
O confronto entre oper�rios da Usiminas e soldados do Ex�rcito em outubro de 1963, que ficou conhecido como Massacre de Ipatinga e foi uma das primeiras demonstra��es de repres�lia por parte dos militares, que mais tarde passariam a ser comuns em todo o pa�s durante a ditadura, ser� o ponto de partida para um trabalho de recupera��o da mem�ria oper�ria e popular da regi�o. O novo Centro de Documenta��o e Mem�ria, apresentado ontem no Vale do A�o pela Associa��o dos Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais (Atamig), foi desenvolvido em parceria com o Instituto Pauline Reischstul (IPR), de Belo Horizonte, e financiado pelo Minist�rio da Justi�a. Ele pretende reunir documentos e promover a��es para recuperar relatos e imagens de um evento que deixou pelo menos 30 mortos e cerca de 3 mil feridos.
“Queremos recuperar um material maior da d�cada de 1960 e 1970, muitos registros particulares que podem servir para que todos passem a conhecer melhor essa hist�ria. Mesmo com o passar do tempo, os envolvidos s�o procurados frequentemente por estudantes e pesquisadores que tentam entender melhor o que aconteceu. Mas n�o existia ainda um espa�o para esse fim”, diz Ivo Jos�, diretor da Atamig. A expectativa dos organizadores � de que, at� o fim do ano, o arquivo consiga recolher aproximadamente 25 mil documentos, entre fotos, grava��es de fitas e diversos registros pessoais. Grande parte de documentos que j� est�o sendo reunidos no novo centro foram obtidos no Arquivo P�blico Nacional, no Rio de Janeiro.
Depois do tratamento e organiza��o do acervo, o material recuperado ser� digitalizado e ficar� dispon�vel em um website aberto � consulta p�blica. O suporte de profissionais especializados na �rea de pesquisa ficar� a cargo do Instituto Pauline Reichstul, criado em 2003, em homenagem � militante de nacionalidade tcheca que veio para o Brasil se dedicar � luta contra a ditadura militar no in�cio da d�cada de 1970 e foi torturada e assassinada por militares aos 25 anos, junto com outros cinco integrantes do movimento.
“Nosso grupo traz no nome uma das figuras importantes na luta contra a repress�o no Brasil e quando fomos procurados para participar desse projeto sentimos a necessidade de fortalecer um trabalho para retomar hist�rias que n�o podem ficar esquecidas para as novas gera��es. A ideia � justamente incorporar um material novo sobre um evento que j� � muito conhecido, mas que tem quest�es ainda em aberto, e podemos levantar detalhes importantes para toda uma mem�ria da regi�o”, explica Pedro Moreira, presidente do IPR.
O MASSACRE
Meses antes do golpe que deu in�cio aos 21 anos de ditadura, os oper�rios do setor metal�rgico no interior mineiro j� viviam na pele a realidade de repress�o por parte de autoridades policiais e dif�ceis condi��es de trabalho. Em 6 de outubro de 1963, no fim da jornada de trabalho, a determina��o de revistas na sa�da da empresa acirrou os �nimos entre os oper�rios. Segundos os relatos j� documentados, a pol�cia foi chamada para garantir que n�o ocorreriam tumultos, mas a a��o truculenta acabou deixando o clima ainda mais tenso entre os oper�rios, que teriam sido espancados.
A not�cia da a��o policial circulou entre os trabalhadores e no dia seguinte cerca de 3 mil oper�rios foram at� os port�es da Usiminas, pedindo a retirada da pol�cia e a substitui��o da equipe de vigil�ncia. A resposta foi ainda mais dura, com um caminh�o da Pol�cia Militar enviado ao local, com militares armados e ordens de n�o negociar com os oper�rios. O confronto resultou na morte de v�rios trabalhadores – h� controv�rsias sobre o resultado tr�gico do confronto, mas os relatos da �poca apontam 30 mortos e cerca de 3 mil feridos.
Entenda o caso
Em 7 de outubro de 1963, no distrito de Ipatinga, ent�o munic�pio de Coronel Fabriciano, militares entraram em confronto com funcion�rios da sider�rgica Usiminas, revoltados com as m�s condi��es de trabalho e a humilha��o sofrida ao serem revistados na entrada e na sa�da da empresa.
A tens�o culminou com a PM, que cuidava da vigil�ncia patrimonial da Usiminas, �quela �poca uma empresa estatal, sob as ordens do governador mineiro Magalh�es Pinto, atirando com metralhadoras contra oper�rios desarmados que se manifestavam na portaria.
Oficialmente, oito pessoas teriam morrido, inclusive uma crian�a no colo de sua m�e, e 80 ficado feridas. Mas dados extraoficiais, at� hoje n�o confirmados, apontam mais de 30 mortos no confronto. Houve relatos de at� 3 mil feridos.
O desencontro de informa��es sobre esses n�meros era tamanho que o padre Abdala Jorge, do distrito de Tim�teo, que tamb�m fazia parte de Coronel Fabriciano, revelou, � �poca, que teria contado pessoalmente 11 cad�veres no Hospital Nossa Senhora do Carmo (atual Hospital Unimed, em Fabriciano) para onde foram levadas as v�timas.