
Enquanto os envolvidos no maior esc�ndalo da hist�ria pol�tica brasileira podem estar em vias de cumprir penas na cadeia, depois da condena��o em s�rie pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quatro dos parlamentares que ganharam notoriedade durante a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) dos Correios – que investigou o mensal�o em 2005 – vivem dias de gl�ria. Em janeiro, v�o assumir as prefeituras de importantes capitais brasileiras: Arthur Virg�lio Neto (PSDB) em Manaus, ACM Neto (DEM) em Salvador, Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba e Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro. Eles se tornaram estrelas do mundo pol�tico atuando pela puni��o dos envolvidos no esquema de compra de votos no Congresso. Agora, sete anos depois, medem as palavras antes de falar sobre os condenados. Assumem os cargos com uma lupa da sociedade sobre si por terem atuado na revela��o das provas que ajudaram nas condena��es no maior julgamento penal da hist�ria do STF sobre um caso de corrup��o.
Os quatro chegam ao Executivo com hist�rias diferentes. Um dos mais exaltados cr�ticos, que ganhou os holofotes – � �poca era l�der do PSDB no Senado –, Arthur Virg�lio se elegeu prefeito de Manaus derrotando a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que teve o ex-presidente Lula em seu palanque. A briga particular com o ex-presidente foi tensa. Lula encarou como projeto pessoal derrotar Virg�lio na capital amazonense. Isso porque desde as den�ncias do mensal�o o tucano o atacou por todos os flancos. Chegou inclusive a amea�ar o petista com uma surra.
ACM Neto tamb�m continuou na oposi��o. Derrotou em Salvador Nelson Pelegrino, do PT. Na campanha, se desculpou por um epis�dio da CPI explorado pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) na campanha do advers�rio. � que durante as investiga��es, o democrata disse que a Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia (Abin) o estaria grampeando e que, a exemplo de Arthur Virg�lio, tamb�m seria capaz de dar uma surra em Lula. Agora eleito, o discurso � outro: diz buscar uma rela��o harmoniosa com a presidente Dilma Rousseff.
Gustavo Fruet e Eduardo Paes tiveram trajet�rias diferentes. Ambos eram do PSDB e migraram para partidos aliados do PT nacionalmente. Fruet foi para o PDT para disputar a Prefeitura de Curitiba e venceu Ratinho Junior (PSC) com o apoio do PT de Lula. Eduardo Paes aderiu ao PMDB sob protestos em outubro de 2007, quando era secret�rio do governo do peemedebista S�rgio Cabral no Rio. Em sua reelei��o para a Prefeitura do Rio de Janeiro, Paes, que em 2005 chegou a sugerir que os caras-pintadas voltassem �s ruas (em refer�ncia ao processo de revolta popular que levou ao impeachment de Collor), teve fartas apari��es de Lula e da presidente Dilma Rousseff (PT) em sua propaganda eleitoral.
Como sub-relator de movimenta��es financeiras da CPI, Fruet na �poca disse que tentar negar o mensal�o do PT era tentar negar os fatos. Hoje, n�o se importa em ter o PT como aliado. “O mundo n�o � t�o simples, como se fosse dividido entre partidos do bem e do mal. � um pouco mais complexo. A realidade dos munic�pios � totalmente diferente da nacional”, disse ao Estado de Minas. O agora prefeito eleito de Curitiba afirmou que jamais se poderia projetar naquela �poca o futuro dos colegas de CPI e acredita que todos cumpriram os seus pap�is. “Tem uma trajet�ria de luta e supera��o de todos que vai contra a ideia da s�ndrome da CPI, de que ela sempre prejudica quem participa”, afirmou.
Sobre o resultado do julgamento, Fruet afirmou lamentar que tudo tenha chegado a esse ponto e ressaltou o fato de o Brasil ter uma decis�o que agora servir� de jurisprud�ncia para casos de corrup��o. At� por isso, ele diz estar ciente da sua responsabilidade. “� muito maior. J� na primeira reuni�o com os secret�rios vou me lembrar de dizer isso, que n�o podemos dar margem a qualquer irregularidade. Se algu�m cometer um erro, ser� imediatamente afastado”, prev�.
Obriga��es Arthur Virg�lio garante que continua opositor do PT, mas admite que as rela��es ter�o de mudar, j� que � prefeito eleito de Manaus. “Agora, a preocupa��o n�o � tanto fazer oposi��o e sim governar. Quero ter uma rela��o correta e republicana com a presidente Dilma, porque ela tem obriga��es com Manaus e eu tenho obriga��es com Manaus. Ent�o, vamos ver a melhor forma de cumprir com elas juntos”, disse ao EM. Para ele, ACM Neto, que tamb�m n�o mudou de partido, n�o cometeu vacilos na campanha eleitoral. J� sobre Fruet e Paes, que tiveram apoio dos petistas, ele preferiu n�o comentar.
O ex-senador afirmou ainda que sua fala sobre dar uma surra no ex-presidente Lula foi deturpada. Na �poca, segundo ele, havia uma amea�a de forjar um flagra de drogas no carro de sua filha e, ao pedir provid�ncia sobre o caso no Senado, a petista que presidia a reuni�o n�o deu o cr�dito devido � den�ncia. “Foi ent�o que perguntei se ela queria que eu fosse a Manaus dar uma surra nos respons�veis e falei que, pela minha filha, sou capaz de dar uma surra at� no presidente da Rep�blica”. Virg�lio tamb�m evita o clima de triunfo sobre o julgamento do mensal�o. “Nenhum sentimento menor, nenhum sentimento negativo ou de vingan�a, mas de dever cumprido sim”, afirma. O prefeito eleito considera o momento comovente e diz que o Brasil se destaca no cen�rio internacional. “Dos Brics (Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul), somos aquele pa�s que no conjunto tem institui��es mais s�lidas e isso ficou provado agora”, afirmou.
Por onde andam
Delc�dio Amaral (PT/MS)
O petista, que foi presidente da CPI dos Correios, continua atuando como senador. � cotado para concorrer ao governo do Mato Grosso do Sul em 2014. Participou das campanhas petistas no seu estado e apoiou o vencedor na capital, Campo Grande, Alcides Bernal (PP).
Osmar Serraglio (PMDB/PR)
Relator da CPI dos Correios que balizou as acusa��es da Procuradoria Geral da Rep�blica, entregou o texto final sobre o mensal�o no in�cio de 2006. Em 2009, tentou ser presidente da C�mara dos Deputados, mas acabou abandonando a candidatura em favor de Michel Temer. Atualmente � deputado federal.
Voc� se lembra?
"Foi delega��o do Lula. A incompet�ncia e a omiss�o �s vezes fazem um mal para o Brasil pior do que a corrup��o. E sob esse aspecto, o presidente � respons�vel sim" - Gustavo Fruet, em agosto de 2005, em entrevista sobre a CPI dos Correios
"Lula sabe de tudo. A sede da quadrilha do mensal�o � o Pal�cio do Planalto" - Eduardo Paes, em agosto de 2006, durante a CPI do mensal�o
"Estou dizendo aqui que, na melhor das hip�teses, senhor Lula, o senhor � um idiota; na pior, o senhor � um corrupto. Chega dessa hist�ria de Lula n�o saber das coisas" - Arthur Virg�lio, em 14 de julho 2005, da tribuna do Senado
"O presidente da Rep�blica, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virg�lio, tomar� uma surra" - ACM Neto, em novembro de 2005