S�o quase tr�s d�cadas dedicadas � Vale. Dos 51 anos de vida,27 foram passados na empresa, onde atuou em diversas �reas.Esteve no controle de qualidade,opera��o, planejamento, desenho de processos, estrat�gia corporativa e melhoria cont�nua, at� assumir seu novo desafio: a Diretoria Especial de Repara��o e Desenvolvimento. Marcelo Klein foi gerente-executivo de Excel�ncia Operacional de fevereiro de 2013 at� mar�o deste ano e sua atua��o se estendia a todas as unidades da Vale no Brasil e no exterior. O foco no trabalho de desenvolvimento das pessoas, o perfil de escutar os problemas em detalhes, de n�o se conformar com a primeira resposta, al�m de lidar com naturalidade com miss�es complicadas s�o caracter�sticas que o levaram a assumir a mais nova diretoria da empresa, criada para garantir dedica��o �s a��es estruturantes que envolvem a repara��o dos danos causados pelo rompimento da Barragem I, em Brumadinho, e fazer frente aos impactos sociais e econ�micos causados pelo ocorrido.
Formado em engenharia qu�mica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em qu�mica industrial na PUC-RJ, al�m de mestre em ci�ncias dos materiais pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Klein deixou o Esp�rito Santo e veio para Belo Horizonte, onde est� sediada a diretoria. Criado oficialmente no �ltimo 18 de abril, o setor responde por todas as a��es de recupera��o social, humanit�ria, ambiental e estrutural que est�o sendo feitas em Brumadinho e nos munic�pios ao longo do Rio Paraopeba at� a represa de Retiro Baixo, e ainda nas cidades cujas popula��es tiveram que ser evacuadas devido � eleva��o do n�vel de alerta das barragens que abrigam. O diretor afirma que a miss�o envolve, sobretudo, um novo olhar sobre as pessoas no entorno da minera��o. “Brumadinho nos cativa de uma maneira que � quase um chamado. Depois de ver o sofrimento das pessoas, voc� diz:achei um prop�sito novo de vida”, relata. Para Marcelo Klein, � imprescind�vel conhecer as raz�es do rompimento. “Vou levar essa viv�ncia para sempre em minha vida”, diz.
Como come�ou sua rela��o com Brumadinho?
No pr�prio dia do rompimento da barragem, a Vale instalou o gabinete de crise, visando, entre outras quest�es, ao acolhimento das fam�lias atingidas e �s provid�ncias para conter os danos ambientais. No dia seguinte, fui de Vit�ria para Brumadinho como volunt�rio, para ajudar a estruturar alguns fluxos: acolhimento � fam�lia, enfermaria, n�cleo de transporte, suporte a bombeiros etc. Fui fisgado pelo aspecto humano. Recebemos, na primeira semana, fam�lias ainda com esperan�a de encontrar parentes vivos, pessoas querendo entrar na mata, funcion�rios nos-sos dizendo que tinham curso de brigadista e pedindo para que os deix�ssemos atuar nas frentes de buscas, em uma tentativa de encontrar seus parentes. � necess�rio lembrar que a Vale � formada por pessoas, que se solidarizam muito com a dor de cada fam�lia. Atendendo os atingidos e suas fam�lias, refletimos muito e � inevit�vel fazer associa��es de situa-��es com nossas pr�prias fam�lias, nossos filhos, nossos pais, nossos amigos.
Qual o objetivo da Diretoria de Repara��o?
A fun��o da nova diretoria � reparar integralmente os danos �s pessoas, �s comunidades, ao territ�rio e ao meio ambiente, pelo rompimento da barragem no C�rrego do Feij�o e nos locais onde houve evacua��es. A diretoria atua em dois grandes n�cleos territoriais: Brumadinho e a Bacia do Paraopeba, onde a propor��o dos danos foi muito cr�tica, por causa das mortes e do carreamento dos rejeitos, e os munic�pios evacuados preventivamente por conta das barragens em n�vel de alerta 3 – Macacos (distrito de Nova Lima), Bar�o de Cocais e Itabirito.
Como ela � formada?
A diretoria conta com representantes de todas as �reas funcionais da Vale dedicados exclusivamente � miss�o de repara��o. Uma das ger�ncias mais estrat�gicas � a de repara��o social, que cuida do atendimento integral ao atingido, suprindo moradias, indeniza��es, apoio psicossocial. Temos uma ger�ncia de obras de grande porte, que atua na repara��o dos danos ambientais. As obras de menor porte, como a restaura��o e adapta��o de casas para acomoda��o dos desalojados, s�o realizadas pela ger�ncia de infraestrutura. Temos um grupo de suprimentos que acelera os processos de aquisi��o de bens e servi�os e a mobiliza��o de contratos. Contamos tamb�m com um grupo jur�dico robusto. Nossa ger�ncia de sa�de cuida da agenda com as secretarias de Sa�de e com o Minist�rio da Sa�de. Temos um pequeno grupo de rela��es institucionais, na interlocu��o com autoridades nas esferas municipal, estadual e federal. E, por fim, uma equipe de seguran�a patrimonial.
S�o v�rias frentes de atua��o, ent�o?
Sim. E estamos aproveitando os aprendizados da repara��o para melhorar nossos processos e pol�ticas internas. Nos perguntamos sempre: o que � fazer uma boa repara��o? A resposta come�a por uma escuta atenta e emp�tica aos atingidos e continua � medida que cada atingido permita que n�s estejamos ao lado deles.
Quais s�o as principais frentes de trabalho neste momento?
Estamos atuando fortemente na recupera��o da qualidade da �gua, que � monitorada em 66 pontos ao longo da bacia do Paraopeba, e nas obras de engenharia para conten��o dos rejeitos. A frente de apoio psicossocial e o suporte � composi��o das indeniza��es individuais extrajudiciais tamb�m � priorit�ria.Outra frente muito relevante � a retomada produtiva de pequenos agricultores e comerciantes que tiveram suas atividades interrompidas e renda impactada.
Como � o cuidado com as fam�lias?
Temos cuidado especial com alguns grupos espec�ficos, como as pessoas que perderam parentes pr�ximos, como filho, pai, m�e,c�njuge etc. Estamos come�ando a aprofundar este mapeamento, respeitando as fases de luto de cada fam�lia.
Ter� alguma frente direcionada �s crian�as?
Temos um trabalho na Esta��o Conhecimento muito forte em Brumadinho. Estamos ampliando o atendimento de 750 para mil crian�as e jovens. As crian�as estudam de manh� e no per�odo da tarde fazem atividades de esporte, cultura e lazer.
Como � a interlocu��o da diretoria com o alto comando da Vale?
Temos reuni�es toda segunda-feira com a diretoria executiva:o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, e seus executivos diretos; respons�veis pelos neg�cios e pelas fun��es corporativas. Para voc� ter uma ideia da prioridade do assunto, a primeira pauta � a repara��o. Fazemos um briefing de seguran�a e, logo em seguida, relatamos como foi a evolu��o da semana. � uma grande cadeia de ajuda. Do que voc� est� precisando? O que est� faltando? O que n�o est� bom ainda? Que fragilidades apareceram nesta semana? Que problema tomou maior propor��o? � uma nova din�mica que a alta dire��o est� praticando e permite suporte efetivo � repara��o. A l�gica tradicional esperada em uma reuni�o com a diretoria � voc� prestar contas a eles. N�s prestamos contas, mas recebemos muito mais em troca. Nosso presidente tem dito isto: temos que fazer da repara��o o novo modus operandi da empresa.
Na outra ponta, como � a rela��o com os respons�veis diretos pelas minas?
Mantemos interlocu��o frequente com as �reas de opera��o e, em especial, com as �reas de geotecnia, que est�o sendo totalmente recompostas e t�m o grande desafio de resgatar a confiabilidade t�cnica perante os empregados, a opini�o p�blica e a sociedade em geral. Formamos camadas independentes de atua��o, que funcionam como linhas de defesa que se fiscalizam. H� um grupo de geotecnia operacional, e outro mais normativo, em estruturas com atua��o independente, para garantir a discuss�o t�cnica profunda e para que um vigie positivamente o outro.
O que a trag�dia traz como aprendizado para a empresa?
A grande li��o que a repara��o tem me proporcionado � t�o simples quanto: Brumadinho n�o vai passar em branco! Temos a obriga��o moral de proporcionar a repara��o integral aos atingidos, entender e divulgar as causas do rompimento e transformar a Vale em uma empresa melhor, especialmente em sua atua��o social, com um di�logo transparente com as comunidades e com mecanismos efetivos de engajamento social. Qualquer interven��o nos territ�rios onde atuamos precisa ser muito discutida e comunicada com a comunidade. A segunda grande li��o � sobre trazer para o ambiente de trabalho mais sentimento, mais solidariedade, um olhar mais atento �s pessoas.