
Moradora na Pampulha, Daniela Martins, de 28 anos, planeja comprar uma moto, em abril pr�ximo, para “n�o sofrer mais nos �nibus em Belo Horizonte”. Por diferentes motivos, o n�mero de passageiros no principal transporte p�blico da capital vem caindo. Nem mesmo o Move, que este m�s completou dois anos, foi capaz de evitar quedas surpreendentes. Em dire��o oposta, a frota na cidade continua avan�ando.
Pela sexta vez consecutiva, o total de passageiros nas linhas da cidade, inclu�das as que n�o integram o Move, recuou no confronto de meses id�nticos em anos cont�nuos. No �ltimo levantamento, por exemplo, houve uma diminui��o de 3 milh�es de usu�rios entre janeiro de 2016 (30.692.468 pessoas) e o de 2015 (33.746.576) – recuo de 9,1%.
J� a frota aumentou em quase 50 mil unidades na mesma base de compara��o, de 1.662.305 unidades para 1.711.139 – alta de 2,9%. O mesmo percentual foi apurado na compara��o entre todo o acumulado de 2014 e o de 2015, quando o n�mero de ve�culos foi de 1.664.487 para 1.714.233. Por outro lado, houve queda no total de passageiros nos �nibus da cidade.
Quase 9 milh�es de usu�rios deixaram de embarcar nos coletivos de BH no confronto entre os �ltimos dois anos: 448.316.052 pessoas, em 2014, e 438.937.197 em 2015 – redu��o de 2%. Daniel Marx, diretor de Transporte da BHTrans, atribui diferentes mudan�as para cada base de compara��o.
De acordo com ele, a queda no n�mero de usu�rios no confronto entre 2015 e 2014 se deve, em grande parte, aos feriados nacionais e aos n�meros de fins de semana. No ano passado, 10 feriados nacionais ca�ram em dias �teis. No outro, oito datas.
“Esse percentual (2%) deve-se aos s�bados, domingos e feriados. Se o feriado cai numa ter�a ou numa quinta, por exemplo, muita gente emenda. Portanto, o percentual est� dentro da margem de feriados e dias �teis at�picos”, disse ele, ponderando, contudo, que a queda relacionada ao confronto entre os meses de janeiro de 2016 e 2015 ocorre, sobretudo, em rela��o � crise econ�mica.
“Em momento de crise, h� fator favor�vel e desfavor�vel ao transporte. Se a crise gera aumento de desemprego, � uma situa��o desfavor�vel, pois � menos pessoas indo trabalhar”, avaliou. E a taxa de desocupa��o subiu nessa base de compara��o. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o percentual de desocupados quase dobrou de um ano para o outro.
A taxa entre a popula��o desempregada na cidade subiu de 4,1%, em janeiro de 2015, para 6,9% na capital no mesmo m�s desse exerc�cio. O aumento no chamado ex�rcito de m�o de obra � disposi��o do mercado puxa para baixo a m�dia dos sal�rios oferecidos pelos empregadores. Em BH, para se ter ideia, o rendimento m�dio caiu de R$ 1.440,96 para R$ 1.255,06.

AJUSTE A professora da PUC Minas Andreia Santos, especialista em tr�nsito e doutora em sociologia, avalia que as quedas no n�mero de passageiros de transporte p�blico est�o relacionadas, sobretudo, � migra��o para o uso de ve�culos privados e ao desemprego. Ela destaca ainda que, no caso do Move, “dois anos ainda � considerado tempo de ajuste do sistema”.
Por�m, ela avalia que algumas mudan�as precisam ser feitas, como aumentar a quantidade de bairros atendidos pelo sistema. “Alguns bairros ficaram desguarnecidos”.
O engenheiro Mateus Ara�jo Maia, especialista em transporte, observou, no artigo “Inconsist�ncia na estrutura de transporte p�blico das cidades brasileiras”, que, dependendo da �rea, o Move disputa espa�o com ve�culos comuns. “O corredor (do Move), com via exclusiva de segrega��o total por canaleta para tr�fico de �nibus da cidade de Belo Horizonte, n�o se estende �s principais origens e destinos que t�m o maior fluxo de usu�rios”.
Enquanto isso...
A FARRA DAS PASSAGENS A mudan�a do vale-transporte em papel para o cart�o de pl�stico n�o p�s fim ao mercado informal de venda de passagens em �nibus. O que mudou foi o chamado modus operandi. Agora, quem est� interessado na venda aborda pessoas nos pontos. O dono entrega o cart�o ao comprador e o espera passar pela roleta. Em seguida, o comprador devolve o cart�o ao dono pela janela do coletivo. Muitos vendedores negociam a passagem inteira, que custa R$ 3,70, por R$ 3. V�rios deles agem em frente �s bilheterias do Move.
