
O trabalho de monitoramento foi iniciado logo ap�s o rompimento da barragem. O intuito foi identificar a qualidade da �gua e sua adequa��o para consumo, j� que os rejeitos percorreram cerca de 670 quil�metros, por meio dos corpos h�dricos. No trajeto, passou pelos rios Gualaxo do Norte e Carmo at� chegar � foz do rio Doce, no distrito de Reg�ncia, no munic�pio de Linhares (ES).
Com os impactos, uma for�a tarefa para monitoramento emergencial foi adotada, no per�odo entre novembro de 2015 e julho de 2017, englobando 181 pontos de coleta para an�lise de 150 par�metros f�sicos, qu�micos e biol�gicos, indicando a viabilidade ou n�o da �gua para consumo.
No entanto, apenas monitorar os trechos n�o era suficiente. Seria necess�rio garantir o abastecimento h�drico nos munic�pios afetados com o fornecimento de �gua pr�pria para consumo nos locais onde a coleta e a distribui��o haviam sido paralisadas.
“Imediatamente ap�s o rompimento da barragem, uma das maiores preocupa��es estava relacionada � seguran�a h�drica nos munic�pios afetados. Para frear os riscos de desabastecimento, caminh�es-pipa foram enviados para fornecer �gua de qualidade e pr�pria para consumo”, explicou a l�der de Programas de Uso da �gua da Funda��o Renova, Yone Melo. Segundo ela foi definido um cronograma de a��es, incluindo monitoramento e abastecimento, para reduzir os impactos para a popula��o.
Amostras da �gua e dos sedimentos eram colhidas periodicamente para acompanhar e comprovar a evolu��o do tratamento e verificar poss�veis modifica��es que poderiam prejudicar o abastecimento. A partir de um compromisso firmado com autoridades federais e dos estados de Minas Gerais e Esp�rito Santo, posteriormente foi implantado um programa de monitoramento sistem�tico dos cursos d’�gua impactados.
Rio mais monitorado do Brasil
O reconhecimento como rio mais monitorado do Brasil se d� por meio do Programa de Monitoramento Quali-Quantitativo Sistem�tico da �gua e Sedimentos (PMQQS), iniciado em 31 de julho de 2017, que conta com 92 pontos de monitoramento, desde Mariana at� a foz do rio Doce.
O trabalho � executado pela Funda��o Renova, organiza��o respons�vel pela repara��o e compensa��o dos danos causados pelo desastre sob orienta��o da C�mara T�cnica de Seguran�a H�drica e Qualidade da �gua (CT SHQA), uma das 11 C�maras T�cnicas que integram o Comit� Interfederativo (CIF), coordenado pelo Ibama.
O CIF re�ne representantes dos �rg�os p�blicos e sociedade com a fun��o de orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar a execu��o das medidas de repara��o previstas no Termo de Transa��o e de Ajustamento de Conduta (TTAC), atuando como uma inst�ncia externa e independente da Funda��o Renova.
Somente em 2019, os programas de monitoramento de �gua e sedimentos receberam o investimento de R$ 31,4 milh�es, fomentando a continuidade das a��es na bacia do rio Doce e nas zonas costeira e estuarina.
Do total de pontos monitorados, 56 est�o espalhadas na bacia do rio Doce, outros 36 pontos abrangem a zona costeira. 22 pontos funcionam por meio de monitoramento autom�tico para gerar dados em tempo real, de hora em hora.
Em todos os pontos de monitoramento s�o analisados 80 par�metros, entre f�sicos, qu�micos, e biol�gicos — como turbidez, vaz�o, presen�a de metais, contamina��es por bact�rias e pesticidas — que revelam, de forma confi�vel, a trajet�ria de recupera��o da bacia do rio Doce e geram mais de 3 milh�es de dados por ano.

O trabalho se espelha em algumas das principais pr�ticas de gest�o de �gua desenvolvidas ao redor do mundo e integra equipe multidisciplinar desde a coleta at� a publica��o final das informa��es.
Os �ndices s�o avaliados com base em um hist�rico pr�vio de monitoramento, j� que o rio Doce est� inclu�do no programa �guas de Minas, desde 1997. Trata-se de iniciativa do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (IGAM), que desenvolve an�lises h� mais de 20 anos e que, hoje, s�o utilizadas como refer�ncia para compreender a situa��o da �gua antes e depois do rompimento da barragem.
Para se ter uma ideia, a coleta cont�nua de amostras ajudou a identificar que, ap�s o avan�o dos rejeitos, os �ndices di�rios de turbidez do rio Doce e dos afluentes Gualaxo do Norte e Carmo se mantiveram dentro do limite da legisla��o, em 90% do tempo.
De acordo com Br�gida Maioli, especialista de Programa Socioambiental da Funda��o Renova, os esfor�os realizados nestes quase quatro anos j� d�o ind�cios de recupera��o acentuados.
“Nas an�lises comparativas feitas desde o rompimento da barragem, primeiro com a Samarco e depois com a Renova, � poss�vel perceber que o rio apresenta, hoje, uma condi��o similar ao que era antes do rompimento”, disse.
Ainda segundo Maioli, embora n�o seja poss�vel precisar o tempo que o rio levar� para ficar totalmente limpo, o cen�rio j� � muito melhor que nos anos anteriores, inclusive devido �s a��es de compensa��o da Funda��o Renova.
“Al�m das a��es reparat�rias do que pode ser recuperado, a Renova tem investido nas a��es compensat�rias para a melhoria das condi��es socioambientais como um todo. A Renova mant�m, por exemplo, o Programa de Recupera��o de Nascentes, e reflorestamento com o plantio de esp�cies nativas que v�o al�m do reparat�rio”, afirma.
Apesar das d�vidas frequentes apresentadas pela popula��o sobre a qualidade da �gua, a Funda��o Renova esclarece que a �gua do rio Doce pode ser bebida com seguran�a, desde que seja tratada como qualquer outra �gua captada em rios. Para isso, � necess�rio que o recurso h�drico passe pelos processos padr�es de tratamento nas esta��es antes de chegar at� as torneiras do consumidor.
De olho na seguran�a h�drica
Reduzir o risco de desabastecimento nas 24 localidades dependentes do rio Doce — 17 munic�pios e 7 distritos — tem sido uma das miss�es dos profissionais e institui��es empenhados no planejamento h�drico. Para isso, fontes alternativas foram identificadas e est�o sendo utilizadas como forma complementar � oferta de �gua vinda do rio Doce.
O trabalho envolveu a identifica��o de mananciais aptos para a capta��o alternativa, dentro das necessidades de cada regi�o, englobando a constru��o de adutoras em afluentes e o diagn�stico das Esta��es de Tratamento de �gua (ETAs) espalhadas pelos munic�pios.
Com isso, 13 ETAs foram aperfei�oadas com melhorias e reparos na capta��o, no decantador, filtros e laborat�rios, garantindo a qualidade da �gua distribu�da. Do total, quatro Esta��es de Tratamento de �gua ainda devem passar por novas obras de melhorias. A iniciativa tamb�m construiu e reformou nove adutoras e concluiu 15 Sistemas de Capta��es Alternativas de fontes na superf�cie e subterr�neas.
Entre as adutoras constru�das, � poss�vel citar as instaladas nos rios Pancas e Santa Maria, abastecendo a regi�o de Colatina; a adutora entregue na Lagoa Nova, com capacidade de atender a 50% do consumo da cidade de Linhares (ES); e a nova adutora em constru��o no rio Corrente Grande, entre Periquito e Governador Valadares (MG), com investimentos que se aproximam dos R$ 155 milh�es e previs�o de conclus�o em 2021.

Paralelamente, a Funda��o Renova recuperou 113 afluentes que, agora, ajudam a levar �gua nova e limpa para o rio Doce. Tamb�m est� em andamento projeto que prev� a recupera��o de 5 mil nascentes ao longo de dez anos. Do total, 1050 nascentes j� passaram por processo de restaura��o em Minas Gerais e no Esp�rito Santo.
Indo al�m: participa��o ativa de entidades e comunidades
Independentemente da fonte do recurso, a seguran�a h�drica atrelada ao abastecimento das comunidades requer a passagem obrigat�ria das �guas pelas esta��es de tratamento. Elas s�o administradas pelos �rg�os p�blicos e atuam na remo��o de qualquer res�duo ou contamina��o que possa representar riscos � sa�de da popula��o, um procedimento padr�o em qualquer lugar do mundo.
Por isso, apesar da melhoria nas esta��es e entrega das adutoras, a responsabilidade pela opera��o de abastecimento aos cidad�os continua sendo das entidades p�blicas, a exemplo do SAAE, Copasa e prefeituras municipais, fazendo com que v�rios agentes estejam envolvidos no processo.
A bi�loga, professora e presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce (CBH-Doce), Lucinha Teixeira, destaca que a participa��o popular e de entidades representativas locais � crucial para a efetividade do trabalho.
“Com as a��es de tratamento e monitoramento � poss�vel melhorar a vida da popula��o que est� mais pr�xima do rio. Contudo, � importante fortalecer uma a��o integrada e estrat�gica do poder p�blico municipal, comit�s de bacias hidrogr�ficas, comiss�es de atingidos e demais atores locais em toda a bacia do rio Doce para apresenta��o de demandas que contribuam, de fato, com a melhoria da qualidade de vida da popula��o, melhor qualidade de �gua e recupera��o da biodiversidade”, ressalta.
Ela explica que, para isso, o Comit� tem atuado na articula��o com a comunidade e prefeituras para que as iniciativas e resultados tenham a cara de quem vive na regi�o h� tanto tempo. O CBH-Doce tamb�m trabalha junto � Renova no indicativo das �reas para recupera��o de nascentes, fortalecendo o trabalho de seguran�a e conserva��o h�drica.
Ainda segundo Lucinha, em conflu�ncia �s a��es da Renova, outras entidades t�m atuado com os mesmos objetivos e � importante que haja um alinhamento para evitar a sobreposi��o dos recursos. Os relat�rios s�o disponibilizados para que outros �rg�os ou institui��es possam criar ou fomentar as a��es de melhorias da qualidade de �gua e redu��o de impactos ambientais.
“� necess�rio observar os programas executados por outras institui��es, al�m da Renova, para evitar sobreposi��o de a��es e de recursos. Os comit�s de bacia hidrogr�fica, por exemplo, est�o finalizando diagn�sticos em aproximadamente 6.400 propriedades rurais em Minas Gerais para implanta��o do Programa Rio Vivo (recupera��o de nascentes, saneamento rural e controle de sedimentos – barraginhas, caixas secas, entre outros), em �reas de vulnerabilidade definidas pelo CBH-Doce e Comit�s de Rios Afluentes ao Rio Doce (Piranga, Piracicaba, Santo Ant�nio e Sua�u�)”, frisa a bi�loga.

Transpar�ncia de dados e a��es complementares
Os relat�rios de monitoramento s�o publicados mensalmente no site oficial da Funda��o, garantindo a transpar�ncia do trabalho ao permitir que qualquer cidad�o acompanhe as informa��es geradas, al�m de globaliz�-las com �rg�os p�blicos que regulam e fiscalizam as �guas em todo o pa�s, a exemplo do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam), da Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (Ibama).
Segundo Br�gida Maioli, especialista de Programa Socioambiental da Funda��o Renova, a base de dados mantida pela Funda��o e disponibilizada para toda a popula��o contribui n�o apenas para o acompanhamento da evolu��o dos trabalhos, como tamb�m para que novas iniciativas possam ser criadas a partir da avalia��o dos indicadores.
“Temos hoje uma base de dados robusta e com diferentes indicadores que permitem tanto verificar a evolu��o das a��es quanto a compara��o da qualidade da �gua antes e ap�s o rompimento da barragem”, esclarece Maioli.
Indo al�m do monitoramento, R$ 500 milh�es est�o sendo destinados aos munic�pios como medida compensat�ria obrigat�ria para que invistam em melhorias na coleta e tratamento de esgoto e destina��o adequada de res�duos s�lidos, j� que, segundo informa��es do CBH-Doce, mesmo antes do rompimento, 80% de todo o esgoto gerado pelos munic�pios atingidos eram despejados diretamente no rio.
De acordo com B�rbara Jardim, analista de Programa Socioambiental da Renova, o problema do esgotamento vai al�m dos rejeitos e res�duos levados em fun��o do rompimento da barragem. Contudo, o programa de saneamento da Funda��o Renova, ainda que como medida compensat�ria, ir� beneficiar toda a popula��o das localidades em torno da bacia do rio, de Minas Gerais ao Esp�rito Santo.
A especialista Br�gida Maioli esclarece, ainda, que o despejo de esgoto ao longo da bacia do rio Doce � um problema de pol�tica p�blica cuja solu��o extrapola as atribui��es da Funda��o Renova.
“No entanto, entendemos que investir no tratamento do esgoto e nas a��es para a destina��o correta dos res�duos gerados que chegam ao rio vai trazer melhorias significativas para toda a popula��o”, conclui Maioli.