
Os rumos que o Brasil tomaria caso J�nio n�o abdicasse de seu mandato poderiam ser bem diferentes e a democracia brasileira, que dava os primeiros passos, talvez n�o tivesse sido interrompida por mais de 20 anos. Como a hist�ria n�o admite suposi��es e j� se conhecem os fatos que vieram depois da ren�ncia, o que se sobressai hoje s�o as cr�ticas � decis�o do ex-presidente. “J�nio foi respons�vel por um retrocesso sem precedentes para o pa�s. Durante toda a d�cada de 50, existiam rumores de que a democracia n�o teria futuro e sua ren�ncia serviu como um exemplo das correntes mais autorit�rias nas cr�ticas ao modelo que come�ava a ganhar for�a. Ele d� o motivo que os militares esperavam, apontando que o povo brasileiro n�o sabe votar”, explica Jo�o Pinto Furtado, do Departamento de Hist�ria da UFMG.
Sempre mal vestido e despenteado, J�nio conseguiu desenvolver um estilo particular na orat�ria, que lhe rendeu uma ascens�o r�pida na carreira p�blica. Apenas sete anos depois de assumir uma cadeira na C�mara Municipal de S�o Paulo, J�nio se elegeria governador do estado, conquistando apoio entre as classes populares com promessas de moralizar a administra��o. Sua trajet�ria nos cargos p�blicos foi marcada tamb�m pela tentativa constante de construir uma pol�tica externa independente, contrariando interesses das grandes pot�ncias e buscando ampliar as rela��es do Brasil com os estados socialistas.
O jeito diferente de fazer campanha come�ou desde cedo, em um pleito para o Centro Acad�mico da Faculdade de Direito de S�o Paulo, aos 19 anos. Para convencer os colegas de que seria o melhor representante do p�blico universit�rio, J�nio colocou um barril na entrada da escola e, com uma fita colada no chap�u, ficou sentado por v�rios dias pedindo voto. A estrat�gia deu certo, os colegas o elegeram l�der estudantil. As promessas de reden��o nacional por meio de a��es en�rgicas e muitas vezes pouco planejadas foram motivo de turbul�ncias em suas passagens pelos cargos executivos. “Ele n�o tinha seriedade no trato com o eleitorado, mas tinha um carisma muito grande e uma ret�rica impressionante que possibilitou campanhas avassaladoras. No poder, suas gest�es ficaram marcadas tamb�m pelo pouco dom�nio t�cnico e prioridade quase exclusiva no marketing pol�tico”, assinalou Furtado.
Ren�ncia
A mesma rapidez que o levou ao cargo m�ximo do Poder Executivo, marcou seu mandato na Presid�ncia. Menos de sete meses depois de empossado, J�nio Quadros entrega uma carta onde apresentava a decis�o de “car�ter irrevog�vel” de deixar o Planalto. Em documento anexo ao pedido de ren�ncia, entregue no Minist�rio da Justi�a, o ex-presidente explicou os motivos que o levaram a tomar a atitude inesperada. “Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, neste sonho, a corrup��o, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e �s ambi��es. Sinto-me, por�m, esmagado. For�as terr�veis levantam-se contra mim e me intrigam e difamam”, diz a nota.
“Uma das explica��es para sua decis�o de abandonar a Presid�ncia � que o ato seria uma tentativa simulada de conseguir ades�o popular e que seus eleitores se mobilizassem pela sua volta, o que daria for�a em sua rela��o com o Congresso. Mas ele foi surpreendido pela agilidade dos parlamentares, que no mesmo dia aceitaram sua sa�da”, diz Furtado. Apesar da passagem r�pida pela governo federal, o sucessor de Juscelino Kubitschek foi autor de leis pol�micas, como a proibi��o das brigas de galo, o uso de lan�a-perfume nos bailes de carnaval e at� mesmo o de mai�s “cavados”, que seriam chamados anos depois de biqu�nis. As medidas inusitadas tinham como desculpa conseguir um “saneamento moral do pa�s”, segundo o pr�prio J�nio.
Trajet�ria
1947
Eleito vereador em S�o Paulo
O n�mero de votos que recebeu pelo PDC foi insuficiente para sua elei��o, mas a suspens�o do registro do PCB provocou a convoca��o dos suplentes
1950
Eleito deputado estadual
Apostando sempre em seu estilo particular de orat�ria, assume a lideran�a do PDC na Assembleia
1953
Eleito prefeito de S�o Paulo
Candidato pelo PDC, J�nio ganhou apoio tamb�m do PSB e outras legendas populares, vencendo com larga margem
1954
Eleito governador de S�o Paulo
Antes de completar o mandato de prefeito, J�nio deixa o cargo para se candidatar ao governo do estado
1961
Em 31 de janeiro , toma posse como Presidente da Rep�blica. Na elei��o, derrotou o general Lott e Adhemar de Barros
Em 18 de agosto, condecorou o ent�o ministro da Economia de Cuba, Che Guevara, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, provocando indigna��o dos conservadores. Em 25 de agosto, menos de sete meses depois de assumir o cargo, J�nio entrega a carta de ren�ncia ao Congresso Nacional
1964
Tem os direitos pol�ticos cassados
1985
Eleito prefeito de S�o Paulo
No in�cio da d�cada de 1980, ingressou oficialmente no PTB e foi derrotado nas elei��es para o governo do estado em 1982. Tr�s anos depois, se elegeu prefeito, superando Fernando Henrique Cardoso, que alguns dias antes sentou na cadeira de prefeito para ser fotografado. Seu primeiro ato ao tomar posse, em janeiro de 1986, foi desinfetar a cadeira
1992
Faleceu em S�o Paulo
J�nio morreu aos 75 anos em S�o Paulo, depois de grave crise respirat�ria e circulat�ria