Eduardo Martins Cardoso
Belo Horizonte
"A explos�o em grande escala registrada em uma regi�o portu�ria de Beirute, no L�bano, deixou mais de 100 mortos e milhares de feridos. Diante do terr�vel acontecimento e da repercuss�o que esse gerou na m�dia e nas redes sociais, � poss�vel se fazer uma reflex�o sobre como as pessoas reagem a trag�dias e a maneira que epis�dios como esse geram uma como��o popular muito grande, mas, ao mesmo tempo, agu�am uma curiosidade singular e exp�em um lado sombrio da mente humana. Um padr�o se repete toda vez que trag�dias acontecem. N�o � incomum que, quando ocorre um acidente de carro numa via movimentada, o tr�nsito fique mais complicado n�o apenas pelo acidente em si, mas pelo fato de que muitos motoristas que passam pela cena diminuem a velocidade ou mesmo param o carro para olhar, especialmente quando h� pessoas feridas na cena. No caso de trag�dias que t�m registros com fotos e v�deos, como no caso do L�bano, as pessoas as assistem e compartilham, incansavelmente, as cenas dos feridos no hospital, quase como se isso despertasse um certo prazer. Machado de Assis, no conto A causa secreta, conta a hist�ria de um m�dico que encontrou o prazer na profiss�o n�o no ato de ajudar os pacientes a se curarem, mas, sim, no interesse em observar de perto a dor e o sofrimento desses. O autor, em 1885, j� alertava para a complexidade da psique humana e mostrava que, por vezes, as pessoas t�m uma rea��o exc�ntrica � dor do outro. Contudo, � importante ressaltar que esse tipo de rea��o n�o torna as pessoas m�s, o que acontece � que a consci�ncia sobre a morte e/ou sobre a dor e sobre o fato de que n�o foi voc� quem passou por isso causa uma certa felicidade inconsciente, o que ocasiona essa curiosidade. Por fim, � importante que se reflita a respeito da exposi��o dessas imagens e v�deos, uma vez que os envolvidos, principalmente em momentos de grande fragilidade como esse, precisam ter sua imagem preservada e sua vida respeitada."
