
No dia 1º de maio come�a na maioria dos estados brasileiros a campanha nacional de vacina��o contra a febre aftosa. Nesta primeira etapa, que vai at� o dia 31, devem ser vacinados os bovinos e bubalinos de todas as idades. O produtor que descumprir a determina��o do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (MAPA) ser� autuado pelo �rg�o estadual de fiscaliza��o e pagar� multa.
Em Minas Gerais, esta responsabilidade compete ao Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA). A multa para quem deixar de vacinar o rebanho no prazo ser� de R$ 75,25 por animal e a n�o comprova��o da vacina��o at� o dia 10 de junho implicar� no pagamento de R$ 15,05 por cabe�a. Em 2015, o IMA registrou �ndices de comprova��o da vacina��o contra a febre aftosa acima de 96% nas duas etapas. Para este ano, a estimativa � que mais de 97% do rebanho do estado seja vacinado.
Na Fazenda Tesourinho, localizada em Sete Lagoas, a 70 Km de Belo Horizonte, ser�o vacinados 57 animais na primeira fase da campanha e cerca de 20 na segunda, em novembro. A vacina��o do rebanho, diz o propriet�rio Adilson Evangelista Silva, est� programada para ocorrer no dia da visita mensal do m�dico veterin�rio Marcos N�lio Marangon � propriedade. “Desde que comecei a participar do projeto Educampo, h� cinco anos, quem aplica as vacinas obrigat�rias, contra febre aftosa e brucelose, � o consultor.”
J� a aplica��o das demais vacinas do calend�rio da propriedade - raiva dos herb�voros, carb�nculo sintom�tico (mal de ano), paratifo, IBR/BVD e leptospira - � de responsabilidade dos funcion�rios da propriedade Geraldo Ribeiro e Nielson Dias. Ambos foram capacitados em cursos oferecidos pelo Senar. “Como acompanho a produ��o de perto, aprendi com o veterin�rio e tamb�m aplico as vacinas”, conta Silva.
Consequ�ncias A febre aftosa � uma doen�a infecciosa aguda, provocada por v�rus, que causa febre e ves�culas (aftas) na boca e p�s de animais de casco fendido. Al�m dos preju�zos ocasionados pela diminui��o da produ��o de leite, perda de peso e por se tornarem animais inapropriados para reprodu��o, o principal deles, aponta Altino Rodrigues Neto, superintendente t�cnico da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg), � comercial. “As fortes barreiras colocadas no com�rcio, tanto interno quanto externo, para a entrada de produtos e animais oriundos de estados com a doen�a gera efeitos negativos sobre a pecu�ria e toda a economia do pa�s, com graves consequ�ncias sociais”, afirma Neto, diretor geral do IMA entre 2003 e 2014.
De acordo com o fiscal agropecu�rio do IMA Natanael Lamas Dias, o �ltimo registro de febre aftosa ocorreu em maio de 1996 e o estado possui o reconhecimento de zona livre com vacina��o desde 2001. “Essa condi��o favorece o agroneg�cio, o acesso a mercados internacionais e contribui de forma destacada para o PIB mineiro”, enumera.
No entanto, Dias chama a aten��o para a import�ncia das a��es preventivas uma vez que, por ser uma doen�a viral altamente transmiss�vel, a febre aftosa pode se espalhar rapidamente. “Podemos concluir que se fosse detectado algum caso positivo de febre aftosa os preju�zos seriam incalcul�veis. Isso porque uma �nica ocorr�ncia j� seria suficiente para desencadear uma ‘opera��o de guerra’ dentro de Minas Gerais, envolvendo �rg�os de diversas �reas dos governos Federal e Estadual”, alerta.
Nesta situa��o hipot�tica, a primeira provid�ncia seria a comunica��o do fato ao MAPA que, por sua vez, repassaria a informa��o � OIE (Organiza��o Mundial de Sa�de Animal). Na sequ�ncia, seria suspenso para o estado o status de �rea livre de febre aftosa com vacina��o. De forma imediata, todos os bovinos contaminados e os demais, doentes ou n�o, em propriedades num raio de 3 km da �rea contaminada deveriam ser abatidos e enterrados em valas, abertas com base em orienta��es passadas pelos �rg�os de meio ambiente.
Paralelamente, seria necess�rio fazer o atendimento �s propriedades vizinhas ao foco da doen�a num raio de 7 km, com inspe��o de todos os animais suscept�veis por meio da realiza��o de exames de boca e pata. Por fim, seria preciso instalar barreiras sanit�rias e controlar o tr�nsito de animais, pessoas, produtos e subprodutos, assim como realizar a desinfec��o dos ve�culos num raio de 25 km.
Preven��o Para que o Brasil permane�a na condi��o de pa�s livre da doen�a, o MAPA, por meio da Instru��o Normativa 44/2007, desenvolveu o Programa Nacional de Erradica��o e Preven��o da Febre Aftosa (PNEFA), conforme estabelecido pelo Sistema Unificado de Aten��o � Sanidade Agropecu�ria. O programa tem como objetivos a erradica��o da doen�a em todo o territ�rio nacional e a sustenta��o dessa condi��o sanit�ria por meio da implanta��o de um sistema apoiado na manuten��o das estruturas do servi�o veterin�rio oficial e na participa��o da comunidade. Sua execu��o � fundamentada em crit�rios cient�ficos e nas diretrizes internacionais de luta contra a doen�a, com responsabilidades compartilhadas entre os setores p�blicos e privados.
Para Ant�nio C�ndido Cerqueira Leite, analista da Embrapa Gado de Leite, o produtor tem um papel de extrema import�ncia no programa. “� preciso que haja mais conscientiza��o por parte dos produtores”, enfatiza. De acordo com ele, para que as medidas preventivas sejam exitosas � imprescind�vel capacitar a m�o de obra. “Quando a m�o de obra � treinada, � poss�vel desenvolver um manejo preventivo de doen�as mais efetivo nos rebanhos. Al�m disso, conseguimos aumentar os cuidados com as pr�prias vacinas na medida em que come�a a existir uma preocupa��o maior com rela��o � temperatura adequada para o seu armazenamento e com o fato de que as seringas e agulhas precisam estar em condi��es ideais para utiliza��o”, exemplifica.
A segunda etapa da campanha contra a febre aftosa ocorre no m�s de novembro, quando devem ser vacinados todos os animais com at� 24 meses de idade.
Vacina��o contra brucelose tamb�m e obrigat�ria
A vacina��o contra brucelose tamb�m integra o calend�rio nacional e deve serrealizada sob a responsabilidade t�cnica de um m�dico veterin�rio cadastrado no IMA. Seu p�blico-alvo s�o as f�meas bovinas e bubalinas com idades entre tr�s e oito meses. A coordenadora em Minas Gerais do Programa Nacional de Controle e Erradica��o da Brucelose e Tuberculose Animal na Ger�ncia de Defesa Animal do IMA, Luciana Faria de Oliveira, esclarece que os produtores s�o obrigados a declarar no m�nimo uma vez a cada semestre a vacina��o das f�meas de seus rebanhos.
Al�m das perdas econ�micas causadas � atividade leiteira, relacionadas aosabortos, natimortalidade, ao aumento do intervalo entre partos e diminui��o da produ��o de leite, Gabriela Bicca da Silveira, fiscal federal agropecu�rio do Mapa, aponta os preju�zos relacionados � seguran�a alimentar. “Por ser uma zoonose, a brucelose pode ser transmitida ao homem. O cont�gio pode acontecer pelo consumo de leite cru ou de produtos l�cteos, que n�o foram submetidos a tratamento t�rmico, oriundos de animais doentes.”
Criado em 2001 pelo Mapa, o Programa Nacional de Controle e Erradica��o da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) tem trazido contribui��es significativas para a bovinocultura. Estudo realizado em 2002 indicou que a preval�ncia de animais infectados com brucelose no estado era de 1,1% e de propriedades que continham pelo menos um animal positivo era de 6,0%. Novo estudo conclu�do em 2012 revelou queda para uma preval�ncia de 0,8% de animais positivos e de 3,5% de propriedades com animais infectados.
O programa est� passando por revis�o e, segundo Gabriela, ser� publicada uma nova legisla��o neste m�s. “A principal proposta de altera��o � a determina��o de medidas a serem implementadas pelos servi�os sanit�rios estaduais, de acordo com a preval�ncia da brucelose e da tuberculose em seus rebanhos e a classifica��o dos estados considerando a condi��o sanit�ria que possuem em rela��o a essas doen�as.” Como n�o existe vacina contra a tuberculose, o produtor precisa ter controle do calend�rio sanit�rio dos animais adquiridos, ou seja, deve exigir exames negativos dessas cabe�as antes de introduzi-las em seu rebanho.
Na Fazenda Tesourinho a vacina��o contra brucelose � realizada de quatro emquatro meses. “Como o frasco rende 20 doses, estabelecemos esse intervalo para diminuir o desperd�cio”, pontua Adilson Silva. Considerando as sete vacinas que s�o aplicadas no rebanho da propriedade, o investimento representou no ano passado 0,115% do custo total de produ��o do leite. “Este custo � irris�rio diante dos preju�zos que podem ser causados. A meu ver, � inadmiss�vel um produtor n�o vacinar os animais. Ao agir assim, ele coloca em risco n�o apenas o seu neg�cio como tamb�m a produ��o de propriedades vizinhas e, quem sabe, de toda uma regi�o”, considera.