Atrav�s de um processo de consultoria minucioso busca-se desenvolver as principais potencialidades dos neg�cios, sejam eles formais ou n�o. Em outras palavras, fazer do pequeno empreendimento uma grande oportunidade, apto a conversar em perfeita harmonia com o setor do turismo e da agricultura. E tudo isso gra�as � incuba��o de neg�cios, com vistas a fazer de Brumadinho e regi�o terreno f�rtil para a gera��o de emprego e renda, sem jamais perder suas caracter�sticas originais.
A iniciativa � parte do projeto de requalifica��o de territ�rios, que busca as melhores tecnologias adequadas � preserva��o do meio ambiente, valoriza��o da cultura e o uso de mat�rias-primas locais. A ideia � que essa a��o fortale�a a identidade da popula��o e seja a base da perenidade desse processo, que envolve ainda requalifica��o urban�stica e saneamento b�sico.
O projeto tem a parceria do Instituto Kair�s, que atua na fase de incuba��o e acelera��o de neg�cios que t�m potencial de se desenvolver e crescer. Um dos primeiros neg�cios nesse formato � o restaurante Tempero da Chef e a mercearia Cravo e Canela, da comerciante Ana Paula dos Santos Assis, de 33 anos, nascida e criada em C�rrego do Feij�o.
Ela abriu o restaurante, um sonho de crian�a, com a ajuda do amigo Thiago Badar�, que montou para ela um plano de neg�cios. Depois, com o Kair�s, que percebeu nela potencial para empreendedora local, recebeu a pr�-incuba��o, com diagn�stico, estudo de mercado, melhora da capacidade de compras, cria��o de marca e refinamento do plano de neg�cios.
A mercearia, que funciona no mesmo espa�o do restaurante, ganhou for�a com a pandemia do coronav�rus, j� que os moradores n�o mais precisam se deslocar para Brumadinho para fazer as compras. “Montei a mercearia para n�o deixar o lugar onde moro se perder. A que t�nhamos aqui acabou depois do rompimento da barragem e eu precisava fazer algo para o pessoal n�o desanimar”, conta.
O restaurante tamb�m vai de vento em popa, embora limitado � venda de marmitex no per�odo atual – 100 por dia. “Trabalho de domingo a domingo. Tenho equipe formada e contratei cinco mulheres, uma forma de ajudar meu povo, pois n�o vou permitir que o lugar onde nasci e cresci desapare�a.”
A analista Rosane Biasotto, especialista da �rea de Fomento da Vale, destaca que os neg�cios apoiados t�m suas ra�zes na comunidade e contam com a disposi��o das pessoas para empreender. “S�o pr�ticas e atividades que se desenvolvem a partir do conhecimento da comunidade e do aprimoramento da gest�o, contribuindo para uma maior rentabilidade dos neg�cios e possibilidades de aumento da renda das fam�lias”, afirma.
Mais empreendimentos
Tamb�m est�o sendo selecionados para incuba��o grupos locais que possam desenvolver atividades no espa�o para cozinha-escola e vendas (padaria, pizzaria, confeitaria) a ser instalado no mercado comunit�rio previsto para o C�rrego.
Outros empreendimentos j� instalados no territ�rio tamb�m ser�o incubados, principalmente aqueles ligados � agricultura familiar e de subsist�ncia. “Um dos objetivos de uma repara��o justa � gerar desenvolvimento, permitindo que as pessoas e empresas se reestruturem economicamente. Para isso, foram propostas a��es que fomentem a sustentabilidade dessas regi�es, gerando emprego e renda para sua popula��o. Fomentar neg�cios em Brumadinho � uma das melhores formas de permitir um genu�no incremento para a regi�o deixando legados positivos nestas comunidades”, explica Fl�via Soares.
As mulheres s�o tamb�m protagonistas e t�m perspectiva de crescimento de atividades no Grupo Confio. Elas come�aram a trabalhar com croch� depois do rompimento e a produ��o, que era apenas uma maneira de ocupar o tempo, de conversar, estarem juntas, se tornou janela de neg�cio.
Foi criada a marca e rede social. Hoje elas t�m interesse em melhorar a produ��o para vender os croch�s no mercado comunit�rio e fora dele. E ainda ter�o espa�o apropriado para produzir dentro do futuro Centro de Cultura e Artesanato, cujas obras devem come�ar ainda este ano.
Ideias que valem R$ 1 milh�o
Melhorar a qualidade de vida das comunidades passa, essencialmente, por fortalec�-las. Em Brumadinho, as organiza��es sociais, principalmente das �reas diretamente atingidas pelo rompimento da barragem, passam por processo de qualifica��o, por meio do programa Valorizar cuja inten��o � tamb�m reconhecer projetos e iniciativas desenvolvidas por elas.
Este ano, est�o previstas oficinas e capacita��es em elabora��o de projetos, capta��o de recursos, al�m de outros temas importantes para o terceiro setor. A Vale vai destinar recursos de R$ 1 milh�o para o programa, no ciclo 2020-2021.
O Valorizar existe desde 2013 e ao longo dos anos mudou seu formato para incentivar as institui��es a caminharem de forma aut�noma. Em Brumadinho, ele foi implementado em 2018 e volta este ano, com readequa��es.
Na primeira fase, as organiza��es que se inscreveram v�o aprender, relembrar processos e ganhar novas tecnologias para tratar e executar os temas ligados ao terceiro setor. Na segunda etapa, prevista ainda este ano, ser� lan�ado edital para selecionar projetos que receber�o investimento social da empresa nas de gera��o de trabalho e renda, cultura e turismo, sa�de da comunidade, entre outras.
“� medida que se consegue fortalecer a organiza��o social naquele territ�rio, em paralelo vem uma s�rie de contribui��es que tem impacto nas pol�ticas p�blicas. As organiza��es precisam ser fortalecidas e entender seus direitos. E o Valorizar vem nesse sentido de contribuir com o incremento do capital humano e social”, afirma a analista da Ger�ncia de Fomento Econ�mico, Fernanda Vict�rio.
Ela refor�a o papel das organiza��es, enquanto representantes de determinada comunidade ou grupo. “Espero comunidades mais fortalecidas, mais engajadas, sabedoras de seus direitos enquanto cidad�os. H� muitos processos e pol�ticas p�blicas voltados para a popula��o, inclusive de gera��o de renda e melhora da qualidade de vida, que as pessoas n�o t�m conhecimento. A inser��o, principalmente para Brumadinho, significa resgate cultural e senso de pertencimento ao territ�rio. � importante organiza��es e cidad�os saberem a for�a que t�m.”
A Associa��o dos Catadores do Vale do Paraopeba (Ascavap) se inscreveu para as capacita��es e est� � espera da abertura de editais para capta��o de recursos financeiros, a exemplo de 2018, quando tamb�m participou. Al�m de melhorias nas condi��es dos trabalhadores, um dos pontos s�o as mobiliza��es de conscientiza��o da popula��o de Brumadinho sobre a import�ncia da coleta seletiva.
“As mobiliza��es devem ser cont�nuas e ajudam mais ainda nos trabalhos internos, facilitando a vida dos catadores no seu hor�rio de produ��o”, afirma Priscila Aparecida, segunda-secret�ria da Ascavap.
Segundo ela, parcerias s�o importantes para o andamento e visibilidade da associa��o, al�m de possibilitar a amplia��o dos lugares de coleta. “Os trabalhos feitos na Ascavap s�o de import�ncia social e ambiental, pois retiram do meio ambiente mat�rias que poluem os ecossistemas e que podem ser recicl�veis ou reutiliz�veis”, diz.
Se numa ponta a associa��o ajuda a limpar a cidade, na outra, garante tamb�m aos catadores emprego e gera��o de renda. “As pessoas passam a conhecer mais sobre os recicl�veis, ajudando, assim, a melhorar a coleta seletiva em nossa cidade.”
Batucabrum
Outro projeto envolvendo a comunidade � o Batucabrum. Antes voltado apenas para crian�as de C�rrego do Feij�o, foi estendido a adultos, que participam de aulas de canto, coral e viol�o. As atividades ocorrem no contraturno escolar e ajudam crian�as e jovens a lidar com as perdas do rompimento e a transformar a realidade vivida. Al�m disso, oferece refor�o escolar e suporte para uma alimenta��o saud�vel. O projeto tem hoje a participa��o de cerca 120 alunos e 17 professores.