
Criado pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Agricultura e Alimenta��o (FAO) com o objetivo de incentivar o consumo de l�cteos, o Dia Mundial do Leite, comemorado hoje, completa 15 anos. E os dados comprovam que a estrat�gia tem surtido o efeito esperado.
De acordo com a Associa��o Leite Brasil, na �ltima d�cada e meia a taxa de crescimento do consumo de leite e derivados foi de 4,63% ao ano. A principal raz�o est� no comportamento do poder de compra do consumidor no per�odo, que viu o sal�rio m�nimo aumentar 480%. Enquanto em 2000 era poss�vel comprar 147 litros de leite com um sal�rio, em 2015 o poder de compra chegou a 258 litros.
Na ponta da cadeia, os produtores ganharam com uma melhor organiza��o do setor, o que permitiu que a produ��o brasileira crescesse a uma taxa anual de 4,1% acima do crescimento populacional de 0,8%. Este crescimento da produ��o, diz Paulo do Carmo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, se deu essencialmente pelo aumento da produtividade. “Antes, a produ��o de leite crescia mais em fun��o de um maior n�mero de cabe�as no rebanho do que pelo aumento da produtividade dos fatores de produ��o. Essa mudan�a � resultado da melhoria gen�tica dos animais e das pastagens, do investimento em gest�o e da ado��o de boas pr�ticas em parte significativa das propriedades leiteiras”, enumera.
Produ��o
Dados da Comiss�o Nacional de Pecu�ria de Leite da Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil (CNA) apontam que o pa�s tem produ��o estimada em 36 bilh�es de litros por ano e ocupa a quarta posi��o no ranking mundial. Minas Gerais � o maior produtor nacional de leite, com 9,6 bilh�es de litros que representam 27% do total. O valor bruto da pecu�ria leiteira em 2015 ficou estimado em R$ 8 bilh�es e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o estado det�m um rebanho efetivo de 5,9 milh�es de vacas ordenhadas, com produtividade m�dia de 1.612 litros por animal ao ano. Do montante de R$ 1,2 trilh�o do Produto Interno Bruto (PIB) do agroneg�cio brasileiro em 2015, o PIB da pecu�ria de leite foi respons�vel por R$ 52,2 bilh�es.
A Fazenda Cayuaba, localizada em Entre Rios de Minas, � uma das propriedades que contribuem para impulsionar a atividade leiteira do pa�s. Administrada pelo m�dico veterin�rio Fernando Andrade Garcia e por sua esposa, Patr�cia, a fazenda entrega, em m�dia, 3.700 litros de leite por dia para a Cooperativa Agropecu�ria de Conselheiro Lafaiete, associada do Sistema CCPR/Itamb�.
Com um rebanho Holand�s formado a partir da aquisi��o de matrizes puras de origem e estrutura de ponta - a fazenda utiliza free stall desde 1993 -, o produtor diz que a m�dia de produ��o se manteve est�vel nos �ltimos 15 anos por op��o da fam�lia. “Nesse per�odo, a substitui��o do Girolando pelo Holand�s e a constru��o em 2006 do segundo galp�o de free stall foram as mudan�as mais significativas da propriedade. Na condi��o de veterin�rio, avalio que para muitas fazendas houve um salto significativo no acesso a equipamentos e gen�tica, que contribu�ram para o aumento da produ��o e melhoria da qualidade da mat�ria-prima”, opina.
Pai de Felipe, de nove, e de Bruno, de cinco anos, Garcia considera que o seu papel na cadeia “� produzir leite de qualidade.” “Repare no sabor do iogurte de morango da Itamb�, � o mesmo h� anos. Sabe por qu�? Porque existe padr�o de qualidade, da produ��o do leite � fabrica��o do produto”, propagandeia. Como os meninos j� demonstram querer seguir os seus passos, o produtor diz que este interesse � um est�mulo. “Ver o interesse deles pela fazenda me deixa muito feliz e orgulhoso.”
Apoio e incentivo ao produtor
Uma das maiores captadoras de leite do pa�s, com cerca de 100 milh�es de litros que chegam todos os meses �s cinco f�bricas da Itamb�, a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) tem atua��o em mais de 300 munic�pios em Minas Gerais, Goi�s e no Rio Grande do Sul. Acompanhando as transforma��es que ocorreram no mercado nos �ltimos anos, a organiza��o tamb�m viu seu n�mero de associados diminuir e a produ��o aumentar.
Em 2000, a Cooperativa Central reunia 9,3 mil cooperados que respondiam pela produ��o anual de 765 milh�es litros de leite. Quinze anos depois, o quadro social passou a contar com 6 mil produtores e 1,3 bilh�o de litros produzidos. Essa mudan�a de cen�rio, analisa Jacques Gontijo, presidente da CCPR, ocorreu em fun��o da profissionaliza��o da atividade, que chegou acompanhada pelo aumento de volume da produ��o.
De acordo com o presidente, na medida em que o produtor come�ou a encarar a fazenda como uma empresa passou a investir mais em gest�o. “Como forma de colaborar com esta prepara��o do produtor, h� v�rios anos investimos em programas de assist�ncia t�cnica que t�m por objetivo levar informa��es e ferramentas que contribuam para a melhoria do seu neg�cio. Para viabilizar os projetos, contamos com parceiros importantes como a Embrapa, Sebrae, Faemg e universidades, entre outros.”
Dos avan�os conquistados nos �ltimos anos, Gontijo destaca a melhoria da qualidade e lembra que a CCPR foi uma das pioneiras no sistema de pagamento diferenciado. “Desde 1991 trabalhamos com um sistema de pagamento que premia os cooperados pela qualidade e nutrientes do leite que produzem. Ficamos muito satisfeitos porque ao longo dos anos notamos que houve uma melhoria substancial na qualidade e isso se reflete nos produtos que ofertamos aos consumidores”, pontua.
Rodrigo Alvim, presidente da Comiss�o Nacional de Pecu�ria de Leite da CNA e da C�mara T�cnica Setorial de Leite do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento, compartilha da opini�o de Gontijo. “O maior motivo para comemorar no Dia Mundial do Leite � a alta qualidade que encontramos hoje no pr�prio leite, alimento t�o completo e indispens�vel � vida que deveria ser celebrado todos os dias. No entanto, datas comemorativas s�o sempre importantes oportunidades de divulga��o. S�o momentos para valorizarmos o produto, o trabalho dos produtores e da ind�stria, e de levarmos ao consumidor informa��es que promovam cada vez mais o consumo”, diz o tamb�m diretor da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Import�ncia nutricional
O leite e seus derivados s�o a principal fonte de c�lcio da alimenta��o humana e uma boa ingest�o deste mineral � fundamental para a manuten��o da sa�de �ssea. Sendo assim, o consumo de produtos l�cteos adquire maior import�ncia para crian�as e jovens, e para o grupo com maior risco de perda de massa �ssea e osteoporose, caso dos idosos e mulheres no per�odo de climat�rio. A defini��o � do presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais, M�rcio Lauria.
Al�m do c�lcio, o leite in natura cont�m quantidades significativas das vitaminas A, do complexo B, C, D, E e K. O endocrinologista Paulo Miranda refor�a que o leite � um alimento completo em termos nutricionais, fonte tamb�m de carboidratos, gordura e prote�na, “mas em propor��es que variam de acordo com o derivado.” “Devemos lembrar que 87% da composi��o do leite � �gua e que, portanto, ele ainda auxilia na hidrata��o”, acrescenta.
Os especialistas avaliam que as linhas especiais, que v�m ganhado cada vez mais import�ncia no mercado, representam uma conquista para o consumidor. “As vers�es modificadas do leite e seus derivados atendem �s individualidades das pessoas e assim fica garantida a possibilidade de consumo de um alimento extremamente nutritivo”, explica Miranda. “Mas a prescri��o desses produtos deve ser sempre feita por um profissional capacitado para este fim”, alerta Lauria.
Ind�stria
Uma das marcas mais lembradas pelos consumidores brasileiros, a Itamb� saltou de um faturamento de R$ 600 milh�es/ano em 2001 para mais de R$ 3 bilh�es em 2015. Desde a inaugura��o da planta industrial de Uberl�ndia, em 2005, a comercializa��o de produtos para pa�ses como a Tun�sia, R�ssia, EUA, Paraguai, Chile, Angola e Venezuela tem rendido � empresa posi��o de destaque no ranking nacional de exportadores de l�cteos.
A Itamb� produz por m�s 44 mil toneladas de um mix que re�ne mais de 100 produtos e o maior faturamento est� na linha de leite em p�, que det�m 40% do total. Apostando no sucesso das linhas especiais e no lan�amento de mais 15 produtos at� o fim do ano, o presidente da companhia, Alexandre Almeida, estima fechar 2016 com crescimento em rela��o ao ano passado. “Apesar do momento conturbado na economia e na pol�tica, nossa previs�o � positiva. Acreditamos que em momentos de dificuldades � que se aproveitam as oportunidades.”