es para se transformar em penitenci�ria estadual
1938
Doa��o do edif�cio � Uni�o, ato formalizado pelo Decreto-Lei 144, de 2/12/1938. Em 20 de dezembro � criado o Museu da Inconfid�ncia pelo Decreto-Lei 965 do presidente Get�lio Vargas
1942
Em 21 de abril, � inaugurado o Pante�o, para o qual s�o transferidos os despojos dos inconfidentes mortos no ex�lio na �frica e repatriados em dezembro de 1936
1944
Museu da Inconfid�ncia abre as portas sob a dire��o do c�nego Raymundo Trindade. Data lembra o bicenten�rio de nascimento do poeta inconfidente Tom�s Ant�nio Gonzaga
2006
Museu � reaberto com novos projetos museol�gico, feito pelo diretor Rui Mour�o, e museogr�fico, a cargo do franc�s
Pierre Catel
2009
Museu da Inconfid�ncia, at� ent�o vinculado ao Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), passa a ser ligado ao rec�m-criado Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
