Declara��o � imprensa da presidenta da Rep�blica, Dilma Rousseff, em conjunto com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama Pal�cio do Planalto, 19 de mar�o de 2011 "Excelent�ssimo senhor Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da Am�rica, Senhoras e senhores integrantes das delega��es dos Estados Unidos da Am�rica e do Brasil, Senhoras e senhores jornalistas, Senhoras e senhores, Senhor presidente Obama, A sua visita ao meu pa�s me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos de nosso povo e honra a hist�rica rela��o entre o Brasil e os Estados Unidos. Carrega tamb�m um forte valor simb�lico. Os povos de nossos pa�ses ergueram as duas maiores democracias das Am�ricas. Ousaram tamb�m levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a constru��o de sociedades mais generosas e harm�nicas. Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz In�cio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer � cena pol�tica e social milh�es de homens e mulheres que viviam � margem dos mais elementares direitos de cidadania. Dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, o senhor � aquele que encontra o nosso pa�s em um momento mais vibrante. A combina��o de uma pol�tica econ�mica s�ria com fundamentos s�lidos e uma estrat�gia consistente de inclus�o fez do nosso pa�s um dos mais din�micos mercados do mundo. Fortalecemos o conte�do renov�vel da nossa matriz energ�tica e avan�amos em pol�ticas ambientais protetoras de nossas importantes reservas florestais e de nossa rica biodiversidade. Todo esse esfor�o, presidente Obama, criou milh�es de empregos e dinamizou regi�es inteiras antes marginalizadas do processo econ�mico. Permitiu ao Brasil superar, com �xito, a mais profunda crise econ�mica da hist�ria recente, mantendo, at� os dias atuais, n�veis recordes de gera��o de postos de trabalho. Mas s�o ainda enormes os nossos desafios. Meu governo, neste momento, se concentra nas tarefas necess�rias para aperfei�oar nosso processo de crescimento e garantir um longo per�odo de prosperidade para o nosso povo. Meu compromisso essencial � com a constru��o de uma sociedade de renda m�dia, assegurando oportunidades educacionais e profissionais para os trabalhadores e para a nossa imensa juventude, garantindo tamb�m um ambiente institucional que impulsione o empreendedorismo e favore�a o investimento produtivo. O meu governo trabalhar� com dedica��o para superar as defici�ncias de infraestrutura, e n�o pouparemos esfor�os para consolidar nossa energia limpa, ativo fundamental do Brasil. Enfim, daremos os passos necess�rios para alcan�ar nosso lugar entre as na��es com desenvolvimento pleno, forte democracia e ampla justi�a social. � aqui, senhor presidente Obama, que enxergo as melhores oportunidades para o avan�o das rela��es entre nossos pa�ses. Acompanho com aten��o e a melhor expectativa seus enormes esfor�os para recuperar a vitalidade da economia americana. Temos assim, como o mundo todo, uma �nica certeza: a de que o povo americano, sob a sua lideran�a, saber� encontrar os melhores caminhos para o futuro dessa grande na��o. A gentileza da sua visita, logo no in�cio do meu governo, e o longo hist�rico de amizade entre nossos povos me permitem avan�ar sobre dois temas que considero centrais nas futuras parcerias que fizermos: a educa��o e a inova��o. Aproximar e avan�ar em nossas experi�ncias educacionais, ampliando nosso interc�mbio e construindo progresso em todas as �reas do conhecimento � uma quest�o chave para o futuro dos nossos pa�ses. Na pesquisa e inova��o, os Estados Unidos alcan�aram as mais extraordin�rias conquistas nas �ltimas d�cadas, favorecendo a produtividade em diferentes setores econ�micos. O Brasil, senhor presidente Obama, est� na fronteira tecnol�gica em algumas importantes �reas, como a gen�tica, a biotecnologia, as fontes renov�veis de energia e a explora��o do petr�leo em �guas profundas. Combinar as nossas mais avan�adas capacidades no campo da pesquisa e da inova��o certamente trar� os melhores frutos para as nossas sociedades. Tomo como exemplo o pr�-sal, a mais recente fronteira alcan�ada pela tecnologia brasileira. Acreditamos que os enormes desafios de cada etapa da explora��o dessas riquezas poder�o reunir uma in�dita conjun��o do conhecimento acumulado pelos nossos melhores centros de pesquisa. Mas, senhor Presidente, se queremos construir uma rela��o de maior profundidade � preciso tamb�m, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradi��es. Preocupam-me em especial os efeitos agudos decorrentes dos desequil�brios econ�micos gerados pela crise recente. Compreendemos o contexto do esfor�o empreendido por seu governo para a retomada da economia americana, algo t�o importante para o mundo. Por�m, todos sabem que medidas de grande vulto provocam mudan�as importantes nas rela��es entre as moedas de todo o mundo. Este processo desgasta as boas pr�ticas econ�micas e empurra pa�ses para a��es protecionistas e defensivas de toda natureza. Somos um pa�s que se esfor�a por sair de anos de baixo desenvolvimento, por isso buscamos rela��es comerciais mais justas e equilibradas. Para n�s � fundamental que sejam rompidas as barreiras que se erguem contra nossos produtos %u2013 etanol, carne bovina, algod�o, suco de laranja, a�o, por exemplo. Para n�s � fundamental que se alarguem as parcerias tecnol�gicas e educacionais, portadoras de futuro. Preocupa-me igualmente a lentid�o das reformas nas institui��es multilaterais que ainda refletem um mundo antigo. Trabalhamos incansavelmente pela reforma na governan�a do Banco Mundial e do FMI. Isso foi feito pelos Estados Unidos e pelo Brasil, em conjunto com outros pa�ses. E saudamos o in�cio das mudan�as empreendidas nestas institui��es, embora ainda que limitadas e tardias, quando olhada a crise econ�mica. Temos propugnado por uma reforma fundamental no desenho da governan�a global: a amplia��o do Conselho de Seguran�a da ONU. Aqui, senhor Presidente, n�o nos move o interesse menor da ocupa��o burocr�tica de espa�os de representa��o. O que nos mobiliza � a certeza que um mundo mais multilateral produzir� benef�cios para a paz e a harmonia entre os povos. Mais ainda, senhor Presidente, nos interessa aprender com os nossos pr�prios erros. Foi preciso uma grav�ssima crise econ�mica para mover o conservadorismo que bloqueava a reforma das institui��es financeiras. No caso da reforma da ONU, temos a oportunidade de nos antecipar. Este pa�s, o Brasil, tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso n�o � algo conjuntural, mas � integrante dos nossos valores: toler�ncia, di�logo, flexibilidade. � princ�pio inscrito na nossa Constitui��o, na nossa hist�ria, na pr�pria natureza do povo brasileiro. Temos orgulho de viver em paz com os nossos dez vizinhos h� mais de um s�culo, agora. H� uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que dever� refor�ar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil est� empenhado na consolida��o de um entorno de paz, seguran�a, democracia, coopera��o e crescimento com justi�a social. Neste ambiente � que deve frutificar as rela��es entre o Brasil e os Estados Unidos. Senhor Presidente, quero dizer-lhe que vejo com muito otimismo nosso futuro comum. No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma ret�rica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre n�s, entre Estados Unidos e Brasil. Uma alian�a entre os nossos dois pa�ses %u2013 sobretudo se ela se pretende estrat�gica %u2013 � uma constru��o. Uma constru��o comum, ali�s, como o senhor mesmo disse no seu pronunciamento sobre o Estado da Na��o. Mas ela tem de ser uma constru��o entre iguais, por mais distintos que sejam esses pa�ses em territ�rio, popula��o, capacidade produtiva ou poderio militar. Somos pa�ses de dimens�es continentais, que trilham o caminho da democracia. Somos multi�tnicos e em nossos territ�rios convivem distintas e ricas culturas. Cada um, a sua maneira, temos o que um poeta brasileiro chamou de %u201Csentimento do mundo%u201D. Sua presen�a no Brasil, senhor Presidente, ser� de enorme valia nessa constru��o que queremos juntos realizar. Uma vez mais, presidente Obama, bem-vindo ao Brasil."